quinta-feira, 28 de outubro de 2010

sobre uma história áspera

Tinham combinado pelo msn de se encontrarem lá pelas onze da noite ali no bar do Juvêncio. Se encontram, pedem cerveja belga, e ela fala do cansaço pelo dia de trabalho. E então ele pede uma porção de isca de peixe para o garçon e começa, empolgado.

tive uma idéia ótima prum livro

prum livro?

é, estou querendo escrever um. Tem tanta gente idiota escrevendo e ganhando dinheiro por aí, então pensei "pq eu não posso ser mais um desses idiotas e ganhar algum dinheiro com isso?"

mas é o quê, uma história com vampiros virgens, com cachorros bagunceiros que conquistam toda a família e morrem no final, ou com espíritos no pós-morte que encontram o sentido da existência na caridade?

nada disso, estava pensando em algo mais interessante, um troço mais sério.

conta aí.

então, eu pensei nesse cara, o personagem principal, que é um cara que acabou de se formar em teoria literária e que está prestes a começar sua tese de mestrado na obra do Raduan Nassar, ainda não sabe bem como começar e então um dia ele vai pro sebo pra dar uma garimpada, é algo corriqueiro na vida dele, e então, bem surrado e escondido no canto da prateleira de literatura brasileira ele puxa uma brochura de capa roxa, um livro de poemas escrito em 1974 por um tal de Zenildo Rocha. Ele nunca ouviu falar no cara, mas lê um poema intitulado 'do desespero' e fica fascinado, compra o livro e o lê na mesma noite. Fica completamente aturdido com aquilo, escritos que misturam uma violência de tom quase grotesco com uma volúpia macabra, excitante e nauseante. Ele precisa de mais poemas, quer saber mais sobre o autor, e descobre pelo google aquele livro foi o primeiro publicado por Zenildo, já com 57 anos, e que depois disso lançou mais 3 obras. Morreu em 1993, sozinho, no interior do estado de Minas, assassinda por ninguém sabe quem, com 17 facadas nas costas e com o pênis descepado. Existe uma biografia lançada em 1988, mas é tida por críticos como cheia de erros, mentirosa até. E então o personagem principal lê todos os livros e resolve reescrever a biografia desse poeta mineiro, ele sente um forte impulso dentro de si pra levar aquilo a cabo. Vai a diversas bibliotecas e conversa com um punhado de gente, mas há pouquíssimas informações, quase ninguém se lembra de Zenildo, mas então ele encontra uma matéria publicada por um jornal paulistano no início dos anos 90, sobre uma seita satânica...

peraí, peraí.

o que foi?

deixa eu dizer uma coisa. Esse papo todo é pra me comer? Pq se for, meu, não tá dando certo.

?

sério, eu não vou dar pra você.

?!

tô dizendo isso pq eu gosto de você. A gente já ficou algumas vezes, eu te acho legal e tudo mais, só que não aguento esse negócio de vc ter sempre que ser o genial, o criativo, o inteligente, o artista incompreendido ou sei lá que caralho vc quer. De boa, pode parar de querer ser super mais inteligente que eu, eu já entendi que eu sou burra. Aliás, o que eu quero agora é pegar o cara mais burro desse lugar, tô realmente de boa de aturar neurônios e superegos agora.

Então ela se levanta da mesa, deixando o rapaz completamente sem reação, e caminha em direção ao balcão, onde se encontra um sujeito musculoso que mais parece um touro. Ela puxa o cara pra perto de si e enfia a lingua em sua garganta com vontade e sofreguidão. É possível ver o volume que aumenta de maneira espantosa na calça do cara, motivo que leva o casal a sair do bar e entrar na picape estacionada na calçada da frente. E então, sozinho na mesa, o rapaz pede a conta ao garçon.

Um comentário:

NÃO disse...

Certas garotas não valem a pena ser comidas... Outras são belas interlocutoras... Mas devo admitir que não há nada mais 'tesudo' do que tirar a calcinha dela depois de uma oração bem construída [period](.)

PS: Essa é a primeira vez que me aproximo de um blog sem temer em inserir alguns caracteres nele... Gostei mesmo do 'post', Will!!! Em breve algo vai sair da minha cabeça. Tem a ver com estrada, meios de transporte e, claro, gente. Abraço, querido!