domingo, 26 de setembro de 2010

sobre meu problema com as mulheres

Essa é uma história que eu contei pra poucos amigos, mas é uma das mais elucidativas sobre o início da minha vida.

Algumas partes dela são recordações de memórias, outras são imagens que foram se formando ao ouvir minha mãe contar e recontar o fato.

Enfim, eu tinha uns 5 anos. A mamãe foi pra casa de uma amiga, que morava num bonito e organizado apartamento. Pra mim era algo muito novo. Como poderia existir uma casa sem quintal??! Mas o que interessa é que essa amiga da minha mãe tinha uma filha. Uma garotinha da minha idade, talvez alguns meses mais nova, de cabelinho liso, corte chanel de franja, e com bochechas muito, muito gordinhas.

Ok, eu era filho único, não tinha muito contato com as meninas. Sabia da existência delas, mas eram sempre aqueles serezinhos chatos que só brincavam de boneca. Tirando a prima Juli que tinha umas casas de boneca feitas em madeira que eram bem legais, as meninas eram todas umas chatas.

Mas alguma coisa me desconcertou quando eu botei os olhos pela primeira vez naquela garotinha branca de bochechas vermelhíssimas feito maçã madura. Eu não conseguia desviar o olhar. Ela retribuia com uns olhos gigantes, daqueles que ainda estão explorando o mundo. Talvez ela nunca tivesse visto um menino marrom antes.

As nossas mães estavam conversando lá na cozinha, e a gente ficou na sala. Assim, um olhando pro outro, meio que se percebendo, criando uma consciência de si a partir a existência do outro. E então o instinto tomou conta do meu pequenino corpo. Estava completamente hipnotizado por aquelas bochechas rosadas. Me aproximei da menina, segurei sua cabeça e mordi, com toda a força que eu dispunha, aquela rubra e tenra maçã do rosto.

Mordi e não soltei.

Ela gritou. Gritava e chorava ao mesmo tempo.

As mães vieram correndo, e eu já fui tomando tapa. Soltei os dentes. Do rosto da menininha escorria sangue, um sangue tão vermelho quanto as suas bochechas. Entre tapas na minha boca e pedidos de desculpas envergonhadíssimos pra sua amiga, minha mãe tentou ajeitar a situação. A mulher foi compreensiva, disse que as crianças eram assim mesmo.

Não me lembro de mais nada.

Mas a idéia de ter sido punido por ter obedecido o meu desejo ficou carimbada em mim. Entendo que eu tive que apanhar, se eu fosse pai faria o mesmo. Minha mãe estava totalmente com a razão. Mas deu no que deu. A partir daí eu criei um medo absurdo de me aproximar de qualquer menina que fosse. Medo de machucar, medo de ser humilhado, medo de brigarem comigo.

Hoje eu acho que eu lido bem melhor com o gênero feminino, mas de vez em quando eu ainda sinto os ecos daquele episódio. É um medo congelante que se abate sobre mim e me trava. E muita gente não acredita que eu tenho esses problemas de vergonha e timidez, mas eles sempre aparecem pra me assombrar.

É foda.

Nenhum comentário: