segunda-feira, 26 de julho de 2010

sobre machete e o cinema de mentirinha

Ontem eu assisti ao último filme do Alain Resnais, Ervas Daninhas. Filme maravilhoso, sublime, de uma leveza rara e surpreendente. Certamente foi um prazer pra esse veterano da Nouvelle Vague fazer o filme, assim como é puro prazer assisti-lo.

Mas quero agora falar de um outro tipo de cinema. De um tipo que, embora não tão respeitado em círculos intelectuais quanto um Almodovar, um Haneke ou um Fatih Akın, é tão merecedor de crédito quanto qualquer um desses. Estou falando dos filmes B, ou, como gosto de chamar, dos filmes de mentirinha.

Estou falando daqueles filmes do Van Damme dos anos 80, que eram uma merda, mas que faziam a cabeça da garotada. Me lembro de assistir ao Grande Dragão Branco, e sair na rua pra brincar de lutinha. Toda a molecada tinha assistido à Temperatura Máxima no domingo a tarde, e todos tentavam imitar o Van Damme. E tem os filmes do Steven Seagal, que é um ator incrível, pois tem uma expressão só. É a mesma cara pra demonstrar ódio, ternura, desconfiança e desejo. Genial. Isso sem falar nas podreiras do terror. Puxa, como era divertido ir na locadora e ficar horas olhando as capinhas dos filmes na sessão de terror, imaginando qual daria mais medo. Me lembro que duas me tiravam o sono: a do Rato Humano, um filme espanhol que tinha uma capinha terrível, e o Bebê Maldito, que trazia um bebê maldito na capinha.

E tem os filmes de zombie que eram difíceis de conseguir, hoje é bem mais sussa. O cine trash e o cine sinistro, da Band. A sessão kickboxer, que passava as terças, sempre com um novo filme do Jet Li, ou algum John Woo de início de carreira. Enfim, toda essa gama de sploitation, filmes que dispensavam a enrolação e mostravam logo o que importava: violência, sangue, explosão, mulher pelada e muita porrada. Parece bobo, mas o cinema é o espaço das imagens. O cinema nasceu silencioso, feito apenas para os olhos. Se não houver o prazer dos olhos, qual o sentido?

E então chegamos ao lançamento mais aguardado de 2010 (junto com Os Mercenários, do Stallone). Machete, de Robert Rodriguez, um filme que nasceu de uma brincadeira feita para o projeto Grindhouse, mas que foi tão aceito que acabou virando filme de verdade.


Resgatar Steven Seagal para uma nova geração de fãs de tranqueiras foi uma puta idéia genial. O Robert deNiro deu dignidade ao projeto. A Lindsay Lohan pra mim é uma surpresa incrível. Ela deveria largar logo essas comediazinhas bestas e partir pra esse tipo de cinema feito pra cinéfilo e pra gente com problemas mentais. É muito mais o rolê dela (neste momento ela provavelmente ainda está em cana).

Enfim, esse é um dos filmes que exigem ser vistos no cinema. Pra lembrar a todos que cinema também é feito pros olhos e pros instintos.

Um comentário:

Fernando Mekaru disse...

Belo post, ri como não ria faz algum tempo lendo um blog. E que venha Machete e Os Mercenários (outro que faz o cinema anos 80 voltar)!