quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

sobre sonhos e apropriações indevidas

Eu tava moscando no orkut, esperando a transferência de um filme japonês no computador pro pendrive, quando topei com um recado do Harry na página de recados do Caio. Achei tão sensacional que vou tomar a liberdade de reproduzi-lo aqui. Como eu sei que o Harry lê esse blog, vou esperar pra que ele mesmo descubra que estou reproduzindo um recado particular dele aqui. Enfim, é pra isso que servem os amigos, né.

"Cara, hoje sonhei que um reitor x tava apresentando um projeto de um novo campus x e certas politicas x que me desagradavam profundamente num salão x da universidade.

Aí eu disse "odeio essa merda" e biquei a mesa que tinha a maquete, que caiu, sabe-se lá como sobre a maquete, esmigalhando-a, e juntei "alias, odeio o reitor"…

e é aí que começa a parte legal do sonho. Eu peguei uma cadeira pra bater nele, mas ele pegou uma também. Estudamo-nos por alguns momentos (o kamai dele com a cadeira lembrava muito um haso-se-vier-pra-cima-te-dou-uma-cadeirada), então eu travei as pernas da minha cadeira na cadeira dele, disputamos na força por algumas frações de segundo e então eu mandei um chutão no saco dele. Ele sentiu, eu o desarmei, joguei a minha cadeira longe e o destrui no kenpo contra a parede.

Sem mais, feliz natal!"

***

E continuando com o assunto sonho, hoje eu sonhei que estava jogando bola representando o Corinthians num terreno onde tinha uma casa em construção. Um lugar típico onde a molecada costumava brincar no tempo em que eu era criança. Só que no sonho, ao invés de bola, se jogava futebol com uma barata. E, pôxa, como era difícil dominar a barata e chutar pro gol. E o pior é que só tinha eu no meu time, jogando contra várias outras pessoas. Daí teve uma hora que eu comecei a ficar mór bom, e a fazer vários gols. Pouco depois eu acordei.

***

E então de manhã eu me dei conta que estava deprimido. E sabia que a coisa só iria piorar durante o dia. Resolvi tomar as rédeas da situação: peguei o busão e fui ao cinema. O filme? Tron - O Legado. Ótimo filme, trilha sonora espetacular e o 3D tava uma maravilha. Chorei em várias partes do filme, o que confirmou minhas suspeitas matinais sobre minha baixa hormonal. Afinal, logo antes dos trailers, naquela série do Johnson's Baby onde as mães ficam falando de bebês, eu já estava limpando lágrimas na manga da blusa.

***

Idéia genial da semana:
um blog, chamado "1001 Coisas Estúpidas Para Se Fazer Antes de Morrer"

Coisa Estúpida Numero 1: criar um blog chamado 1001 Coisas Estúpidas Para Se Fazer Antes de Morrer.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Cinema - História e Linguagem

Em fevereiro de 2011 terá início o curso Cinema - História e Linguagem, ministrado por mim mesmo, William, aqui em Barão Geraldo. Os encontros serão semanais, com quatro horas cada. O curso está dividido em dois semestres, o primeiro abrangendo o cinema clássico, enquanto o foco do segundo é o cinema moderno e contemporâneo.

À seguir, listo o plano de aulas, que será composta sempre da exibição de um filme seguida de exposição teórica.

Ainda não me decidi sobre em quais dias serão ministrado o curso.
A mensalidade será de 25 reais.

1 - Introdução
Objetivos e método do curso. A lanterna mágica e as experiências pré-cinema. O cinema como arte tecnológica e com origem popular.

2 - O Primeiro Cinema
Lumière, Méliès e o surgimento do cinema em fins do séc. XIX
Apresentação de diversos filmes ingleses, franceses e americanos do final do séc XIX e início do XX.

3 - D. W. Griffith e o Surgimento da Linguagem Clássica
Filme: Lírios Partidos

4 - O Cinema Soviético
Filme: O Encouraçado Potemkin, Sergei Eisenstein
A experiência Kulechov. A Montagem estrutural de Pudovkin. Dziga Vertov e o documentário.

5 - Escola Alemã 1
Filme: Gabinete do Dr. Caligari, Robert Wiene
F. W. Murnau, G. Wilhelm Pabs

6 - Erich Von Stroheim e o Naturalismo Americano

Filme: A Marcha Nupcial

7 - Escola Alemã 2
Filme: M - O Vampiro de Dusseldorf, Fritz Lang

8 - Hollywood, a Formação da Indústria e dos Gêneros. O Policial.
Filme: Fúria Sanguinária, Raoul Walsh

9 - John Ford
Filme: No Tempo das Diligências

10 - Ernst Lubitsch e a Comédia
Filme: Ser ou Não Ser
Os grandes comediantes: Charlie Chaplin, Buster Keaton, Max Linder, Irmãos Marx, Jerry Lewis.

11 - O Faroeste
Filme: E o Sangue Semeou a Terra, Anthony Mann
Caráter histórico e mitológico do gênero. Decadência e Western Spaguetti.

12 - Jean Renoir
Filme: A Besta Humana

13 - Howard Hawks
Filme: Levada da Breca

14 - Alfred Hitchcock
Filme: Frenezi

15 - Yasujiro Ozu
Filme: Bom Dia
As tradições do cinema japonês, desde o mudo. Kenji Mizoguchi.

16 - Douglas Sirk e o Melodrama
Filme: Palavras ao Vento

17 - Akira Kurosawa
Filme: Rashomon
O Cinema japonês do pós guerra. Naguisa Oshima, Shohei Imamura.

18 - A crise de 1930 e o filme B
Filme: Gun Crazy - Mortalmente Perigosa, Joseph H. Lewis
Roger Corman e Val Lewton.

19 - Brasil 1 - O Classicismo
Filme: Ganga Bruta, Humberto Mauro
Surgimento do cinema no Brasil. Os Ciclos Regionais. Mário Peixoto.

20 - Billy Wilder
Filme: Crepúsculo dos Deuses
O filme Noir e suas decorrências

21 - Sayativa Ray e Bollywood
Filme: O Mundo de Apu
O modo de produção do cinema indiano. Bollywood e sua casta de astros. Os musicais.

22 - O Documentário 1
Filme: Nanook - O Esquimó, Robert J. Flaherty
O que é o documentário? Robert Drew e o cinema direto. Jean Rouch e a etnografia.

23 - Orson Welles e a Modernidade
Filme: Cidadão Kane

24 - Roberto Rossellini e o Neo-Realismo
Filme: Alemanha - Ano Zero

25 - A Crítica Francesa no Pós-Guerra
Filme: Mônica e o Desejo, Ingmar Bergman
A evolução do pensamento crítico. A Segunda Guerra e a Cinefilia. O surgimento da Cinemateca. O cineclubismo. Os "Cahiers du Cinéma".

26 - A Crise no Sonho Americano : A Geração do Pós-Guerra
Filme: Anjo do Mal, Samuel Fuller
A América da maturidade: Nicholas Ray, Elia Kazan

27 - Depois do Neo-Realismo : Antonioni
Filme: O Grito

28 - Nouvelle Vague 1 - François Truffaut
Filme: Os Incompreendidos

29 - Nouvelle Vague 2 - Alain Resnais
Filme: Hiroshima Meu Amor

30 - Nouvelle Vague 3 - Jean-Luc Godard
Filme: Weekend à Francesa

31 - Brasil 2 - A Era Moderna
Filme: Deus e o Diabo na Terra do Sol
O cinema brasileiro e a busca de legitimidade a partir dos anos 40: Atlândida e Vera Cruz. O cinema novo e sua relação com a técnica.

32 - Clint Eastwood e o Cinema Contemporâneo
Filme: Os Imperdoáveis
A crise do moderno e o retorno à narratividade. Hollywood e a introdução do Blockbuster.

33 - O Documentário 2
Filme: Santiago, João Moreira Salles
O documentário brasileiro e seu grande mestre: Eduardo Coutinho. Michael Moore e o sucesso de público. O debate contemporâneo sobre o documentário.

34 - Abbas Kiarostami
Filme: Onde fica a casa do meu Amigo?
O cinema iraniano. Jafar Panahi, Mohsen Makhmalbaf

35 - David Cronenberg
Filme: eXisteZ

36 - Quentin Tarantino
Filme: À Prova de Morte

37 - David Lynch
Filme: Mulholland Drive - Cidade dos Sonhos

38 - Cinema Brasileiro 3
Filme: O Bandido da Luz Vermelha
Cinema marginal, cinefilia e cinema popular. A Embrafilme. A Era Collor. O cinema da retomada.

uma tirinha que ninguém vai conseguir ler, só se clicar encima e ficar aumentando

Se vc tiver realmente curioso pra saber que tirinha é essa, clique nela, e depois aumente a imagem. Acho que vale a pena. Já ouvi algumas coisas parecidas com essas.
Que bom, né?



Só acho que eu consigo mascarar minha timidez, me fazendo de autoconfiante.

merda.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Scarlett & Eu #3

Estou deitado na minha cama, já passam das duas da manhã. Estou na metade do primeiro capítulo da biografia do Woody Allen, um lançamento já esgotado da Cia das Letras que eu vitoriosamente consegui num sebo, junto com um livro da Brasiliense que analisa todos os filmes do Akira Kurossawa.

Então alguém bate na porta.

- Will
- Entra uai. Quem é?

Após um empurrão na porta eu quase caio no chão de tanta surpresa. É a Scarlett Johansson, minha ex-namorada imaginária que nunca mais retornou meus emails.



- Oh, deus, Scarlett! O que você tá fazendo aqui?!
- Posso entrar?
- Claro que pode. Meu, você tá toda molhada. Tá chovendo lá fora?
- Muito.
- Você tava correndo?
- Sim. Precisava muito te ver.
- Pq?, aconteceu alguma coisa?
- Saudades...
- E...?
- É, bem, eu e o Ryan terminamos nosso casamento.
- O Ryan Reynolds te largou?! Que burro.
- Ei, ele não me largou! Nós terminamos...
- Ok, que seja. Mas você não me parece tão feliz.
- Vc sabe que finais de ano me deixam deprimida.
- Sim, eu sei. Eu também me deprimo muito entre o natal e o ano novo.
- Queria saber se posso passar a noite aqui com você.

[meu coração quase tem um treco quando meu cérebro processa essa informação. Me concentro sobrehumanamente para não ter um infarto fulminante]

- Claro que pode, querida. Vai tomar um banho, desse jeito vc vai ficar gripada.
- Tem uma toalha aí?
- Usa a minha. Já tá seca.

E assim a Scarlett Johansson, a mulher que esnobou o meu amor e me abandonou a alguns meses, vai tomar banho ali no meu banheiro. Eu me sento na beirada da cama, ainda me esforçando pra digerir todas aquelas informações. Uns quinze minutos depois ela reaparece, enrolada na toalha.

- Toc toc
- E aí, melhor?
- Ah, maravilhoso. Nada melhor que um banho bem quente pra tirar o stress.
- Bom. Tá afim de comer alguma coisa?
- Não, jantei não faz muito tempo assim. Estava na casa de uma tia, aqui em Barão.
- Ok.
- Você tem alguma roupa pra me emprestar? É que na correria eu não trouxe nada.
- Sim, sim, peraê.

Passo então meu samba canção e minha camiseta do sonic youth pra ela.

- Agora vira pra lá que eu vou me vestir.

Eu viro pro outro lado pra ela colocar a roupa. Os vidros da janela são espelhados, então eu também fecho o olho. Enquanto estou de olhos fechados, penso que deveria mantê-los abertos. Mas aí já é tarde demais.

- Scarlett, na real, o que você tá fazendo aqui?
- Eu já disse. Estou deprimida e carente, e fiquei com vontade te ver.
- Mas, mas,... não faz sentido. Você é um fruto da minha imaginação. Você não existe de verdade.
- Uau, essa não é a coisa mais gentil e romântica pra me dizer, mas tudo bem.
- Sério, vc é minha namorada imaginária. Eu achei que tivesse superado isso.
- Aparentemente não superou, não é mesmo. Pensa bem, fofinho: eu sou fruto da sua imaginação. Portanto, quem me trouxe aqui foi você mesmo.

Puxa vida, ela tinha razão!

- É, você tem razão.

Ela se aproxima, fazendo carinha de manha.

- Você não gosta mais da sua Scarlett?
- G-g-gosto sim.
- Eu posso deitar com você hoje?
- Anrã...
- E como é que tá o meu amigão aqui de baixo?
- Com saudades.
- Uau, ele cresceu einh! Aposto que tá morrendo de saudade da amiguinha dele. Aposto que ele tá louquinho pra brincar.

Ela, ainda com a mão dentro da minha calça, agarra meus cabelos com a outra mão e quase arranca meus beiços com aqueles beijos desesperados e tempestuosos.

[ok, ok, vou parar por aqui. Nada de ficar trepando com namoradas imaginárias. Isso dá uma deprê da porra!]

sobre o meu natal de dois mil e dez

Eu tinha certeza que esse natal iria ser terrível, totalmente depressivo.

Meus dois últimos natais foram maravilhosos, e sempre achei que fossem insuperáveis.

Bem, insuperáveis eles realmente são. Mas até que o natal desse ano foi divertido. E isso graças ao Caio, que me levou pra ceia de natal da família dele. Do contrário, ficaria em casa, trancado no meu quarto, vendo filmes franceses ou lendo a biografia do Woody Allen escrita pelo Eric Lax.

E foi isso. No dia 23 o Caio e eu fomos ao hospital pq ele estava mal, mas acabamos fugindo de lá, já que ele não queria tomar remédios.

E no dia 24 estávamos em Sousas, comendo como se o mundo fosse acabar nos minutos seguintes. Hahahahhah, ganhei até uma camiseta do primo dele. A parte ruim é que esqueci meu celular, portanto, não adianta ligar pro Bill nos próximos dias...

Agora é só esperar.

Amanhã o trabalho na locadora recomeça.

Droga.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

"gosto de livros
não sei escrevê-los
mas sei amá-los"

A Fidelidade, de Andrzej Zulawski, 2000.

Ver um filme do Zulawski é sempre uma experiência dolorosa pra mim. É como ter que lidar com um término de relacionamento. São sempre filmes sobre o amor. Sobre o fim do amor, ou o recomeço do amor.

Mas, cara, como dói!

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

sobre as últimas notícias

Então eu vomitei, tive febre, pesadelos bizarros, uma dor de cabeça inédita e terrível, dor no corpo e aquele sentimento patético de impotência. Fui pra casa da mamãe, tomei sopa e chazinho, fui ao médico, tomei injeção na bunda, peguei atestado e a dor de cabeça ainda me matando.

As hipóteses eram variadas.
Mas daí, assim, meio do nada, me veio o motivo.
A porra do meu siso tá nascendo!
O filha da puta do dentista não quis tirá-lo no início do ano, e agora o bastardo tá rasgando minha gengiva e a minha cabeça.

Odeio me foder tanto...

***

Daí dia desses eu tava no busão, indo pro centro resolver umas paradas lá na prefeitura, quando entra um tiozinho e deixa esse papelzinho com cada um dos passageiros do ônibus. Tipo, o cara é muito, muito fudido.



No fim eu fiquei pensando, três filhas gêmeas são tipo seis filhas??

***

Ontem eu tava trabalhando na locadora.
Não costumo escrever sobre o que acontece lá, pq detesto gente que fica falando mal do lugar onde trabalha, ou dos clientes que atende no lugar onde trabalha. Mas esse caso é especial, e fiquei com vontade de escrever sobre isso.

O cara chegou com dois filmes, atrasados 4 dias. Disse que pagaria um, mas não o outro, pois o disco estava com defeito e ele não conseguiu assistir. Verifiquei a mídia, e constatei que o disco estava quebrado. O filme era Antes Que o Diabo Saiba que Você Está Morto, do Sidney Lumet. Um filme excepcional. Então verifiquei a data de locação e pedi um minuto ao cliente. Procurei a nota da locação, com a assinatura dele e o nome do funcionário que o havia atendido. Chamei a funcionária, mostrei o disco e, na frente dele, perguntei se ela havia locado o filme naquele estado. A resposta foi negativa e ela disse que o filme foi locado em perfeitas condições.

- Negativo, meu amigo. Você tá dizendo que eu quebrei o filme?
- Todos os funcionários conferem o disco, senhor. Ele não foi locado desse jeito.
- E agora eu me ferro por isso!
- Eu vou apenas cobrar o valor do atraso, não vou cobrar o filme.
- Vc não tá entendendo. Eu vou pagar o filme que eu assisti. Não vou pagar o outro.
- Tudo bem, o débito vai ficar aqui na sua ficha.
- Vou pagar só um. Eu não sou palhaço não, entendeu.
- E eu tampouco sou palhaço.
[nesse hora ele me dá cinquenta reais e eu devolvo vinte a ele. o boleto é impresso]
- Quer saber, cobra tudo aí que eu não quero encheção de saco.

Foi nessa hora que eu fiquei puto, peguei o boleto de pagamento, amassei, virei as costas e saí, jogando o papel na cara do cliente. Joguei água na cara, na cabeça e fiquei um tempo sozinho pra me acalmar.

Mas não é esse o ponto, isso acontece com muita frequência lá.
Quero falar sobre o que rolou depois.

Passaram-se, sei lá, uma, uma hora e meia. Uma funcionária me chama no escritório, dizendo que é telefone pra mim. E que quem está na linha é o cliente que tava causando. Achei meio bizarro, e fui ver qualé que era.

- Alô?
- Sim?
- Quem fala?
- William.
- Então William, aqui quem fala é o ******, eu estive aí a pouco tempo e acabei me excedendo, dizendo e fazendo coisas que eu não deveria ter dito e feito, eu poderia ter resolvido tudo com uma conversa civilizada, mas infelizmente fiz uma tempestade num copo d´água. Eu estou ligando pra pedir desculpas pela minha atitude, eu tive um dia bem estressante e acabei descontando em você, que estava só seguindo o protocolo da empresa. Então eu queria te pedir perdão mesmo, cara, pq eu não deveria ter feito o que eu fiz.
- Pôxa, eu agradeço mesmo pelo pedido de desculpas. Peço desculpas também, já que minha atitude não foi das melhores.
- Magina, cara, vc tava seguindo o protocolo da empresa.
- Ok
- Então, William, boa tarde pra vc e um ótimo natal.
- Brigado, pra vc também.

E foi isso, mano, tipo, a coisa mais normal do mundo é ver gente fazendo cagada, mas pouquíssimas pessoas assumem as cagadas que fazem. Paguei um pau forte praquele cara, porque ele não fez um bem somente a mim, ele fez um bem pra ele mesmo. Tipo, ele deve ter ficado bem mais aliviado depois de ter pedido desculpas.

Legal, né?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

cinefilia

Desde ontem que eu estou muito, muito podre. Vomitando, com dificuldades pra dormir, com febre e uma dor de cabeça filhadaputa. Tomei uma neosaldina, e torço pra que esteja passando.

Mesmo assim, não pude deixar de rir à beça com esse vídeo.



O comercial do telecine é:
Cinco rapazes talentosos, unidos, em prol da alegria e do cinema.
O que é cult? O que é pop? Tudo é um estado de felicidade.
E tudo o que é cinema, está aqui no Telecine.

domingo, 19 de dezembro de 2010

um pouco de tragédia pra começar o domingo

Quase nem tive tempo direito de arrumar minhas coisas na casa nova, mas já havia um ótimo motivo pra aparecer por lá, além do Caio, Bruna, Joana e Enio.

Era o Dexter, nosso gatinho de estimação.

O Dexter é um filhote serelepe, curioso e bagunçeiro. Um grande e incansável explorador, assim como a maioria dos gatinhos filhotes.

Faz muitos anos que meu último gato de estimação morreu, envenenado pelo vizinho. Já tinha me esquecido do prazer e da alegria de chegar do trabalho e ser recebido por aquele bichinho arrogante e manhoso, sempre em busca de colo, comida e carinho.

O lugar do Dexter no meu coração idiota já estava reservado.

E então hoje eu acordei, fiz almoço [arroz e bife] e fui ver o blog do jesusmanero. Daí a Joana chega com uma cara terrível.

- Já vistes o que aconteceu com o gato?
- Quê?
- Já vistes o que aconteceu com o gato?
- Como assim, que que aconteceu?
- Pulou no vizinho, oras, os cachorros mataram.

Temos vizinhos. E os vizinhos tem dois cachorros, cuja função é latir insanamente pra qualquer coisa que se aproxime do perímetro do muro. A função é basicamente matar qualquer coisa que entre ali.

O Dexter não tinha função. Ele brincava, comia e dormia. Acho que era feliz assim.

Enfim, subi as escadas que levam ao andar de cima e olhei pro lado do vizinho. O gato estava lá, no chão, inerte. Os mosquitos já se acumulavam encima dele. Foi um negócio ruim de se ver.

Desci, peguei umas sacolas e um pano. Fui até o vizinho. Bati e ninguem atendeu. Só os cachorros latiam, enquanto olhavam no fundo dos meus olhos.

O cara que mora na frente disse pra eu tentar na casa ao lado, onde mora uma velha senhora benzedeira. Fui lá, e após a velha benzer um recém nascido que dormia no colo da mãe, disse.

- Tudo bem? A senhora sabe quem mora aqui do lado?
- O terreno do lado é do rapaz que mora aqui nos fundos. Sobre o que se trata?
- E que eu sou o vizinho aqui do lado, e o nosso gatinho pulou no terreno e os cachorros mataram. Então eu vim saber se posso pegar o corpo, pra enterrar.
- Só um minutinho.

Em pouquissimo tempo chegou um cara da minha idade, mas branco e barrigudo, junto com sua namorada baixinha e loira. Pareciam se boa gente. Expliquei a estória pra eles.

- Mas você viu ele caindo aqui do lado?
- Não, foi a menina que mora em casa que me falou que o gato tinha caído.
- Vc viu ele?
- Arrã, dei uma olhada pelo muro e vi, acho que não foi mordido nem nada.
- Péra um pouquinho que eu pego lá pra você.

Então eu fiquei com a velha, esperando.

- Ah, fio, não tem jeito. Caiu ali os cachorros matam mesmo. Mas com um terrenão desses, se não botar cachorro não dá pra ter nada, em pouco tempo já roubam tudo.
- É, né.

A loirinha aparece com uma cara de dó, segurando uma sacolinha, com o Dexter morto, duro, lá dentro. O rapaz comenta que é estranho, pq a cachorra, quando mata passarinhos ou ratos, leva a caça até a porta, pra mostrar pros donos. Mas com o gato foi diferente, eles deixaram ele lá.

Agradeci a atenção, desejei um bom dia e fui pra casa. Avisei as meninas que havia pego o corpo e perguntei se havia algum problema se eu o enterrasse no quintal. Não houve protesto da parte delas.

Fui pra porta do Caio e da Bruna, dar a notícia. Bati e esperei, com o coração palpitando de tensão. Apareceram na sala.

- E aí Will, beleza?
- Ah, na real nem tanto
- O que aconteceu?
- O Dexter tá com vocês?
- Não. Cadê ele?
- Então, deu merda.
- Ele fugiu?
- Ele morreu?
- É, ele morreu. Pulou ali no vizinho e os carrochos mataram. Foi buscar o corpo, já. Desculpa acordar vcs pra dizer isso, mesmo, mas achei melhor.
- Normal, fez bem.

Então eles foram prum canto, eu fui pro outro. Minutos depois vou falar com o Caio.

- Então cara, tava pensando em enterrar o Dexter ali no quintal.
- Enterrar...? Sei lá, a gente podia só mandar embora. É que eu não tenho esse costume de enterrar os mortos, saca.
- Sei lá, eu tive uma educação cristã, acharia desrespeitoso se a gente não enterrasse ele.
- Ah, de boa, então vamo lá.

Então eu e meu amigo judeu buscamos uma pazinha de jardinagem e fomos ao quintal. Tiramos um tufo de grama, abrimos um buraco na terra. O Caio buscou o Dexter, examinando-o.

- Ele não tem marca de mordida, nem de queda. Só tá com sangue nos ouvidos.
- O cara do lado achou estranho a cachorra não ter levado ele até a porta, como costuma fazer com os outros bichos que mata.
- Ah cara, mas nenhum animal gosta de matar filhotes. É mór bédi. Por isso ele são bonitinhos e fofinhos, é uma defesa natural.

Acomodamos o corpo do gato nas entranhas da terra.

Duro, feio, sem vida.

Cobrimos com terra e botamos a grama por cima.

Fui ao banheiro para lavar a mão.

Não havia sabonete.




segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

sobre como fazer o melhor show do Matanza

Aí vai, passo a passo, pra vocês não se perderem.

1 - Tenha um bar.

2 - Seja louco o bastante pra negociar com o empresário dos caras.

3 - Informe seus sócios que a brincadeira sairá por dez mil dinheiros.

4 - Venda 230 ingressos a trinta reais cada [e não tenha misericóridia, se sua mãe quiser ver Matanza, no seu bar, ela dever pagar ingresso; se Jesus Cristo quiser entrar VIP, diga não, só com convite pago].

5 - Tenha pesadelos com a noite do show, e cague nas calças todo o dia em que pensar em todas as coisas terríveis que podem acontecer no dia do show [a polícia aparecer, acabar a luz, queimar equipamento, a banda ser forgada pra caraio, rolar briga, queimar o freezer, e blablabla].

6 - Apareça na noite do show e leve gatorade, cerveja normal e sem álcool, uma garrafa de red label, sanduiches, docer e frutas pro camarim da banda. Ah, e não se esqueça do ventilador.


7 - Não economize dinheiro com seguranças. Se é pra tomar preju, que pelo menos não seja preju com morte no bar.

8 - Bote muita música irlandesa e system of a down na discotecagem antes do show, pra engambelar a galera que fica reclamando pro show começar logo.

9 - Borre as calças novamente ao ver meia dúzia de skinheads dando rolê de suspensórios e pedindo cerveja a você. Pense "putaquipariu, agora fudeu".


10 - Faltando dez minutos pra começar o show, alivie um pouco a tensão ao ver a banda chegando e a galera indo ao delírio.

11 - Restitua o brilho nos olhos ao ver os caras saindo do camarim, tomando suas posições e botando pra foder, numa sucessão initerrupta de grandes sucessos pra ouvir, beber e brigar.


12 - Entre em êxtase ao ver o Jimmy dizer "eu estou gostando desse lugar. essas luzer vermelhas me fazem lembrar de um certo clube..."

13 - Veja o mesmo Jimmy incentivar as mulheres a subir no palco, e não desgrude os olhos das duas garotas que sobem, tiram a camisa e começam a se pegar enquanto a galera quase tem orgasmos de puro rocknroll.


14 - Nessa hora já pode ficar tranquilo e relaxar. Os carecas tão ali curtindo de boa, a cerveja tá saindo bem e a banda tá dando o seu melhor, mesmo com o palco pequeno e o calor infernal. Curta quase uma hora e meia de Matanza e tome uma cerveja gelada.

15 - No final, tire uma foto com o Jimmy e agradeça sinceramente pelo show, e preste muita atenção quando ele disser "eu é que agradeço".


16 - Por fim, sinta-se muito orgulhoso. Passe o resto da noite conversando com os camaradas sobre como esse foi o show mais foda que já rolou no seu bar.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

sobre amenidades

Às vezes eu vejo minha vida como um épico de epicidade épica, como num quadrinho do Scott Pilgrim. Às vezes minha vida é uma caminhada a esmo por caminhos que não levam a lugar nenhum, num mundo marcado pela desilusão e pela ausência de Deus, como num filme do Antonioni. Às vezes [mais raramente] eu me vejo no meio de mulheres a beira de um ataque de nervos, me fodendo gratuitamente graças a hormônios e bipolaridades que me assustam e me atraem mais que o Lado Negro da Força. Às vezes é só sofrimento mesmo, ainda por cima em preto e branco, como um daqueles Bergman´s do pós guerra. Em momentos melhores há mesas de restaurantes, conversas interessantes e problemas deliciosamente complicados que me fazem encher o peito de vida e me sentir orgulhosíssimo de ser humano, como num filme do Woody Allen. Em outras vezes eu quero vomitar e morrer, que é o que sinto quando leio o Crumb, o Mutarelli ou mesmo o Palahniuk. Nesses momentos eu tenho vergonha e me sinto fraco de fazer parte de algo tão podre quanto a raça humana.


Às vezes eu acordo, olho no espelho, e não sei se meu cabelo tá mais pra Eraserhead, Class Act ou Gerald do Ei Arnold.

***

Hoje é feriado, o que significa que uma galera não vai trabalhar [eu vou, virei escravo do trabalho já faz um tempinho]. Então pensei em escrever alguma coisa, pra galera que costuma ler esse blog. Faz um tempinho que eu botei um contador aqui, pra saber quantas visitas recebia. Fiquei empolgado, pq uma galera estava entrando. Só que, analisando melhor, percebi que às vezes, num dia, só recebia visitas num post, aquele em que eu falo sobre o pornô. Gente que fica pesquisando putaria no google acaba caindo por aqui, já que coloquei aquelas fotos de capinhas de filmes de sacanagem. Isso me deixa muito puto, me sinto enganado, achei que um monte de gente me lia, mas na real devem ser aquelas 6 ou 7 pessoas. Mas pensando bem, essas 6 ou 7 são pessoas muito queridas, e me basta ser lido por elas.

Mas que esse contador me zôa, ah se zôa!

***

Tenho novidades incrivelvente incríveis.

Depois de morar por quase 1 ano naquele ninho de rato que eu adoro [g8a], estou mudando pra casa do Caio. Ontem ele me mostrou a foto do gatinho que o pessoal da casa adotou, o Dexter. E semana que vem o irmão dele chega. Ah, sinto tanta falta de ter um bicho desses de estimação. Não vejo a hora de sair de samba canção do quarto e trombar com os miados estridentes pedindo comida. Ter um gato é parte fundamental daquilo que chamo felicidade.


[Caio e eu nas ruas de Lisboa]

***

A Luiza, além de manter o poético e divertido Evasão de Privacidade, quebrou a pernas dias desses. Ou trincou, não me lembro agora o que realmente aconteceu. O que importa é que gessos, seja em perna ou braço, sempre foi algo fascinante e misterioso pra mim. Sempre fui uma criança comportada e nunca quebrei nenhum osso. Quando algum coleguinha ia pra escola com o braço suspenso por aquele trapo branco, num visual meio Mumm-Ra, rolava uma certa inveja ao ver as meninas querendo preencher o espaço branco com seus nomes, em caligrafias pomposas e exageradas.

Infelizmente, nunca quebrei um braço, ou perna.

Acho um absurdo, portanto, a Luiza não fazer um diário do gesso da perna. Quero saber mais sobre como é ter um gesso, sobre as coisas engraçadas e também sobre as coisas nogentas.

Enfim, minha reclamação e pedidos já estão registrados.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

TEBAATUSASULA

Eu juro que estou tentando me concentrar e concluir o meu trabalho sobre a Carmem Miranda, mas quando me deparo com esta pérola do cinema de ação de Uganda, não há concentração que resista!

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

sobre histórias que consolam

O celular vibrou dentro de sua bolsa, fazendo com que o compensado de madeira da mesa onde estava posta emitisse aquele conhecido som gago e tremelicante.

Era mensagem.

Tiago dizia que a turma do trabalho iria prum happy hour após o expediente, comemorar o aniversário de uma das meninas. Queria que a companheira estivesse por lá também.

A resposta da mensagem dizia sim, eu apareço, e terminava com um eu te amo muito.

Cláudia estava com 26 anos e se orgulhava de estar na metade do financiamento do seu apartamento, de ter um bom emprego e de já ter quitado seu Gol modelo 2002. Havia também seu namorado Tiago, corretor de imóveis, dois anos mais velho que ela e dono de um corpo que faria inveja a Dwayne The Rock Johnson.

Nunca suportou homem magrelos. Quando jovem, sempre buscou a proteção de braços musculosos, a segurança de peitorais largos e malhados, a pressão de pernas fortes e definidas. Enchia a boca ao dizer às amigas "gosto de homem com h maiúsculo". Sempre evitou os tipos intelectuais, daqueles que usam óculos de aro grosso, só falam de livros e filmes que ela desconhece ou de bandas que ela nunca supôs que pudessem existir. Sempre desconfiou que essas demonstrações de inteligência escondiam algo, talvez uma psicopatia, talvez uma doença contagiosa, ou quem sabe um pinto pequeno.

A dois anos conheceu Tiago no casamento de uma de suas primas. Minutos após se conhecerem estavam trocando palavras, horas depois trocavam telefones, e nos dias seguintes trocavam beijos e carícias, pra então trocarem afagos, juras, gozos, palpitações, enroscos e sussuros ao pé do ouvido.

Ao fim de mais uma dia maçante no escritório de advocacia, Claudia encontrou seu homem no bar onde costumava comemorar com os colegas de trabalho. Ele estava alegre. Bebia um chope atrás do outro. Ela estava com uma leve dor de cabeça. Preocupações profissionais.

Foi ao banheiro pra um xixizinho e uma retocada na maquiagem. Ao sair, deu de cara com o namorado de cara fechada e bufando.

o que aconteceu amor?
o que aconteceu o caralho. que porra é essa de ficar de graça com o jorge?
quê?!
eu vi o jeito que vc olhava pra ele.
do quê você tá falando, amor?
aposto que vc estava esperando ele te seguir pro banheiro, né.
meu...
é isso? vc quer dar praquele idiota do jorge?
cara, vc bebeu demais, vamo embora
nada disso!

E assim, meio que sem querer querendo, no meio desse embróglio causado pelo álcool, pelo ciúme e pela pequena quantidade de cocaína, o grosso braço do rapaz percorreu um arco à sua frente, desferindo um triste, pesado e chocante tapa no belo rosto de sua namorada.

Um filete de sangue começou a escorrer.

Ela tremia.

Ele se deu conta da merda que fez e sua expressão mudou para o arrependimento total. Ajoelhava e pedia perdão à garota, que entrou novamente no banheiro, chorou um pouco, lavou o rosto e foi embora pra casa.

Passou a noite sem conseguir dormir. Só conseguia pensar no súbito acesso de fúria de seu, até então, pacato namorado. O celular tocava a todo instante. Era ele, provavelmente querendo o perdão da mulher. Por volta das quatro e meia da manhã, sua mente se iluminou. Amava demais o namorado e não ia perdê-lo por nada. Por nada.

Acordou e antes de ir ao trabalho foi até a lojinha de brinquedos.

No escritório, um buquê de flores a esperava, junto com um cartão. Me desculpe amor, pelo que fiz ontem. Eu te amo, não sei viver sem você. Ela ligou e disse aparece em casa lá pras nove. Às nove ele tocava o interfone.

Ao chegar, encontrou a mesa posta e a namorada de braços abertos. Pediu perdão pelo que tinha acontecido ontem, não sabia o que havia com ele, e ela só dizia, esquece isso, o importante é que nos amamos, só isso, agora vamos comer. Na mesa havia salmão assado e arroz com legumes, acompanhado de um argentino Tinto Cabernet Sauvignon. Comeram.

Ela se deliciava ao ver aquele sujeiro forte como um touro lutando contra o sono, após taças e taças e vinho tinto com valium. Por fim foi vencido. Apagou.

Acordou na cama, nu, com as mãos e os pés amarrados no estrado da cama.

Olhou pro lado e viu Cláudia nua, os cabelos amarrados, os peitos firmes e arrebitados, o olhar lascivo e ansioso. Estranhou ao ver a namorada afivelar aquele estranho cinto por cima da calcinha. O que seria aquilo? Foi então que gelou ao ve-la retirar um pinto grosso e verde de borracha da bolsa, e fixá-lo no cinto. Começou a se debater e tentou gritar, mas ainda estava grogue por causa do remédio.

Ela passava lubrificante na pirocona verde fosforescente, se masturbando com prazer, percorrendo cada ondulação daquele brinquedinho que a dotava de tanto poder. Mordia o lábio e estremecia de tesão, enquanto antecipava mentalmente o que estava a minutos de concretizar. Enrabar o namorado.

Entrou com alguma dificuldade, ele urrou, se debateu, mas depois que entrou tudo, se resignou, limitando-se a gemer e se contorcer. Enquanto movimentava a pélvis pra frente e pra trás, notou a ereção do namorado. Teve vontade de desamarrá-lo, mas teve medo. Enquanto comia seu cuzinho malhado e sarado ela desenvoltamente lhe tocou uma punheta. Em pouco tempo ele esporrou e ela sorriu.

Saiu de dentro dele e resolveu desamarrá-lo. Ele tremia e ofegava, e quando se viu livre das amarras abraçou sua mulher com todo o amor que é possível de se ter. Soluçou baixinho entre os seios suados de Cláudia.

Os dois continuam juntos.

De vez em quando, sem nada dizer, ele dá um tapinha de leve no rosto dela e vai até o quarto.

Ela sorri, e vai até o armário, em busca de seus brinquedos, cada vez mais numerosos.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

[sobre coisas que ouvimos por aí...]

Estava recolhendo as roupas sujas do quarto das crianças. Numa mão ia o cesto, e a outra recolhia as peças espalhadas pelo quarto. Acabara de acordar do colhilo pós almoço e precisava trabalhar pra espantar a preguiça. A televisão estava ligada numa reprise de novela, a qual ela não acompranhava, mas o som da tevê a dispunha para os afazeres de casa. Seu menino estava brincando com o coleguinha no quintal, e a caçula estava na creche. Ao chegar na pequena área coberta onde ficava o tanquinho, uma conversa infantil sussurrada a fez ficar mais atenta. Se aproximando do vitrô aberto que dava prum canto do quintal cheio de plantas e árvores, notou que as crianças estavam logo abaixo da janela, tendo uma conversa que ela julgou bastante estranha.

O vizinho de 7 anos dizia ao seu filho:

"vamo lá. ninguém vai ver. a gente vai ali no cantinho"
"não, deixa quieto"
"ninguém vai ver a gente não. vamo"
"credo, mas é nojento"
"é nada, é legal"
"quero não"
"vamo lá"

Achou aquela história de vamo-não-vamo um negócio estranhíssimo. Sua curiosidade foi atiçada. "Onde será que essa história vai dar?" Continuou ali, imóvel, apurando os ouvidos pra tentar ouvir mais. Em vão. Não ouvia mais nenhuma das duas crianças conversando. Deixou então a roupa no chão e foi ao quintal, o mais silenciosa que pôde. Ao chegar no canto do muro, a mulher negra quase ficou amarela pelo que viu. Seu filho estava em pé, sem calças, com as pernas abertas e com o braço direito passando por entre elas, segurando o pintinho do amiguinho. O vizinho, que tinha o pipi agarrado, estava atrás do menino, abrindo sua bunda e com a cara enfiada no meio.

Aos berros a mulher enlouquecido vôou em cima dos carotos, distribuindo chutes e tapas. As crianças tremiam e choravam, os narizes sangravam. Agarrando o vizinho a mulher sai de casa e começa a berrar na rua. A cara do menino fedia a merda.

"seu demônio! seu muleque maldito. Chama a sua mãe agora"

A mãe do vizinho aparece na rua, assustada.

"é isso que eu recebo por deixar seu filho brincar com o meu?! Fica aí ensinando perversidade pro meu menino"

"o que aconteceu?"

A mulher, em meio a choros e gritos, narra o acontecido pra vizinha que parece cada vez mais envergonhada.

"olha, eu peço mil desculpas pelo que aconteceu. Mas queria te pedir pra não espalhar essa história por aí. Sabe o que é, é que aqui em casa só tem um quarto, então as vezes o menino tem que dormir com a gente. E sabe como é, pode ser que ele tenha visto algo que não deveria ter visto"

Achando aquilo demais pra sua cabeça, a mulher voltou pra casa bufando. Cortou um pequeno galho de laranjeira e deu mais uma surra no filho, dizendo que aquilo era pra ele aprender a ser homem. Logo em seguida foi na casa de cada vizinho e contou que o filho daquela ali do lado era um moleque perverso, que havia entrado na sua casa e feito coisas terríveis e grotescas.

Ficou duas semanas sem conseguir transar com o marido.