quarta-feira, 30 de junho de 2010

duas ou três coisas que eu sei sobre ela - ou duas ou três coisas sobre nós dois

Carolina Matiazzo Cozzi, nascida em 17 de Julho de 1985.
Mora atualmente em Belo Horizonte.
Calça 33.

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No seu ex-apartamento no Cambuí. O Luciano - seu namorado gente boa - pega umas stellas na geladeira. Distribui pra galera e volta pra sacada, onde conversávamos sobre as dificuldades para a emancipação e plena felicidade das pessoas da nossa geração no capitalismo tardio. Sentadas no sofá, as meninas falavam sobre a novela. Abri minha stella com a mão, como de costume. A Carol então se levanta e empurra sua long neck ainda lacrada pra mim. "Isso é coisa pra homem". Ao pressionar e girar a tampinha, senti meu orgulho masculino fortalecido.

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No dia da inauguração do meu bar ela me liga, chorando: "minha mãe não vai me levar. Não vou poder aparecer". "Vc vem sim. Me dá 5 minutos que eu dou um jeito". Chovia. Liguei pra casa e disse pro meu pai ir buscá-la com o fusca. Quando ela chegou, me deu um abraço tão agradecido que me fraquejou até as pernas. Eu iria buscá-la de bike se fosse preciso.

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O encontro se deu pelo cinema. "me empresta o toy story?" Naquele momento, no apogeu da minha egolatria, eu definitivamente subestimei aqueles um metro e meio de menina.

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Uma vez, num dos vários domingos em que a galera se reunia pra ver filmes na casa do Fernando, ela apareceu com o Cecil B. Demented, do Jonh Waters. Antes de dar o play, se pôs em frente à tela e disse: "esse filme eu dedico pro William, que é um gênio e vai ser um cineasta genial". Eu, envaidecido, corei.

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Tinha dezessete anos e estava confinado numa sala com quarenta adolescentes e um adulto falando sobre coisas que não me interessavam. Eu precisava estudar, mas desde aquela época eu já entendia sobre as coisas que realmente importam nessa vida. Todo o dia eu abandonava a sala, no meio da primeira aula. Ia até a sala da frente e botava a cabeça no vão da porta. Ela me via e abria seu sorriso mágico de dentes mindinhos. Descíamos e planejávamos a próxima edição do nosso jornal, o saudoso Arroto!. Ficávamos conversando com a bibliotecária, a Míriam. Falávamos sobre filmes. Sobre quadrinhos. Sobre o futuro. Sobre a vida que levávamos. E naquelas manhãs, éramos felizes.

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Durante muito tempo ela me chamou de 'amiguinho'. Nos conhecemos aos dezessete. Mas era uma ligação forte e pura demais praquela idade. Deveríamos ter nos conhecido aos seis, no prézinho. Eu com a lancheira do Dick Tracy e ela com a da Moranguinho.

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Ela foi a primeira a me fazer ver friends. Além de me apresentar 'Alma de Poeta, Olhos de Sinatra', 'Um Piromaníaco Apaixonado' e 'Sensualidade Virtual'.

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Acho que foi quando ela fez dezoito anos que eu peguei uma câmera emprestada e montei aquele presente pra ela. Umas 90 pessoas dizendo feliz aniversário. Dia 17, de manhã, cheguei no costa do sol, no 6-D. Bati em sua porta, e abracei uma Carol sonolenta e de pijamas. Disse pra elas descer e assistir aquela fita. Ela foi. Fiquei no corredor do quarto com a Cris semi-acordade também de pijamas, os dois de ouvidos bem abertos. Quando o choro e os soluços começaram, senti que todas aquelas semanas de trabalho intenso não tinham sido em vão.

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Ela sempre me liga.
E diz que está com saudades.
E eu digo que ela ainda será a madrinha da minha filha,
e que quando a gente ficar velhinho, vamos causar muito nos clubes de terceira idade, vamos jogar gamão e beber vinho vagabundo.

E eu fecho os olhos e sorrio, pois sei que o melhor ainda está por vir.



2 comentários:

-Rol disse...

Eu Chorei agora!
E não é por causa da maldita dor na boca por causa dos malditos cisos extraídos, e sim, pq essa foi a coisa mais agradável que eu li sobre mim mesma em .. sei lá... muito tempo!
Você sabe que vc é meu fiel escudeiro, meu "conta comigo" e o meu cálice sagrado né?
E ah, nao me lembro do sensualidade virtual! vou ter que rever :D

bill disse...

É simples, eu amo você, só isso.

Se cuida!