Isso rolou anteontem.
Eu estou fazendo Estágio 2 na faculdade de educação, e preciso cumprir horas em alguma escola. Fui então ao Vítor Meireles, colégio público em que completei o ensino médio. Ao falar com as funcionárias da secretaria, aproxima-se de mim um homem alto e evidentemente gay, que pergunta "escuta, você é ex-aluno? Não era você que fazia um jornal que falava mal da Ilka, chamava ela de burra, de vaca, de puta?" "Sim, sou eu mesmo" "Como é que chamava mesmo o seu jornal?" "O Arroto" "O Arroto, isso mesmo. Veja lá o que você vai escrever sobre a escola, einh rapaz. Se não eu nem assino esse seu estágio" "Não, pelo amor de deus, eu só tô aqui pra fazer o acompanhamento do professor. Afinal, em breve eu vou me tornar um" "Ah, então quer dizer que agora os papéis se inverteram. Antes tacava pedra, agora você é a vidraça. Na sua época isso aqui era o paraíso. Os alunos de hoje estão impossíveis, ninguém quer nada com nada. Agora você vai conhecer o que é o inferno".
E foi assim que eu consegui o meu estágio, com essa encorajadora e calorosa recepção de boas vindas.
Saí da escola e fui caminhando em direção ao ponto de ônibus. Na metade do caminho, vi um grupo de orientais falando da bíblia pra uma velha, visivelmente apressada. Passei pro outro lado da rua, afinal estava bem de boa de ouvir falar sobre meu velho conhecido, Jesus Cristo. Então eis que surge uma oriental com mau hálito e um outro oriental. Ela me diz, num grande esforço pra articular as frases em português, que faz parte de um grupo missionário que veio da Coréia, e que gostaria de ler um trecho da biblia pra mim. "Tudo bem", diz o jovem universitário que é a educação em pessoa.
E então ela começa a falar sobre a parte feminina de Deus. Deus Mãe, que foi negligenciado pelo cristianismo tradicional, mas que agora, em 2010, época do apocalipse, está de volta. Tudo muito interessante até. Após 5 minutos indo do Apocalipse aos Evangelos e Epístolas Paulinas, a coreana com halitose pergunta:
- Você quer ser batizado?
- Anhn?!?
- Você quer ser batizado?
- Puxa, então, é que eu preciso estudar agora. Mas me passa um folheto, daí eu posso saber mais sobre a sua igreja e tal. Mas é que me batizar agora fica meio apertado.
- Nô, nô, tem que batizar.
Ela pega então da mochila uma apostila, com algumas frases em português, e seus correspondentes no que supus ser coreano. Lá dizia que o primeiro passo era ser batizado. Depois estudar a bíblia. E depois ter a vida eterna. Eu estava claramente estragando o bom funcionamento da apostila dela. Foi nessa hora que se aproximou da gente uma coreana lindíssima, e olha que orientais nunca me despertaram grande interesse. Absorto nos finos traços de seu rosto, ouvi mais uma vez a pergunta vinda da outra coreana.
- Você quer ser batizado?
- Sim
A coreana gatinha abriu muito os olhos e se aproximou de mim.
- Mas é de verdade?
- Claro que sim. É de coração.
E então apareceram mais uns 5 coreanos, todos me cumprimentando. A minha bela coreana abriu um sorriso tão iluminado que nem senti vergonha por tamanha picaretagem da minha parte. Agora era só ser batizado. Será que iam fazer um círculo e botar a mão na minha testa, e então já estaria batizado? De qualquer forma, a coreana com mau hálito tirou um laptop da mochila e me fez sentar no meio fio pra assistir alguns vídeos daquela tal de igreja mundial de deus. Enquanto assistia aqueles vídeos de qualidade inexistente, a movimentação ao meu redor era frenética. Alguém passa um celular pra mim, fazendo gestos pra que eu atendesse.
- Alô?
Nada do outro lado.
- Alô?
- Alô?
- Tudo bom?
- Tudo bom.
...
- Então?...
- Por favor, aguarde mais alguns minutinhos que logo estarei aí pra fazer o seu batismo.
- Tudo bem, sem problemas, eu espero.
Uns cinco minutos depois chegam mais quatro coreanos, um deles de gravata. Seu nome é Davi, e é ele que vai fazer o meu batismo. Começo a ficar nervoso. Ele parece simpático, mas não parece burro. Será que ele não saca que essa coisa toda de batismo é absurdo, e que eu só estou ali por causa de um belo sorriso oriental? Certeza que ele vai me desmascarar. É então que ele pergunta pra galera:
- Alguém aí tem água?
Putaquipariu, fudeu! É um batismo com água, não esperava por isso. Olho prum lado, olho pro outro. Penso em sair correndo feito um doido, mas tenho medo de algum deles possuirem poderes, ou alguma daquelas estrelinhas de ninja. Eu seria liquidado fácil, fácil. Resolvo continuar com todo aquele rolê. O Davi me diz que temos que ir pra uma casa ali perto, pra realizar o batismo. Ok, bóra lá.
Escoltado por uns dez coreanos, chegamos a uma velha casa, de portão zuado, muito, muito macabra. Fico desesperado, com medo de ser alguma cilada, sei lá, fico com medo deles cortarem meu pinto fora, essas coisas bizzarras que acontecem nos filmes do Takashi Miike. Daí aparece na porta da casa uma tiazona alemã, com um vestido vermelho, toda molhada, rindo compulsivamente e abraçando os missionários. Tenso. Se isso é um sonho, certeza que é do David Lynch. Alguém traz uma almofada, uma toalha e um balde cheio d´água. O Davi me pede pra tirar o tênis e as meias, e ajoelhar na almofada. Antes do ato começar, pego minha câmera e peço pra coreana gatinha tirar umas fotos. Ela sorri docemente. Então o Davi bota as mãos na minha cabeça e começa a fazer umas orações, mór alto. E então pega umas canecas d´água e começa a despejar na minha cabeça. Começo a ficar todo molhado, mas ele não para. Joga água nas minhas costas, nas minha pernas. E nesse momento eu penso "o que caralhos eu tô fazendo aqui!?"
Por fim, completamente encharcado, sou saudado por uma porção de palmas coreanas. Então o engravatado Davi me diz "agora vamos tomar a ceia"
Entro naquela casa escura, e há mais coreanos lá. Um deles não para de olhar pra mim, rindo. Ele se aproxima e diz, num português sofrível "você ter coraçõn muito bonito!" e então todo mundo riu e eu realmente não sabia o que fazer. Será que alguém ia me dar uma cacetada na cabeça eu eu iria acordar horas depois numa banheira, sem o rim? Ou será que me dariam boa noite cinderela no lugar do sangue de Cristo? Sentamos e o cara leu mais trechos da bíblia. Comemos um pedacinho de pão e tomamos um golinho de suco de uva. Ok, agora tinha acabado.
Na saída, a velha alemã me abraçou, rindo compulsivamente, e os coreanos fizeram um semi circulo ao nosso redor. Todos, em uníssono, disseram: "Nós, Amamos, Vocês! Nós, Amamos, Vocês! Nós, Amamos, Vocês!". Eu ganhei folhetos da igreja, e prometi ao Davi que iria na reunião de sábado. Então eu saí, ensopado e incrédulo sobre o que havia ocorrido na última meia hora.
Acho que foi legal tudo isso, aquele pessoal ficou bem feliz por ter conseguido me batizar. Me senti como se tivesse feito uma boa ação, isso foi massa. Ou talvez não, talvez eu realmente seja só um filho da puta mentiroso.
Mas preciso ficar mais esperto.
Me prometeram a vida eterna, mas no fim só consegui um resfriado.
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
domingo, 22 de agosto de 2010
sobre ficções
Então eu estou na saída do bandejão, jiboiando depois de dois grandes pedaços de bifes. Tomo lentamente o café que já queimou a ponta da minha língua. Vejo então o Caio se aproximando, com seu chapéu verde, a camisa preta da Bruna e o indefectível paletó cinza.
- E aê Will, beleza?
- Sussa. Curtindo um pouquinho do ócio.
- Ah, vou sentar aqui também
Então eu me lembro das minhas anotações e não perco tempo.
- Caio, eu escrevi uma história ontem, gostaria de saber a tua opinião. Tá aqui comigo, dá pra dar uma lida agora?
- Claro, passa aí.
Futuco a mochila e retiro uma daquelas folhas de sobras do cpd, toda rabiscada com pequeninas letras de forma - manuscritas, claro. Passo para o Caio, que, antes de começar a ler, ascende um cigarro e dobra as pernas, em posição meditativa.
"IDÉIA DE CURTA - 19/08/10
INT. DIA. UM QUARTO COM 4 CAMAS BAGUNÇADAS. ROUPAS JOGADAS POR TODO O LADO. MUITA BAGUNÇA E DESORDEM. APENAS UM PERSONAGEM, DEITADO NA CAMA, LENDO UMA EDIÇÃO DA REVISTA 'ANIMAL', OUVINDO LUIZ TATIT NO MP3. PARECE BASTANTE CONCENTRADO NA LEITURA.
CORTE PARA PORTA. UM CHUTE VIOLENTO ABRE A PORTA.
CORTE PARA O SUSTO DO RAPAZ, QUE CHAMAREMOS DE B., QUE DÁ UM PULO NA CAMA.
CORTE NOVAMENTE PARA A PORTA. ENTRAM DUAS GAROTAS, A. E C.
A. VESTE CALÇA JEANS APERTADA, CAMISETA DO CHARLIE BROWN AMARELA, BLAZER ROXO E ALL STAR BRANCO CANO MÉDIO. C. VESTE CALÇA DE COURO PRETA, APERTADA, JAQUETA IDEM E ALL STAR PRETO CANO MÉDIO.
A. (satisfeita) - Ora, ora, ora. Se não é o multipopular B. em pessoa!
C. (contrariada) - Droga, perdi a maldita aposta. Foi muito fácil te encontrar, cara, sinceramente achei que fosse ser mais difícil.
B. (Assustado e perdido) - O, o, o quê q, q, quê que vocês tão fazendo aqui?!
A. (zombrando) - Ô, dó. O que estamos fazendo aqui no seu lindo quartinho num domingo de manhã? Esse foi o sentido da sua pergunta? Ok, eu tenho uma pergunta bem mais pertinente pra esse momento. Que caralho de música é essa que vc tá ouvindo?
B. - Luiz Tatit.
C. - Não me parece tão ruim assim. Achei até simpático. Mas bem que você poderia ter botado um Strokes pra gente, einh. Ia ser tão mais performático. Tipo, entrada em grande estilo, manja?
B. - Eu, eu, eu não sabia que vocês viriam.
A. - Certo, de qualquer forma essa música tá me irritando. E acredite, nas atuais circunstâncias você não quer me ver irritada. Então eu vou te dar uma dica de como inundar o meu coração de paz: desliga a merda do som.
B. DESLIGA O SOM, COM OLHOS ASSUSTADOS E AINDA CONFUSOS.
C. - E aí, como é que você tá? Quer uma massagem nas costas, uma Schepps gelada, ou, sei lá, quer que eu leia uma fábula pra você?
B. - Ahnhh... bem, ok, eu tô completamente confuso agora. Isso é provavelmente um sonho, pq eu não consigo pensar em nenhum motivo razoável pra isso estar acontecendo. O que vocês duas estão fazendo juntas, e o que querem comigo? Eu fiz algo errado nesses últimos dias?
A. - Entenda uma coisa, B. Você é um doce, um cara bacana e francamente interessante. Você manja de muitas coisas, mas infelizmente é burro que dói. Se você fez algo errado nesses últimos dias? Bem, acho que você vem fazendo as coisas erradas há muito mais tempo.
C. (assertindo com a cabeça) - Muito mais tempo.
A. (virando-se para C.) - E qual era a outra pergunta dele que dava um gancho ótimo pra gente explicar o que nós viemos fazer aqui?
C. (assumindo seu papel no jogo) - Creio que a pergunda era precisamente o que viemos fazer aqui.
A. (irônica) - Ora essa, é claro. O que viemos fazer aqui? Vou te dar algumas pistas. Você trouxe as pistas, querida?
C. - Mas é claro. Estão logo aqui na minha bolsa.
A. - Olha só, B. , como nós somos boazinhas. As pistas não serão dicas verbais. Serão dicas visuais. Acho que condiz bem mais com a sua natureza, não? As dicas estão dentro desta simpática bolsa da Betty Boop. Curioso?
B. - Ahnnnn..., sim claro. Por favor, pode mostrar.
A. ABRE A BOLSA E A VIRA ENCIMA DA CAMA. DE DENTRO CAEM UMA PORÇÃO DE BISTURIS, FACAS, SERRAS DE ABRIR CRÂNIO, FURADEIRAS E OUTRAS COISAS QUE DÃO AGONIA. B. SE DESESPERA E FAZ MENÇÃO DE SAIR DA CAMA. C. RETIRA UM REVOLVER DO BOLSO INTERNO DA JAQUETA E ATIRA NA PERNA DE B. NA DIREITA E NA ESQUERDA. O RAPAZ GRITA E SE CONTORCE DE DOR. A. OBSERVA A CENA COM FRIEZA. C. DÁ ALGUNS PASSOS EM DIREÇÃO DE B. E ATIRA EM SEUS DOIS BRAÇOS, NA ALTURA DO COTOVELO. OS GRITOS SÃO DESESPERADOS, MAS VÃO LOGO DIMINUINDO, ATÉ CESSAR. O RAPAZ ENTRA EM ESTADO DE CHOQUE.
A. - Você está bem?
B. - ...
A. - Ok, acho que foi uma pergunta estúpida.
C. - Desculpe, mas se não fizesse isso, você fugiria. Você sabe que fugiria. Estamos aqui pra te mostrar a verdade, e dessa vez você não vai fugir da verdade. Dessa vez você não vai fugir. O mérito não será seu, será nosso, mas, enfim, podemos viver com isso. O importante é que você veja.
B. (sussurrando) - Ver o quê?
A. - Isso, Meu amor. Isso.
A. PEGA UMA DAQUELAS SERRAS QUE OS MÉDICOS USAM PRA CORTAR OSSOS E A LIGA. C. PEGA UMA TESOURA E CORTA A VELHA CAMISETA AZUL DO SONIC YOUTH DE B.. A. COMEÇA ENTÃO A CORTAR O PEITO DE B. CORTE FEITO, DESLIGA A SERRA E A PÕE DE LADO. A GAROTA ESTÁ TODA SUJA DE SANGUE, QUE ACABOU RESPINGANDO POR TODO O QUARTO. E ENTÃO C. AGARRA AS COSTELAS DA ESQUERDA, ENQUANTO A. A DA DIREITA. AS DUAS PUXAM, CADA UMA PARA UMA DIREÇÃO, ABRINDO ASSIM O TÓRAX DE B. QUE REVIRA A CABEÇA, PRA NÃO VER TAMANHA VIOLÊNCIA. A. ENFIA A MÃO DENTRO DA ABERTURA TORÁXICA.
A. - Como eu imaginei. Vazio.
C. - Exatamente como vc me disse.
B. - Do que vocês tão falando?
C. - Cara, cadê a droga do seu coração?
B. - Ãnhn???
A. - Seu coração, B. Você não tem mais coração.
B. - Mas isso é impossível.
A. - É só levantar a cabeça e olhar. Não tem nada aí dentro. Vc não tem coração.
B. - Merda!
C. - Merda digo eu, porra. Você deveria ter levado isso em consideração antes de ter me chamado pra sair.
B. (constrangido) - Desculpa...
A. - Espero que você tenha entendido, querido. Muito bacana você estar em busca do meu amor e tal, mas não tem coração aí dentro. Entende. Assim não dá.
C. - Mas se quiser sair pra tomar uma cerva, pra mim ótimo.
PLANO DE CONJUNTO. B. ESTÁ NA CAMA, ATÔNITO. CADA UMA DAS GOROTAS OCUPA UM LADO DA CAMA. A IMAGEM VAI FECHANDO ATÉ CHEGAR A UM PRIMEIRO PLANO DO PEITO ABERTO DE B. VAZIO.
A TELA ESCURECE. SOBE OS CRÉDITOS"
O Caio termina de ler e eu permaneço naquela tensa expectativa pelo comentário de julgamento. Não consigo me conter e já vou me desculpando.
- Eu escrevi meio que correndo, então a idéia é ir polindo os diálogos, deixar mais redondinho, mais engraçado talvez.
- Ah, cara, tá legal, achei legal essa coisa do humor negro.
- No meu caso é legítimo, né.
- hahaahhah
- Ah, bom que vc curtiu.
- Então, mas acho que uma coisa meio que incomodou. A história tem um tom que é muito de coitadinho. É tipo auto indulgente travestido de cruel. Acho que tem um tom muito parecido com os textos que vc escreveu no seu blog logo depois que vc e a Mazu terminaram. Se é que eu posso te dar algum conselho, acho que deveria tentar não se colocar no lugar da vítima. Assumir mais a responsabilidades sobre aquilo que acontece com você.
- É, acho que vc tem razão.
- Sei lá, posso estar errado.
- Magina. Valeu a dica.
Levanto e jogo o copo plástico no lixo. Tenho que correr, pois daqui a pouquinho entro no trabalho.
- E aê Will, beleza?
- Sussa. Curtindo um pouquinho do ócio.
- Ah, vou sentar aqui também
Então eu me lembro das minhas anotações e não perco tempo.
- Caio, eu escrevi uma história ontem, gostaria de saber a tua opinião. Tá aqui comigo, dá pra dar uma lida agora?
- Claro, passa aí.
Futuco a mochila e retiro uma daquelas folhas de sobras do cpd, toda rabiscada com pequeninas letras de forma - manuscritas, claro. Passo para o Caio, que, antes de começar a ler, ascende um cigarro e dobra as pernas, em posição meditativa.
"IDÉIA DE CURTA - 19/08/10
INT. DIA. UM QUARTO COM 4 CAMAS BAGUNÇADAS. ROUPAS JOGADAS POR TODO O LADO. MUITA BAGUNÇA E DESORDEM. APENAS UM PERSONAGEM, DEITADO NA CAMA, LENDO UMA EDIÇÃO DA REVISTA 'ANIMAL', OUVINDO LUIZ TATIT NO MP3. PARECE BASTANTE CONCENTRADO NA LEITURA.
CORTE PARA PORTA. UM CHUTE VIOLENTO ABRE A PORTA.
CORTE PARA O SUSTO DO RAPAZ, QUE CHAMAREMOS DE B., QUE DÁ UM PULO NA CAMA.
CORTE NOVAMENTE PARA A PORTA. ENTRAM DUAS GAROTAS, A. E C.
A. VESTE CALÇA JEANS APERTADA, CAMISETA DO CHARLIE BROWN AMARELA, BLAZER ROXO E ALL STAR BRANCO CANO MÉDIO. C. VESTE CALÇA DE COURO PRETA, APERTADA, JAQUETA IDEM E ALL STAR PRETO CANO MÉDIO.
A. (satisfeita) - Ora, ora, ora. Se não é o multipopular B. em pessoa!
C. (contrariada) - Droga, perdi a maldita aposta. Foi muito fácil te encontrar, cara, sinceramente achei que fosse ser mais difícil.
B. (Assustado e perdido) - O, o, o quê q, q, quê que vocês tão fazendo aqui?!
A. (zombrando) - Ô, dó. O que estamos fazendo aqui no seu lindo quartinho num domingo de manhã? Esse foi o sentido da sua pergunta? Ok, eu tenho uma pergunta bem mais pertinente pra esse momento. Que caralho de música é essa que vc tá ouvindo?
B. - Luiz Tatit.
C. - Não me parece tão ruim assim. Achei até simpático. Mas bem que você poderia ter botado um Strokes pra gente, einh. Ia ser tão mais performático. Tipo, entrada em grande estilo, manja?
B. - Eu, eu, eu não sabia que vocês viriam.
A. - Certo, de qualquer forma essa música tá me irritando. E acredite, nas atuais circunstâncias você não quer me ver irritada. Então eu vou te dar uma dica de como inundar o meu coração de paz: desliga a merda do som.
B. DESLIGA O SOM, COM OLHOS ASSUSTADOS E AINDA CONFUSOS.
C. - E aí, como é que você tá? Quer uma massagem nas costas, uma Schepps gelada, ou, sei lá, quer que eu leia uma fábula pra você?
B. - Ahnhh... bem, ok, eu tô completamente confuso agora. Isso é provavelmente um sonho, pq eu não consigo pensar em nenhum motivo razoável pra isso estar acontecendo. O que vocês duas estão fazendo juntas, e o que querem comigo? Eu fiz algo errado nesses últimos dias?
A. - Entenda uma coisa, B. Você é um doce, um cara bacana e francamente interessante. Você manja de muitas coisas, mas infelizmente é burro que dói. Se você fez algo errado nesses últimos dias? Bem, acho que você vem fazendo as coisas erradas há muito mais tempo.
C. (assertindo com a cabeça) - Muito mais tempo.
A. (virando-se para C.) - E qual era a outra pergunta dele que dava um gancho ótimo pra gente explicar o que nós viemos fazer aqui?
C. (assumindo seu papel no jogo) - Creio que a pergunda era precisamente o que viemos fazer aqui.
A. (irônica) - Ora essa, é claro. O que viemos fazer aqui? Vou te dar algumas pistas. Você trouxe as pistas, querida?
C. - Mas é claro. Estão logo aqui na minha bolsa.
A. - Olha só, B. , como nós somos boazinhas. As pistas não serão dicas verbais. Serão dicas visuais. Acho que condiz bem mais com a sua natureza, não? As dicas estão dentro desta simpática bolsa da Betty Boop. Curioso?
B. - Ahnnnn..., sim claro. Por favor, pode mostrar.
A. ABRE A BOLSA E A VIRA ENCIMA DA CAMA. DE DENTRO CAEM UMA PORÇÃO DE BISTURIS, FACAS, SERRAS DE ABRIR CRÂNIO, FURADEIRAS E OUTRAS COISAS QUE DÃO AGONIA. B. SE DESESPERA E FAZ MENÇÃO DE SAIR DA CAMA. C. RETIRA UM REVOLVER DO BOLSO INTERNO DA JAQUETA E ATIRA NA PERNA DE B. NA DIREITA E NA ESQUERDA. O RAPAZ GRITA E SE CONTORCE DE DOR. A. OBSERVA A CENA COM FRIEZA. C. DÁ ALGUNS PASSOS EM DIREÇÃO DE B. E ATIRA EM SEUS DOIS BRAÇOS, NA ALTURA DO COTOVELO. OS GRITOS SÃO DESESPERADOS, MAS VÃO LOGO DIMINUINDO, ATÉ CESSAR. O RAPAZ ENTRA EM ESTADO DE CHOQUE.
A. - Você está bem?
B. - ...
A. - Ok, acho que foi uma pergunta estúpida.
C. - Desculpe, mas se não fizesse isso, você fugiria. Você sabe que fugiria. Estamos aqui pra te mostrar a verdade, e dessa vez você não vai fugir da verdade. Dessa vez você não vai fugir. O mérito não será seu, será nosso, mas, enfim, podemos viver com isso. O importante é que você veja.
B. (sussurrando) - Ver o quê?
A. - Isso, Meu amor. Isso.
A. PEGA UMA DAQUELAS SERRAS QUE OS MÉDICOS USAM PRA CORTAR OSSOS E A LIGA. C. PEGA UMA TESOURA E CORTA A VELHA CAMISETA AZUL DO SONIC YOUTH DE B.. A. COMEÇA ENTÃO A CORTAR O PEITO DE B. CORTE FEITO, DESLIGA A SERRA E A PÕE DE LADO. A GAROTA ESTÁ TODA SUJA DE SANGUE, QUE ACABOU RESPINGANDO POR TODO O QUARTO. E ENTÃO C. AGARRA AS COSTELAS DA ESQUERDA, ENQUANTO A. A DA DIREITA. AS DUAS PUXAM, CADA UMA PARA UMA DIREÇÃO, ABRINDO ASSIM O TÓRAX DE B. QUE REVIRA A CABEÇA, PRA NÃO VER TAMANHA VIOLÊNCIA. A. ENFIA A MÃO DENTRO DA ABERTURA TORÁXICA.
A. - Como eu imaginei. Vazio.
C. - Exatamente como vc me disse.
B. - Do que vocês tão falando?
C. - Cara, cadê a droga do seu coração?
B. - Ãnhn???
A. - Seu coração, B. Você não tem mais coração.
B. - Mas isso é impossível.
A. - É só levantar a cabeça e olhar. Não tem nada aí dentro. Vc não tem coração.
B. - Merda!
C. - Merda digo eu, porra. Você deveria ter levado isso em consideração antes de ter me chamado pra sair.
B. (constrangido) - Desculpa...
A. - Espero que você tenha entendido, querido. Muito bacana você estar em busca do meu amor e tal, mas não tem coração aí dentro. Entende. Assim não dá.
C. - Mas se quiser sair pra tomar uma cerva, pra mim ótimo.
PLANO DE CONJUNTO. B. ESTÁ NA CAMA, ATÔNITO. CADA UMA DAS GOROTAS OCUPA UM LADO DA CAMA. A IMAGEM VAI FECHANDO ATÉ CHEGAR A UM PRIMEIRO PLANO DO PEITO ABERTO DE B. VAZIO.
A TELA ESCURECE. SOBE OS CRÉDITOS"
O Caio termina de ler e eu permaneço naquela tensa expectativa pelo comentário de julgamento. Não consigo me conter e já vou me desculpando.
- Eu escrevi meio que correndo, então a idéia é ir polindo os diálogos, deixar mais redondinho, mais engraçado talvez.
- Ah, cara, tá legal, achei legal essa coisa do humor negro.
- No meu caso é legítimo, né.
- hahaahhah
- Ah, bom que vc curtiu.
- Então, mas acho que uma coisa meio que incomodou. A história tem um tom que é muito de coitadinho. É tipo auto indulgente travestido de cruel. Acho que tem um tom muito parecido com os textos que vc escreveu no seu blog logo depois que vc e a Mazu terminaram. Se é que eu posso te dar algum conselho, acho que deveria tentar não se colocar no lugar da vítima. Assumir mais a responsabilidades sobre aquilo que acontece com você.
- É, acho que vc tem razão.
- Sei lá, posso estar errado.
- Magina. Valeu a dica.
Levanto e jogo o copo plástico no lixo. Tenho que correr, pois daqui a pouquinho entro no trabalho.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
sobre o sonho que me deu um saudade danada
E daí eu dou razão ao Descartes que diz que, quando sonhamos, não temos condições de distinguir se estamos no mundo real ou dormindo. Quando sonhamos, o sonho parece real. Tão real quando qualquer coisa que aconteça corriqueiramente. Só percebemos que sonhamos quando acordamos, e mesmo assim ainda há vezes em que eu me pego na dúvida se uma memória de um acontecimento que tenho realmente ocorreu, ou foi apenas um sonho.
Quando eu acordei eu pensei "puxa, foi muito real". Sonhei com a Carol, olha só. Não me lembro bem dos detalhes, só sei que minha querida amiga que hoje mora em BH aparecia no sonho e começava a falar uma porção de coisas, acho que estava dando algum serão em mim. Me lembro que eu ficava muito feliz por vê-la, e daí a gente ficava andando por um casarão, em busca de algo que o meu consciente não conseguiu reter.
Eu gosto de sonhar.
Gosto de sonhar com as pessoas queridas e amadas.
Mesmo que essas pessoas queridas e amadas não me queiram e não me amem mais.
Mas, bem, eu sei que a Carol ainda me ama.
E isso é muito bom.
Quando eu acordei eu pensei "puxa, foi muito real". Sonhei com a Carol, olha só. Não me lembro bem dos detalhes, só sei que minha querida amiga que hoje mora em BH aparecia no sonho e começava a falar uma porção de coisas, acho que estava dando algum serão em mim. Me lembro que eu ficava muito feliz por vê-la, e daí a gente ficava andando por um casarão, em busca de algo que o meu consciente não conseguiu reter.
Eu gosto de sonhar.
Gosto de sonhar com as pessoas queridas e amadas.
Mesmo que essas pessoas queridas e amadas não me queiram e não me amem mais.
Mas, bem, eu sei que a Carol ainda me ama.
E isso é muito bom.
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
sobre a minha vida sonhada e algumas notas aleatórias
Já faz algum tempo que o projeto de deixar um bloquinho de notas do lado do meu travesseiro, com o intuito de anotar os meus sonhos, paira sobre mim. Esforçar-se para lembrar dos sonhos que tive é um exercício que certamente me trará benefícios, contudo, o sonho e os dias cada vez mais cheios de atividades andam atrapalhando essa brincadeira. Mas hoje eu me lembrei de alguns sonhos que tive.
Sonhei que a Mazu veio falar comigo, de boa, com um novo corte de cabelo, mais curto e com uma franjinha engraçada. Sonhei que eu fui na casa da mãe do Reinaldo, daí ela falava pra eu pegar um elevador na rua da frente, pra chegar até ele. Então eu pegava um elevador todo fudido, e enquanto ele subia eu ficava pendurado, quase caindo. E sonhei que a Bárbara Paz apareceu no set de filmagens do meu filme, e então ela se dizia interessada em participar, o que me causou grande alegria.
***
A verdade é o caos, a transformação, a loucura.
O mundo é um lugar muito perigoso, e, se fôssemos totalmente racionais, não sairíamos de casa, por motivos de segurança. Caminhar pela rua é ter confiança nas pessoas que projetaram todo o sistema viário, assim como é preciso ter confiança de que as outras pessoas que estão na rua estão dispostas a seguir as mesmas regras que vc ao pilotar um carro, uma bike ou simplesmente caminhar. Entrar num prédio ou numa casa é confiar no engenheiro e no pedreiro que a construíram. É muito doido isso. Todo ato que fazemos depende da confiança numa porção de gente que não conhecemos.
Não há muitos dados empíricos pra nos deixar seguros.
Por isso há aquelas estatísticas idiotas, pra nos dar alguma sensação de segurança.
Quando nós nascemos, já nascemos chorando, porque saímos de um mundo de conforto direto pra um outro totalmente caótico. E toda a infância pode ser resumida como a busca de um cuidador, de um protetor, alguém que possa nos dar segurança. O bebê a obtém geralmente dos pais. E então a gente cresce, e não há mais a segurança proporcionada pelos pais, o que não impede que continuemos em busca de alguma segurança no mundo.
Nossa idéia de segurança é uma ilusão infantil.
É fruto de uma ilusão infantil.
Sonhei que a Mazu veio falar comigo, de boa, com um novo corte de cabelo, mais curto e com uma franjinha engraçada. Sonhei que eu fui na casa da mãe do Reinaldo, daí ela falava pra eu pegar um elevador na rua da frente, pra chegar até ele. Então eu pegava um elevador todo fudido, e enquanto ele subia eu ficava pendurado, quase caindo. E sonhei que a Bárbara Paz apareceu no set de filmagens do meu filme, e então ela se dizia interessada em participar, o que me causou grande alegria.
***
A verdade é o caos, a transformação, a loucura.
O mundo é um lugar muito perigoso, e, se fôssemos totalmente racionais, não sairíamos de casa, por motivos de segurança. Caminhar pela rua é ter confiança nas pessoas que projetaram todo o sistema viário, assim como é preciso ter confiança de que as outras pessoas que estão na rua estão dispostas a seguir as mesmas regras que vc ao pilotar um carro, uma bike ou simplesmente caminhar. Entrar num prédio ou numa casa é confiar no engenheiro e no pedreiro que a construíram. É muito doido isso. Todo ato que fazemos depende da confiança numa porção de gente que não conhecemos.
Não há muitos dados empíricos pra nos deixar seguros.
Por isso há aquelas estatísticas idiotas, pra nos dar alguma sensação de segurança.
Quando nós nascemos, já nascemos chorando, porque saímos de um mundo de conforto direto pra um outro totalmente caótico. E toda a infância pode ser resumida como a busca de um cuidador, de um protetor, alguém que possa nos dar segurança. O bebê a obtém geralmente dos pais. E então a gente cresce, e não há mais a segurança proporcionada pelos pais, o que não impede que continuemos em busca de alguma segurança no mundo.
Nossa idéia de segurança é uma ilusão infantil.
É fruto de uma ilusão infantil.
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
sobre as coisas patéticas e dolorosas que me acontecem devido a minha crônica falta de atenção e excessiva disperção
Desci do busão da moras e fui caminhando em direção ao ifch. Já eram quase nove da manhã e eu tive medo que o Giacóia tivesse começado sua aula. Eu normalmente já caminho rápido, e nesta manhã andava mais rápido ainda. Quando passei pela cantina do ia, notei vários cartazes de ocupação, umas bandeiras do mst. Mas o que não noitei foi o poste que estava logo na minha frente.
E então eu bati no poste. Dei de cara com a porra do poste de ferro. Senti uma dor que eu não sentia a mais de dez anos, uma dor que só sentia quando me machucava brincando, geralmente numa trombada com outra criança. A minha primeira reação foi ficar envergonhado, e continuar caminhando. Xinguei muito, mas não consegui ir muito longe. Sentei no chão, gemendo de dor. Quando cheguei na cantina do ifch, as meninas me ajudaram e buscaram gelo pra mim.
Agora eu tô parecendo o Rocky depois de tomar um pau do Apollo, com um baita calombo na sombrancelha e uma terrível dor na perna esquerda.
Pra próxima pessoa que me encontrar na rua e perguntar o que aconteceu, vou dizer: "minha namorada imaginária me bateu".
E então eu bati no poste. Dei de cara com a porra do poste de ferro. Senti uma dor que eu não sentia a mais de dez anos, uma dor que só sentia quando me machucava brincando, geralmente numa trombada com outra criança. A minha primeira reação foi ficar envergonhado, e continuar caminhando. Xinguei muito, mas não consegui ir muito longe. Sentei no chão, gemendo de dor. Quando cheguei na cantina do ifch, as meninas me ajudaram e buscaram gelo pra mim.
Agora eu tô parecendo o Rocky depois de tomar um pau do Apollo, com um baita calombo na sombrancelha e uma terrível dor na perna esquerda.
Pra próxima pessoa que me encontrar na rua e perguntar o que aconteceu, vou dizer: "minha namorada imaginária me bateu".
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
sobre a felicidade em forma de som
passei na banca e ri demais
sobre o que fazer em caso de incêndio
Na última semana eu provavelmente ouvi umas três vezes que eu sou encanado. "Vc é muito encanado". Ok, admito, tenho tiques e gagueira se as coisas fogem ao meu controle. Gesticulo muito e fico querendo morder coisas. Sendo assim, a questão de possuir o controle da situação pra mim é fundamental. Vou apresentar, a seguir, algumas das idéias que tive em caso de situações extremas, e que não são esperadas pela maioria das pessoas comuns.
ficar paralítico
Supernormal se eu tiver caminhando tranquilamente pela rua e um carro me atropelar e foder com as minhas pernas. Ser privado de caminhar com certeza é um saco. Lá se vão meus planos de viagens e meu treinamento de bujutsu. Mas não é o fim do mundo. Ainda dá pra ir ao cinema! E com certeza eu comprarei uma cadeira de rodas motorizada, com rodas cromadas e um painelzinho de controle de velocidade. Vou colocar também uma antena alta na parte de trás, onde pendurarei uma bandeira pirata, que é pra ninguém mexer comigo. Vai ser foda demais!
ter a mão decepada
Um dia estou cortando limão no trabalho e então, ops, cortei minha mão fora. Ah, sem problemas. Nada de implantes biônicos! Vou instalar um gancho no cotoco do meu braço. Assim, quando alguém chegar no bar eu vou bater o gancho no balcão e perguntar "o que vai querer". Hahahah, vai ser um sucesso!
perder o olho
Que fique bem claro que estou disposto a ficar cego de 1 (um) olho. Prefiro morrer que ficar totalmente cego (afinal, a única coisa que salva a minha vida da completa inutilidade é o prazer dos olhos). Então, sem um olho, talvez bote um substituto de vidro? Não! Com certeza usarei um tapa olho, daqueles pretos de elastico. Além de mais barato que um olho de vidro, dá um visu bem mais presença.
ir pra cadeia
Já tenho tudo planejado. Seria ótimo se eu fosse condenado por assalto a banco, ou algum outro roubo engenhoso e cabuloso. Isso me traria respeito e admiração. Assim que chegar na cela, o ideal é ficar na minha. Fechar a cara e ficar na minha. Não encarar nenhum dos outros presos nos olhos. Essa idéia de filme americano de que vc tem que chegar na cadeia causando e batendo no mais fodão é pura besteira. Se vc chegar causando vai juntar uma renca de bandido e daí já era. Vão te dar uma aula de humildade que vc nunca esquecerá. O esquema é ficar à pampa. Daí o que pode acontecer é chegar uns caras pra mexer contigo. O que rola é o seguinte: junta uns caras e te cercam. Te enchem de porrada, e então um cara vai e come o teu cu. Daí chega um outro e também como o teu cu. E um terceiro. E um quarto. E depois volta pro primeiro, e eles vão revezando até vc não ter mais forças e virar a mulherzinha da cela. O que fazer então? Assim que o primeiro cara chegar querendo forgar, daí sim, vire o bixo. Fique agressivo e lute pela segurança do seu rabo com todas as forças. Mesmo que tiverem vários caras te segurando, tire forças que vc desconhece pra se mostrar durão. Se vc consegue impedir por algum tempo que os caras façam algo com vc, eles te deixam em paz. Ou por respeito pela sua força de vontade, ou pq o fodão da cela, que provavelmente tá vendo tudo lá do fundo vai dizer "deixa o moleque".
Um dos problemas que eu vou enfrentar são as minhas tatoos. A do Los Hermanos dá pra disfarçar, e dizer que é uma tatuagem de revolucionários russos. Mas o grande problema é a do Calvin e do Haroldo. Vou ter que andar sempre de camisa, pq a bandidagem pode não encarar de uma forma tão tranquila a fofurice do desenho.
ficar paralítico
Supernormal se eu tiver caminhando tranquilamente pela rua e um carro me atropelar e foder com as minhas pernas. Ser privado de caminhar com certeza é um saco. Lá se vão meus planos de viagens e meu treinamento de bujutsu. Mas não é o fim do mundo. Ainda dá pra ir ao cinema! E com certeza eu comprarei uma cadeira de rodas motorizada, com rodas cromadas e um painelzinho de controle de velocidade. Vou colocar também uma antena alta na parte de trás, onde pendurarei uma bandeira pirata, que é pra ninguém mexer comigo. Vai ser foda demais!
ter a mão decepada
Um dia estou cortando limão no trabalho e então, ops, cortei minha mão fora. Ah, sem problemas. Nada de implantes biônicos! Vou instalar um gancho no cotoco do meu braço. Assim, quando alguém chegar no bar eu vou bater o gancho no balcão e perguntar "o que vai querer". Hahahah, vai ser um sucesso!
perder o olho
Que fique bem claro que estou disposto a ficar cego de 1 (um) olho. Prefiro morrer que ficar totalmente cego (afinal, a única coisa que salva a minha vida da completa inutilidade é o prazer dos olhos). Então, sem um olho, talvez bote um substituto de vidro? Não! Com certeza usarei um tapa olho, daqueles pretos de elastico. Além de mais barato que um olho de vidro, dá um visu bem mais presença.
ir pra cadeia
Já tenho tudo planejado. Seria ótimo se eu fosse condenado por assalto a banco, ou algum outro roubo engenhoso e cabuloso. Isso me traria respeito e admiração. Assim que chegar na cela, o ideal é ficar na minha. Fechar a cara e ficar na minha. Não encarar nenhum dos outros presos nos olhos. Essa idéia de filme americano de que vc tem que chegar na cadeia causando e batendo no mais fodão é pura besteira. Se vc chegar causando vai juntar uma renca de bandido e daí já era. Vão te dar uma aula de humildade que vc nunca esquecerá. O esquema é ficar à pampa. Daí o que pode acontecer é chegar uns caras pra mexer contigo. O que rola é o seguinte: junta uns caras e te cercam. Te enchem de porrada, e então um cara vai e come o teu cu. Daí chega um outro e também como o teu cu. E um terceiro. E um quarto. E depois volta pro primeiro, e eles vão revezando até vc não ter mais forças e virar a mulherzinha da cela. O que fazer então? Assim que o primeiro cara chegar querendo forgar, daí sim, vire o bixo. Fique agressivo e lute pela segurança do seu rabo com todas as forças. Mesmo que tiverem vários caras te segurando, tire forças que vc desconhece pra se mostrar durão. Se vc consegue impedir por algum tempo que os caras façam algo com vc, eles te deixam em paz. Ou por respeito pela sua força de vontade, ou pq o fodão da cela, que provavelmente tá vendo tudo lá do fundo vai dizer "deixa o moleque".
Um dos problemas que eu vou enfrentar são as minhas tatoos. A do Los Hermanos dá pra disfarçar, e dizer que é uma tatuagem de revolucionários russos. Mas o grande problema é a do Calvin e do Haroldo. Vou ter que andar sempre de camisa, pq a bandidagem pode não encarar de uma forma tão tranquila a fofurice do desenho.
domingo, 8 de agosto de 2010
droga, já são 5 da manhã!
E daí meus olhos ardem, e eu nem fumei nada.
Meus olhos ardem de sono. Tenho sono. Não dormi bem. Acordei com os caras assistindo Hannah Montana. Trabalhei o dia todo. Trabalhei nessa madrugada. Vou dormir, acordar e trabalhar. E talvez meus olhos ardam um pouco menos.
E daí as minhas roupas ainda tão sujas, e a máquina não funciona.
O Oito Mãos toca essa semana, mas eu sei que eu vou ficar mais deprimido.
Tenho fome e sono, já faz mais dias do que eu gostaria que venho comendo lazanha para microondas. E miojo. Não é certo.
Mas então eu lembro daquela galera fudida, que mora numa casa de merda e só toma no cu. Elas sorriem e dizem ter fé. Elas tem fé que as coisas vão melhorar. Que algo vai acontecer de bom. Que da próxima vez vai dar certo.
Merda.
Eu sou igualzinho a eles.
Meus olhos ardem de sono. Tenho sono. Não dormi bem. Acordei com os caras assistindo Hannah Montana. Trabalhei o dia todo. Trabalhei nessa madrugada. Vou dormir, acordar e trabalhar. E talvez meus olhos ardam um pouco menos.
E daí as minhas roupas ainda tão sujas, e a máquina não funciona.
O Oito Mãos toca essa semana, mas eu sei que eu vou ficar mais deprimido.
Tenho fome e sono, já faz mais dias do que eu gostaria que venho comendo lazanha para microondas. E miojo. Não é certo.
Mas então eu lembro daquela galera fudida, que mora numa casa de merda e só toma no cu. Elas sorriem e dizem ter fé. Elas tem fé que as coisas vão melhorar. Que algo vai acontecer de bom. Que da próxima vez vai dar certo.
Merda.
Eu sou igualzinho a eles.
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
sobre o luto
Senhoras e senhores que acompanham o meu blog, peço desculpas pelos vários dias que abandonei completamente esse meu bloquinho de anotações. Precisava viver um pouco, então deixei a internet de lado por uns tempos.
Tô sentindo que é preciso escrever agora, sobre algo muito específico. Não vou falar demais, na real eu vou escrever só pra constar, e pra poder me lembrar depois.
Estou sentindo que o meu luto chegou ao fim.
Sem esforço, sem desespero, sem obstinação. De forma serena e natural. É como se as nuvens tensas fossem embora e o sol enfim saísse. Sem motivo algum. Sem nenhuma explicação. Da mesma forma súbita que veio, se foi. E isso faz todo o sentido pra mim, já que a aleatoriedade e o acaso se encarregam de temperar nossas vidas com os mais inesperados e despropositados sabores. Hoje eu estou sorrindo, sentindo uma esquecida leveza nos pés, talvez proporcionadas pelo tímido entusiasmo que agora paira no meu peito, uma combinação indistinta de sopros do corpo e sopros do espírito.
Enfim, a vida é sem dúvida um negócio fascinante. Vou transcrever a seguir um dos meu trechos favoritos da bíblia, escrito pelo sábio e pessimista Salomão. É o início do terceito capítulo do livro de eclesiastes.
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."
Ótimo agosto pra todos vocês!
:D
Tô sentindo que é preciso escrever agora, sobre algo muito específico. Não vou falar demais, na real eu vou escrever só pra constar, e pra poder me lembrar depois.
Estou sentindo que o meu luto chegou ao fim.
Sem esforço, sem desespero, sem obstinação. De forma serena e natural. É como se as nuvens tensas fossem embora e o sol enfim saísse. Sem motivo algum. Sem nenhuma explicação. Da mesma forma súbita que veio, se foi. E isso faz todo o sentido pra mim, já que a aleatoriedade e o acaso se encarregam de temperar nossas vidas com os mais inesperados e despropositados sabores. Hoje eu estou sorrindo, sentindo uma esquecida leveza nos pés, talvez proporcionadas pelo tímido entusiasmo que agora paira no meu peito, uma combinação indistinta de sopros do corpo e sopros do espírito.
Enfim, a vida é sem dúvida um negócio fascinante. Vou transcrever a seguir um dos meu trechos favoritos da bíblia, escrito pelo sábio e pessimista Salomão. É o início do terceito capítulo do livro de eclesiastes.
"Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu.
Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, e tempo de arrancar o que se plantou;
Tempo de matar, e tempo de curar; tempo de derrubar, e tempo de edificar;
Tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar;
Tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar;
Tempo de buscar, e tempo de perder; tempo de guardar, e tempo de lançar fora;
Tempo de rasgar, e tempo de coser; tempo de estar calado, e tempo de falar;
Tempo de amar, e tempo de odiar; tempo de guerra, e tempo de paz."
Ótimo agosto pra todos vocês!
:D
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