terça-feira, 22 de junho de 2010

repensando michael moore

Na minha fecunda e solitária adolescência, assisti meio assim sem querer, numa madrugada de sábado no sbt, a um documentário sobre a devastação social causada em Flynt - Michigan pelo fechamento de uma fábrica da General Motors. Era sábado, dia de cine privé na band, mas confesso que fiquei de tal forma atraído por aquele documentário que nem pensei nos peitinhos que estava perdendo. O filme era Roger & Eu, primeiro longa de Michael Moore, de 1989. Começava ali uma obra no mínimo interessante.

Tiros Em Columbine foi uma experiência extremamente intensa, um filme fortíssimo e com pontos de vista interessantíssimos. A partir daí - 2002 - o cara passou a ser um ídolo para mim - um adolescente revoltado contra a diretora da escola. Logo em seguida, feito com toda a urgência do momento, Fahrenheit 9/11, que me pareceu desde o ínicio um filme carrego demais de informações e cheio de arestas. Mesmo assim levou a palma de ouro em Cannes, num júri presidido por Quentin Tarantino.

Seu filme seguinte, SiCKO, saiu no Brasil direto no dvd e, bem, é ok, mas nada que seja muito memorável. Nessa época - 2007 - o entusiasmo com Michael Moore já havia declinado bastante, dadas as suas estratégias apelativas e populistas. Muitas críticas feitas a ele me fizeram enxergar seu trabalho por uma ótica não tão favorável, e a idéia de que ele não passava de um hipócrita que não sabia o que falava ser tornava cada vez mais forte. E tudo isso era evidente nas partes mais fracas de seus filmes: sentimentalismo barato, comparações esdrúxulas e ingenuidade fake.

Bem, ontem eu assisti com uns amigos seu novo trabalho, Capitalismo - Uma História de Amor. E foi um troço legal, pois eu pesei "foda-se que o Michael Moore dê motivos pra ser um idiota, o cara é um puta diretor!". Que filmão! Que edição perfeita! Até que enfim um filme que remonta ao talento mostrado em Roger e Tiros. Em pouco mais de duas horas, o gordo mostra a desumanidade do mercado imobiliário, a monstruosa ganância de Wall Street, a inédita disparidade entre os mega ricos e os pobres - e o desaparecimento da classe média -, os crimes evidentes das grandes corporações, revoltas populares, enfim, um painel rico, sombrio e de alguma forma esperançoso sobre essa coisinha chamada capitalismo.

Podem até chingar o cara, mas antes só me cite um diretor americano que tenha peitado de uma forma tão aberta o sistema econômico vigente no ocidente - tudo bem que é um sistema econômico do qual ele usufrui, mas mesmo assim acho essa crítica merecedora do mais profundo respeito.

E tenho dito.

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