terça-feira, 5 de outubro de 2010

sobre horror e amor na arte

Dia desses eu assiti ao filme Goya, do espanhol Carlos Saura, diretor especialista em filmes de danças espanholas e tal. Fiquei embasbacado pela beleza do filme, e nas soluções criativas para incorporar as obras de Goya na tela.

O quadro dele que mais me desperta sensações é Saturno Devorando um Filho (1819 - 1823). Nele, vemos Saturno (ou Cronos na mitologia grega) arrancando e devorando o braço de um de seus filhos com os dentes. Me impressiona os olhos de Saturno, arregalados e desesperados. Seu corpo é velho e disforme e o ato de canibalismo é hediondo e brutal. O fundo negro afirma ainda mais o clima de horror.

Segundo a mitologia grega, compilada por Hesíodo, Cronos era marido e irmão de Reia, ambos filhos de Urano. Um dia, o oráculo de Urano profetizou que Cronos seria destronado por um de seus filhos. Isso bastou para que ele devorasse os filhos assim que eles nasciam. Quando estava pra parir o sexto filho, Reia resolveu escondê-lo numa caverna, e entregou a Cronos uma pedra enrolada num manto, que ele engoliu sem se dar conta de nada. Já adulto, Zeus retorna para destronar o pai, e o faz vomitar todos os seus irmão que haviam sido devorados.

Acho a história bem legal, mas gosto também de imaginar Saturno/Cronos como o tempo, que nos devora a todos. Somos todos filhos de Cronos, todos ligados de forma inescapável ao tempo, e portanto mais cedo ou mais tarde seremos vencidos.



Mas agora, voltando ao filme do Saura, gostei especialmente da forma como o grande amor da vida do pintor, a Duquesa de Alba, foi trabalhada. Pois bem, o filme começa com Goya já velho, gordo e surdo, vivendo com sua última mulher e contando antigas história pra sua jovem filha. É então que ele conta sobre o maior amor de sua vida, a Duquesa. Goya foi um homem de muitas mulheres, de muitos amores, tipo Martinho da Vila, mas assim como o sambista, só uma era a rainha do seu coração.

E ali, pertinho da morte, era o fantasma de seu grande amor que aparecia para lembrá-lo daquele tempo já apagado, inexistente, só resgatável através da memória. E é aí que entra a minha crença no Grande Amor. Como dizia o Nelson Rodrigues, "Todo Amor é primeiro, único e último". Goya amava sua atual esposa, era muito bem tratado e vivia de maneira razoável. Mas vida, Vida de verdade, essa só com a Duquesa de Alba, o grande amor perdido de sua vida.

No Quadro A Duquesa de Alba, que é de 1795, nota-se que o indicador da gatinha está apontado para o chão. Não é tão fácil assim de enxergar nessa reprodução, mas na areia está escrito "SOY DE GOYA"



SOY DE GOYA

4 comentários:

Anônimo disse...

É aquele com o Javier Bardem? demais!

Will... disse...

Eai Bill, Tiu chico, Will... William Almeida... são tantos nomes... rs... ... cara, sei lá, mas nesse momento quando escrevo, estou chorando..!!! Meu coração está com batidas pesadas e longas que até dói em meu peito.
Te agradeço muito cara, pois naquela época em que te conheci, estava totalmente sem rumo (te enchia o saco com minhas porcarias de pensamentos, desculpe!), afundando em um abismo que para mim era o paraíso, onde meu orgulho não deixava escutar nada, e você foi me mostrando com seu jeito simples e intrigante o sentido e a moralidade de servir a Deus. Você pode estar pensando: não mostrei nada!, mas te falo que abriu o meu subconsciente para uma nova jornada louca pra procurar o que é certo e real além do meu próprio ego. Sei que parece estranho e até chato, mas devo te falar sinto saudades de ti cara!... .. vai um versículo ai.. blz.. Mateus 18:4 "Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não tornades como crianças, de modo algum entrareis no rein dos céus. Portanto, aquele que se tornar humilde como criança, esse é o maior no reino dos céus. abraços...
espero te ver em breve... te considero muito!... vc é muito daorah.. merece tudo de bom cara.. vc sabe...!!!
desculpe por alguma coisa.. não me leve a mal...

Will..
willraguiar@hotmail.com

bill disse...

Então Marília, o filme com o Javier Bardem é o Sombras de Goya, do Milos Forman. É bom pra caralho, mas esse que eu assisti é uma produção da Espanha mesmo, com uns atores menos conhecido por aqui. O título é somente Goya, vale a pena conferir.

Putz, Will, vc enviou aquele e-mail pra cá pro blog, né. Beleza, vou respoder agora mesmo. Sei que vc quer salvar a minha alma, agradeço de verdade por isso. Enfim, a gente conversa.

Will... disse...

foi mal, cara! muito mal neh...:|
se quiser apaga... beleza..
valeu..