Abri os olhos de forma vagarosa e limpei o pouco de baba que ligava minha boca ao travesseiro. Feixes de luz do sol da manhã vindas de uma ineficiente janela aqueciam o moleton azul que protegiam minhas pernas. Nove horas. Não tinha ninguém no quarto, os caras devem ter ido pra aula. Estiquei o corpo na cama, estralando algumas articulações chaves, responsáveis pelo subsequente bem estar que me tomou conta. Estava pleno de preguiça. Puxei o cobertor vermelho e adormeci novamente.
- Bill...
Achei que tinha alguém me chamando. Talvez um sussurro. Um ronronar.
- Billzinho...
Abri os olhos e virei lentamente a cabeça na direção do suave perfume que estava me parecendo um bom motivo pra se continuar vivendo. Limpei meus olhos incrédulos e levantei minha cética sombrancelha esquerda. Ajoelhada ao lado da minha parte de baixo do beliche estava uma loirinha de cabelos encaracolados, lábios carnudos e muito vermelhos e uma camiseta comprida do Snoopy que ia até os seus joelhos.
- Scarlett Johansson?!
- Sim querido, sou eu mesmo.
- Mas, mas... vc tá falando português.
- É tive que aprender pra poder falar com vc. Fiquei esperando muito tempo vc aparecer no meu quarto, mas você nunca aprendeu inglês. Fiquei um pouco decepcionada...
- Desculpa... é que eu não fazia idéia.
- Meu amor, não se preocupe com isso. Eu já te perdoei. Já esqueci. A única coisa que importa é que o único lugar em que eu gostaria de estar agora é exatamente aqui. Com você.
Oh deus. Era ela. Meu coração explodia em milhões de suspiros de felicidade, meus olhos sentiam-se novamente em paz por aquela redefinição da imagem da beleza, e meu sorriso era enfim verdadeiro. Após tantos meses de dor ininterrupta, novamente o prazer. A vida ainda podia ter um gostinho de filme do Truffaut.
- Bem Scarlett, acabei de acordar, acho que preciso escovar os dentes.
- Não precisa, trouxe uns sonhos pra você.
- Sonhos?
- Sim, e estão quentinhos.
- É de quê?
- Adivinha...
- Uhnn... doce de leite.
- Puxa, como você é esperto.
Ela passou a mão pelo meu cabelo desgrenhado, provocando um arrepio que deixou cada centímetro do meu corpo em deliciosa desordem. Ela me deu um pacote com 3 sonhos, e também um copo de leite gelado. Enquanto comia, bebia e olhava, ela puxou um travesseiro da cama ao lado, colocou no chão, sentou bem ao meu lado. Então eu disse.
- Você gosta de ovos mexidos com pedacinhos de presunto?
- É meu café da manhã favorito.
- Posso preparar pra você. Vou colocar um pouco de cebola picada também.
Ela sorriu ternamente. Com o olhar meio perdido, confessou.
- Sinto sua falta na minha vida.
- Mas nós nunca nos vimos.
- Eu realmente nunca te vi, mas sempre te amei.
- Mas e o Ryan Reynolds?
- Nosso casamento estava fadado ao fracasso. Ele ainda ama a Alanis. E eu nunca deixei de pensar em você.
- Mas Scarlett, eu não tenho dinheiro, nem fama. Eu tenho dois empregos de merda, e ainda nem terminei a graduação. Acho que não posso te oferecer uma boa vida.
- Bobinho, não se preocupe. Com todo o dinheiro que eu ganho com meus anúncios de moda, podemos ter uma casa em cada país do mundo. Amanhã a gente pode embarcar pra Paris, tenho uma filmagem lá. Daí posso ligar pro Woody, e chama-lo pra nos encontrarmos em algum restaurante de comida chinesa.
- Woody?
- É, o Woody Allen. Ele passa todas as férias dele em Paris, junto com a Soon-Yi e as crianças. E te apresento a ele. Acho que dá até pra arrumar uma vaga de assistente pra você. O que acha?
Naquele momento, quase perdi os sentidos. Lágrimas rolaram dos meus olhos. Envolvi a Scarlett Johansson num abraço apertado, um misto de agradecimento e desespero. Ela aproximou seus lábios macios do meu ouvido e sussurrou:
- Eu vou cuidar de você.
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