quarta-feira, 15 de setembro de 2010

um copia e cola num belo texto sobre Onde Vivem Os Monstros


No site Multiplot, Thiago Duarte escreveu um belo texto sobre o filme Onde Vivem Os Monstos. Achei muito bom, resolvi reproduzi-lo aqui, em parte porque estou atrasado pra aula e não dá pra gastar o tempo necessário pra produzir um texto que preste, em parte porque as impressões dele são parecidas com as minhas.

Quando criança, tinha uma goiabeira em casa. O Fernando ia lá, depois da aula, e junto com o meu irmão a gente brincava de bicho. Eu era o morcego, o Fernando era a raposa e eu nem lebro mais o que o meu irmão era. Acho que oscilava entre um lobo e um leão, não me lembro. E eram tantas aventuras, tantos perigos. E as vezes nós éramos X-men, e tínhamos que lutar contra as sentinelas. Eu, o Wolverine, o Fernando Ciclope e o Jefferson Gambit. Tudo bem, no fim da tarde o mundo estava novamente em paz graças aos nossos esforços.

Tempo bom.

Se fico pensando muito, dá uma vontade danada de chorar.

Quando eu vejo o filme do Kaufman, choro feito criança que perdeu a mãe.

Choro por mim, pelo Fernando, pelo meu irmão. Pela distância que nos separa, pelas alegrias fixas numa moldura do passado, por toda a felicidade de um tempo inegavelmente perdido, só recuperado através da memória.

Segue então o texto:

"Esse filme causou um efeito estranho comigo, o primeiro acho que a palavra mais certa é agradecimento, ao Jonze, por ter conseguido algo que eu ainda não tinha visto no cinema, que é a perfeição em transformar em imagem todo o universo fantástico que é a mente de uma criança, esse universo que não tem limites. Foi uma viagem mesmo ao meu próprio imaginário, de quanto tinha uns 5, 6 anos, da época em que tudo ganhava outra conotação, outra dimenssão, onde formas comuns poderiam ganhar tons fantásticos, onde lugares comuns poderiam se transformar em cavernas, castelos, fortalezas submarinas e etc, e isso sem ao menos precisar fechar os olhos. Onde a brincadeira se torna tão real que por vezes tu se emociona com ela, tu fica com medo dela. E o legal mesmo é que ele não filma isso de uma forma superficial, no sentido de apenas entregar a idéia, não, ele realmente se entrega, ele faz algo semelhante ao Lynch quando puxa seus pesadelos pra tela, só que aqui regressa até a infância e puxa os sonhos (e até pesadelos) da forma mais fiel possível, que é transbordando pureza, que é realmente entendendo o imaginário de uma criança. E monstrando em imagens isso.

E tem o outro efeito que causou em mim, que eu não vou chegar a dizer que é desagradável, mas sim estranho. É o afastamento, o quanto distante aquilo que eu vejo na tela está com o que eu me tornei hoje. Quando eu saí do cinema falei pra minha amiga que se eu tivesse assistido esse filme com os meus 5 anos, seria o filme da minha vida, mas agora, pensando melhor, eu acho que ele é justamente pra quem já passou por isso, uma última oportunidade que o Jonze te da de relembrar o teu inconsciente infantil. E falo relembrar mesmo, não viver, e é por isso que digo que é estranho. Pq tu entra nesse universo com o cinismo que tu adquiriu, um certo cinismo que fica impossível desvincular. Tu sorri enquanto vê eles brincando de guerra de lama, ou construindo uma fortaleza com pedaços de árvore, mas não se emociona da forma que se emocionaria caso ainda fosse uma criança, no sentido de desejar estar vivendo aquele momento. O que tu sente é semelhante a olhar uma gravação antiga tua, criança, em um churrasco de familia, na piscina, etc, só que aqui ele filma o que não poderia ser filmado, o que tu lembra vagamente em ter “passado”, em ter “existido”, mas não poderia ter sido feito por um registro de câmera. Bom, agora ele fez.

Repetindo, eu ainda não tinha visto isso no cinema. Poderia citar A História Sem Fim como um filme que se aproxima nesse sentido, mas não, o que acontece nesse aqui transcende tudo isso. Esse filme tem que ser respeitado."

Thiago Duarte

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