segunda-feira, 20 de setembro de 2010

amarcord

Eu me lembro.

Ou melhor, me lembrei.

A lembrança veio assim, na surdina, meio que do nada.

Foi semana passada. Estava no trabalho. Me lembrei da primeira vez que quis fazer filmes. Eu tinha uns 7 ou 8 anos, estava assistindo o filme A Casa Maluca, de 1990, na globo. Me lembro de uma cena no interior de um carro, onde tinha um gato preto que vomitava em todo mundo. As situações do filme me deixaram numa euforia tal que eu não me continha e ficava repetindo pra mim mesmo "preciso ter isso no meu filme".

Mas na época eu já era um fã devoto de Indiana Jones. Via até a série que passava aos domingos, As Aventuras do Jovem Indiana Jones. Os filmes do James Bond só vieram na pré-adolescência.

Mas a lembrança não era essa, era outra. Me lembro que fui com meus pais pra casa de um amigo deles (pelo pouco que lembro, era um amigo do papai). Almoçamos lá. E então eu acho que ele foi mostrar a casa, sei lá, o importante é que fomos pra sala e eu fiquei maravilhado com o que vi. Uma fita de vídeo de um filme novíssimo, que só passaria na tevê daqui muito tempo. Talvez seja o Robocop 2, não me lembro bem. Me recordo do sujeito dizer, num indisfarcável orgulho "todo final de semana nós vamos à locadora e pegamos um vídeo diferente. É muito bom, porque dá pra ver o filme quantas vezes quiser".

Fiquei maravilhado com aquela possibilidade. Poder ver filmes quando quiser, sem precisar implorar pra ficar acordado até tarde esperando terminar o Topa Tudo por Dinheiro. Eu disse então pra mamãe "a gente pode vir aqui ver um filme na semana que vem?" e ela dizendo "pára menino", porque eu estava claramente os envergonhando. Eu queria ver um filme naquela hora. Queria morar naquela casa. Só pra poder usufruir daquele aparelho mágico: o vídeo cassete.

Demorou muito até o papai resolver comprar um vídeo, eu já tinha uns 14 anos.

Acho que essa história é de alguma forma emblemática da carência de imagens que eu tinha na minha infância.

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