quarta-feira, 31 de outubro de 2007

linha(s) curta(s)

Pense num pobre diabo que gosta de uma menina. O moleque não agüenta mais os "nãos" da garota. Ele então, legitimamente, resolve comprar um 38, apontar pra cara dela e dizer: "me beija agora!". Ora, se eu tivesse na pele dela, não pensaria muito, tascaria logo um beijo na boca do maluco. E é o que ela faz. O namoro tem início, o cara enfim consegue o que tanto queria. Mas a guria o desprezará para o resto de seus dias.

Hoje eu peguei o busão pra ir no centro, fazer minha tatoo. Depois eu rumaria pra Unicamp, pra fazer a prova de latim. Filas gigantescas no terminal Ouro Verde. Nada de busão. Passa o 1.22 e eu corro pra pegá-lo. Sorte. Fico sabendo mais pra frente que está rolando paralização dos ônibus, em Campinas. A reinvidicação é legítima: os radares estão se multiplicando, e os ônibus estão sendo multados com muita frequência. O valor é descontado da folha de pagamento dos motoristas. Chegando na Av. Jõao Jorge, o busão pára. Caralho, deve ter uns 30 a 40 ônibus na avenida. Todos tem que descer. Há muita gente velha, que nem consegue andar direito. Já na calçada, vejo 3 mães, cada um com o seu bebê no colo, descendo de outro ônibus. Observando a paralização mais lá na frente, vejo muita mulher batendo boca com motoristas e cobradores. Os passageiros estão putos, e nem adianta o motô vir mostrar a matéria do Notícias Já, dizendo que o busão ia parar. Vou à pé pro estúdio. No caminho, penso que a população deveria ter mais solidariedade para com os outros trabalhadores. O egoísmo infelizmente impera em nossa sociedade. São poucas as pessoas que enxergam a sociedade como uma grande engrenagem, onde cada peça sofre quando outra é danificada. Mas, pôrra, mandar a galera descer do busão no meio do caminho??? Precisava agir daquele jeito? Dá pra se ter legitimidade assim? Não dava ao menos pra avisar o povo que tava rolando greve, e que a linha seria interrompida na metade? Aposto que muitos nem subiriam no ônibus.

Vejo mais tarde, no jornal, que a greve já teve fim. Ótimo pros motoristas e pros cobradores. Eles conseguiram o que tanto queriam. Mas nunca terão o apoio da maioria da população. Dela, os cobradores e os motoristas só conseguirão seu mais profundo desprezo.

enxerto

Perdi as contas de quantas vezes discuti ou falei do tropa de elite. O bacana é que pude, nesse meio tempo, me aprofundar em algumas questões que sempre me angustiaram, questões essas de carárer prático, ou seja, diferentes do que estou acostumado a estudar no curso de filosofia. :)

Mas vamos lá. Senti a necessidade de acrescentar ou reformular algumas considerações feitas no post anterior. Com relação ao heroísmo do cap. Nascimento, acho natural as pessoas sentirem isso. O público sente-se vingado por ele. Lançando mão mais uma vez do Godfather, em 1972 os EUA tinham acabado de sair do escândalo Watergate, e da guerra do Vietnã. A população não confiava mais em seus governantes. Daí aparece um filme sobre um grupo extremamente reacionário, que rouba e mata, mas possui condutas tradicionais imutáveis, e são fiéis a ela. Isso seduziu a América, era o que eles precisavam. Contudo, mesmo entendendo isso, continuo não achando o cap. Nascimento um herói. O filme não diz isso. A crise no personagem do Wagner Moura, que começa quando seu filho está pra nascer, é clara o bastante, mas parece que a galera não quer ver. O nascimento começa a entender que ter uma família é incompatível com aquele tipo de vida. Aliás, seu maior orgulho é não ter se corrompido, mas se isso fosse realmente verdade ele não teria motivo para se sentir tão mal no Bope. Acontece que, agindo de acordo com a farda preta, ele já se corrompeu, corrompeu sua humanidade. Deixa de ser humano e passa a agir como um animal. Não há nada de glorioso nisso.

Achei lamentável o artigo publicado pelo Luciano Huck na Folha de São Paulo. Em primeiro lugar, ele não é um cidadão comum. Em segundo, porque diabos ele só se preocupa com segurança pública quando é roubado? Enquanto o vidro blindado funciona, que se fodam os outros, né. E em terceiro lugar, não me parece certo se utilizar de um meio de informação pra fazer uma queixa pessoal. Tipo "vou desabafar". Porra, pior que isso só a resposta do Ferréz, que disse que foi bem feito o Hulk ter sido roubado, e que o bandido que o roubou tava era certo. O foda é que o cara conseguiu o que queria: apareceu na capa da Isto É (eu cago pra Isto É), sob o título "as celebridades não podem expressar o que sentem?", ou algo que o valha, numa reportagem que só tinha o intuito de socorrer o queridinho da Globo. É foda perceber que segurança pública só chama a atenção da mídia quando uma celebridade é assaltada, ou sequestrada. Daí me vem a Veja (reduto caquético de uma direita arcaica), com um policial do Bope na capa, e o título "Por quê Tropa de Elite é o maior sucesso do cinema brasileiro? Porque trata bandido como bandido, e o consumidor de droga como sócio do crime organizado". Ah, vá pra puta que o pariu!!!

Mudando um pouco de assunto, gostaria de reproduzir um trecho de uma resposta dada pelo Padilha, numa sabatina organizada pela Folha.
"A idéia era tentar descobrir como policiais vêem a violência. Existe um discurso padrão que explica os altos índices de violência no Brasil pela miséria. O problema é que esse discurso não resiste aos fatos. Se você pegar dados da ONU e comparar índices sociais com os de violência, vai ver que tem países e cidades com índices bem piores do que o Rio e os de violência, muito menores. Então, existe no Brasil algum processo, algum fenômeno, que converte miséria em violência em uma taxa alta. No filme Ônibus 174 a idéia era mostrar como o Sandro ficou tão violente assim. E a tese subjacente era que o Estado produziu aquilo - a polícia matou os amigos do Sandro na Candelária, e o Sandro foi jogado em uma Febem, onde crianças apanham e são tratadas como escória. Se você faz isso por muito tempo, as transforma em violentas. Isso é uma das coisas que converte miséria em violência. A outra é a polícia. O que leva a polícia a isso? Tropa de Elite diz isso: baixa remuneração, corporação corrompida por dentro... A contrapartida da honestidade na polícia brasileira gerou a violência, isso explica o discurso no Nascimento. Os filmes [Ônibus 174 e Tropa de Elite] têm o mesmo enfoque: quero explicar esse comportamento, não quero julgar. O processo que gera uma pessoa como o Sandro [Nascimento] é o mesmo que gera o capitão. Por isso eles têm o mesmo nome [Nascimento]."

Genial! Bingo! Agora as coisa fazem um pouco mais sentido pra mim. Aparentemente o sequestrador daquele ônibus, Sandro do Nascimento, e o capitão do Bope, Nascimento, estão em lados totalmente opostos. Mas na verdade eles são produtos do seu meio. Em situações diferentes, o sequestrador poderia se tornar capitão do bope, e o capitão se tornar sequestrador. (Vale a pena lembrar que não simpatizo com a idéia de que bandido é coitadinho. Mas dizer que todos deveriam morrer é tão idiota quanto. Sandro do Nascimento não era assassino, nunca havia matado ninguém. Era ladrão e viciado em crack. A natureza humana é algo complexo e sombrio, e há pessoas que sentem prazer em matar. Elas podem ser pobres ou ricas, não importa, faz parte de suas naturezas. Essas pessoas é que devem ser julgadas sem nenhuma piedade).

Puta merda, o que era pra ser um trechinho acabou ficando gigante! Mas tudo bem. Talvez eu retorne a esta questão em breve. Mas acho que por hora é isso.

domingo, 7 de outubro de 2007

o caveirão que carrego dentro de mim

Foi quanto tempo mesmo? Um mês? Nada, já tem uns dois meses que a cópia do Tropa de Elite vazou da mesa de edição, direto pros camelôs do país todo. Como cinéfilo devoto, sigo uma certa conduta, pra não banalizar minha fé. Uma delas é ver filmes no cinema. Isso porque eles foram feitos para serem vistos em tela grande, não em casa. Claro, alguns filmes são lançados diretamente no dvd, mas ir ao cinema tem uma importância salutar pra quem respeita o trabalho dos cineastas.

Tropa de Elite estreou ontem. Não poderia perder a estréia, resolvi ir na primeira sessão. Tomei banho, troquei de roupa, peguei o ônibus pro Campinas Shopping. Assistir a um filme não deve ser um ato passivo. Não. Ele não vem até mim. Eu é que vou até ele. E pago pra isso: $2,25. Chego ao Shopping e espero a bilheteria abrir, às 13:50. "Por favor, uma meia pro tropa das 2". "Sete reais", diz a moça da bilheteria, uma das mediadoras entre as pessoas comuns e a arte (industrial) mais popular dos últimos 112 anos. O filme não será um presente. Eu estou pagando pra vê-lo. Com 7 reais eu poderia comprar esfirras no Habbibs, Ovomaltine no Bobbs, ou um burguer qualquer no McDonalds. Mas eu pago, com prazer, o valor do meu ingresso. Meus olhos e minha alma também necessitam de alimento.

Entrego meu ingresso ao bilhereiro, e entro para o corredor da sala 1 do Box. O ar está impregnado pelo cheiro do carpete nas paredes. Gosto do cheiro. A sala está quase vazia. Subo até mais ou menos o meio e me sento na poltrona do meio. Olho para a tela gigante à minha frente e contemplo seu hipnótico branco amarelado. Sou quase que absorvido pela sua profunda imensidão. Levo meus olhos do canto direito superior para o canto esquerdo inferior, daí pro direito inferior e por fim o esquerdo superior. O teto é revestido por negras placas de isolação acústica. Ele me lembra uma noite estrelada. Mais gente chega. Reina o silêncio. Não verei o fime sozinho. É um ato coletivo, cerca de duas dúzias de desconhecidos, comungando da experiêcia de se ver um filme. As luzes da tela vão diminuindo gradativamente, até cessarem por completo. A escuridão chega. Mas não há medo. Com a escuridão, vem a luz do projetor, gloriosa, a salvar-nos a nós todos, sendo projetada na tela apagada. A liturgia começa.

E o tropa. Achei o filme ducaralho. É tenso, violento, bem filmado. E o principal: é extremamente provocador. Ninguém sai ileso. Políticos, cidadão, polícia. Contar o filme pela ótica de um capitão do Bope foi pra mim um negócio inédito, pois anos e anos acostumado a ler a história pelos olhos dos desprovidos, dos párias, e miseráveis, deixa a gente meio anestesiado, e com uma visão totalmente unilateral da realidade. E o fato da narrativa partir da polícia, não significa que o filme a exalta, nem que apóie os métodos bárbaros utilizados pelo Bope. Muita gente reclamou disso. Mas como disse o José Padilha, todos admiram Michael Corleone. Mesmo ele roubando e matando pessoas. Isso não impede que o público o ache um personagem cativante, mesmo não concordando com os métodos da máfia. E o mesmo pode ser dito do capitão Nascimento. O Wagner Moura é um puta ator, e confere muita força ao personagem. Antes dele, creio que só o Zé Pequeno (de longe, o bandido mais fóda do cinema nacional) havia empolgado tanto a platéia de filme brasileiro.

E falando em capitão Nascimento, é interessante ver como muita gente o coloca num posto de herói. Ora, parece não importar que ele mate pessoas sumariamente, que ele torture mulheres e crianças para conseguir informações, porque afinal ele é um policial honesto. É como se a honestidade o revestisse de um manto de legitimação. "Poxa, os caras do Bope mataram geral no morro" "Foda-se, os caras são honestos". Saca? A certa altura do filme, o capitão diz que só há 3 saídas possíveis praquela situação: a corrupção, a omissão, e a guerra. Mas só um homem de visão bem estreita, (mal que a grande maioria do país padece) consegue enxergar somente essas saídas. Um pouco de distanciamento histórico mostrará inúmeras outras. O lance da droga e do tráfico, por exemplo. O tráfico existe porque a droga é criminalizada. Basta descriminalizá-la, e você terá uma saída. Aliás, o filme não culpa, como muitos parecem entender, o usuário de droga pela violência. O filme critica a hipocrisia de quem consome a droga e acha que não há nenhuma ligação com o financiamento do tráfico. Esta é realidade dada. Ao consumidor da droga, não há possibilidade de comprar maconha no Carrefour, é preciso subir ao morro; à molecada da favela, pra ganhar dinheiro e se sentir importante, só se envolvendo com o tráfico; ao Bope, que se vê num legítimo estado de guerra, só resta a saída de seguir cegamente a lei e matar o maior número de bandidos possíveis.

Há diversas críticas à abordagem que o cinema dá à favela. Dizem que é sempre uma visão preconceituosa, de que lá só existe o crime. Não acho isso. Existem ótimos filmes que falam da comunidade, sem recorrer à violência. Mas existe a realidade de que o tráfico está na favela. Uma minoria infiltrada numa maioria honesta e trabalhadora, que sofre. Continuo achando Cidade de Deus um puta filme, aos moldes dos filmes de gangsters do Scorsese, e Tropa de Elite é um ótimo filme policial, que causou uma comoção inédita no país, onde praticamente todo mundo viu a cópia pirata e passou a discutir segurança pública como quem discute a final entre Flamengo e Corinthians.

Quando o filme termina, me bate aquela vontade de entrar pro Bope. É como brincar de polícia e ladrão. "Eu sou o Zé Pequeno" "E eu sou o Capitão Nascimento" "Ih, Zé, tá fudido! "Mas o que eu gostaria mesmo é que o Bope invadisse Brasília. O Congresso. O Senado. E matasse todos aqueles filhos da puta. Isso sim seria justiça. Uma verdadeira missão cumprida. Só assim eu aplaudiria o Bope de pé.

estética de cú é rôla

"As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental"

Vinícius de Moraes era um rapazinho danado. Não havia mulher que não caísse em sua lábia. Foi casado nove vezes, muitas delas com garotas bem mais jovens que ele, garotas aliás apaixonadíssimas pelo poetinha e seu indefectível wisky com gelo. De um sujeito que aparentemente possui tanta familiaridade com o mundo das mulheres, sempre esperei que exaltasse todo o tipo de fêmea. Inclusive a feia. Mas aí me deparo com essa pérola da falta de bom mocismo, do politicamente incorreto: a beleza é fundamental. Meu amigo Dida não gosta do verso. Ele escreveu certa vez no perfil de seu orkut: "Senhor Vinícius de Moraes, vá pra puta que o pariu. Beleza não é fundamental", ou algo parecido, não me recordo das palavras exatas, mas a idéia era essa. Bem, acho que o assunto merece um pouco mais de atenção.

De minha parte, nutro um tipo de simpatia pela frase, talvez quem sabe por uma certa nostalgia de uma vida que nunca vivi, aquela dos boêmios conquistadores, homens misteriosos por quem as mulheres suspiravam, buscando um pouco mais de paixão, bebida e tragédia em suas existências vazias. Bem, qual é o cara que não gostaria de ter o charme do Vinícius?

Mas o foco da questão é esse: quem são as mulheres feias? E quem são as bonitas? Como diferenciar uma da outra? Será que batom, lápis e creme podem ser usados como critério? Olheiras, estrias, pêlos, celulite na bunda são elementos importantes? Mulher bonita tem que ter peito e bunda grandes? Ou pernas compridas como as da Ana Hickmann (que, diga-se de passagem, é uma mulher linda, gostosa e inteligente) ? Como, enfim, diferenciar uma gatinha de uma bozenga?

No meu tempo de colégio, as meninas mais divertidas e alegres eram as bonitinhas. Eram elas as mais desencanadas, as que sempre agitavam a sala, junto com os moleques do fundão. Bem ao contrário de outras meninas, feias, que mantinham um eterno mal-humor e estavam sempre prontas a beliscar meu braço. Bando de desprovidas recalcadas! Mas, pensando um pouco mais, me lembro que essas meninas não eram propriamente feias. Elas se sentiam feias - e por isso eram inseguras, invejosas e chatas pra cacete. Me lembro até de algumas bonitinhas que se encaixavam nesse peril. Malditas falsas-belas.

Creio profundamente que beleza e inteligência convivem necessariamente na mulher. Ops, melhor eu reformular essa frase: mulheres inteligentes são sempre belas, mas algumas mulheres lindas tem uma capacidade mental nível Sassá Mutema. Reforço essa idéia, porque há um conceito idiota do senso comum, que diz que mulher bonita é sempre burra. Não pode haver mentira maior. E já que essas linhas são escritas em resposta ao amigo Dida, dou como exemplo a sua própria namorada: a Ju é linda e inteligente. Exemplo perfeito.

Hoje em dia, do alto de meus 22 anos, perdi a paciência com mulher feia. Desprezo aquelas pseudo bonitas que sempre andam com uma amiga feia pra se sentir seguras. Me cansa profundamente mulher que reclama da vida, e principalmente, que reclama de homem. Putaquiopariu, não as quero perto de mim! Prefiro me debruçar no balcão do meu bar, e rir com alguma garota bonita, inteligente, divertida e desencanada o bastante pra não dar a mínima praquele pneuzinho, praquela celulite, ou pra chapinha que deixou de fazer.

Pois é Dida, tenho que concordar com o velho.

As feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.