quarta-feira, 30 de junho de 2010

duas ou três coisas que eu sei sobre ela - ou duas ou três coisas sobre nós dois

Carolina Matiazzo Cozzi, nascida em 17 de Julho de 1985.
Mora atualmente em Belo Horizonte.
Calça 33.

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No seu ex-apartamento no Cambuí. O Luciano - seu namorado gente boa - pega umas stellas na geladeira. Distribui pra galera e volta pra sacada, onde conversávamos sobre as dificuldades para a emancipação e plena felicidade das pessoas da nossa geração no capitalismo tardio. Sentadas no sofá, as meninas falavam sobre a novela. Abri minha stella com a mão, como de costume. A Carol então se levanta e empurra sua long neck ainda lacrada pra mim. "Isso é coisa pra homem". Ao pressionar e girar a tampinha, senti meu orgulho masculino fortalecido.

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No dia da inauguração do meu bar ela me liga, chorando: "minha mãe não vai me levar. Não vou poder aparecer". "Vc vem sim. Me dá 5 minutos que eu dou um jeito". Chovia. Liguei pra casa e disse pro meu pai ir buscá-la com o fusca. Quando ela chegou, me deu um abraço tão agradecido que me fraquejou até as pernas. Eu iria buscá-la de bike se fosse preciso.

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O encontro se deu pelo cinema. "me empresta o toy story?" Naquele momento, no apogeu da minha egolatria, eu definitivamente subestimei aqueles um metro e meio de menina.

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Uma vez, num dos vários domingos em que a galera se reunia pra ver filmes na casa do Fernando, ela apareceu com o Cecil B. Demented, do Jonh Waters. Antes de dar o play, se pôs em frente à tela e disse: "esse filme eu dedico pro William, que é um gênio e vai ser um cineasta genial". Eu, envaidecido, corei.

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Tinha dezessete anos e estava confinado numa sala com quarenta adolescentes e um adulto falando sobre coisas que não me interessavam. Eu precisava estudar, mas desde aquela época eu já entendia sobre as coisas que realmente importam nessa vida. Todo o dia eu abandonava a sala, no meio da primeira aula. Ia até a sala da frente e botava a cabeça no vão da porta. Ela me via e abria seu sorriso mágico de dentes mindinhos. Descíamos e planejávamos a próxima edição do nosso jornal, o saudoso Arroto!. Ficávamos conversando com a bibliotecária, a Míriam. Falávamos sobre filmes. Sobre quadrinhos. Sobre o futuro. Sobre a vida que levávamos. E naquelas manhãs, éramos felizes.

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Durante muito tempo ela me chamou de 'amiguinho'. Nos conhecemos aos dezessete. Mas era uma ligação forte e pura demais praquela idade. Deveríamos ter nos conhecido aos seis, no prézinho. Eu com a lancheira do Dick Tracy e ela com a da Moranguinho.

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Ela foi a primeira a me fazer ver friends. Além de me apresentar 'Alma de Poeta, Olhos de Sinatra', 'Um Piromaníaco Apaixonado' e 'Sensualidade Virtual'.

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Acho que foi quando ela fez dezoito anos que eu peguei uma câmera emprestada e montei aquele presente pra ela. Umas 90 pessoas dizendo feliz aniversário. Dia 17, de manhã, cheguei no costa do sol, no 6-D. Bati em sua porta, e abracei uma Carol sonolenta e de pijamas. Disse pra elas descer e assistir aquela fita. Ela foi. Fiquei no corredor do quarto com a Cris semi-acordade também de pijamas, os dois de ouvidos bem abertos. Quando o choro e os soluços começaram, senti que todas aquelas semanas de trabalho intenso não tinham sido em vão.

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Ela sempre me liga.
E diz que está com saudades.
E eu digo que ela ainda será a madrinha da minha filha,
e que quando a gente ficar velhinho, vamos causar muito nos clubes de terceira idade, vamos jogar gamão e beber vinho vagabundo.

E eu fecho os olhos e sorrio, pois sei que o melhor ainda está por vir.



segunda-feira, 28 de junho de 2010

o pornô nosso de cada dia

Sou cinélifo por paixão e vocação.
Uma das poucas coisas que sei fazer muito bem é ver e falar sobre filmes.

Um gênero que é muito discriminado - talvez pela nossa maravilhosa educação cristã - é o pornô, que é conhecido também pelo insosso nome de 'erótico'. Pôrno. Hahhahah, soa muito mais legal dizer pornô.

Filmes de sacanagem surgiram junto com o próprio cinema. Enquanto a linguagem cinematográfica era inventada, senhores espertos faziam pequenos filmes mostrando garotas peladas e casais trepando, e fazendo tanto sucesso quanto Griffit e Chaplin.

Trabalhando em locadora, me divirto com o público que loca filmes de sacanagem. Como não tenho mais nada de melhor pra fazer, tirei umas fotos de capinhas de filmes de sacanagem. Isso não deixa de ser algo nostálgico. Me explico: na época do vhs - era pré-internet - pra se ver um pornô mais hard que no cine privê era preciso locar um na locadora. Daí rolava aquele frio na barriga, aquele medo de alguém da família ou algum vizinho te ver entrando na sessão ponô. Mas uma vez lá dentro, as opções eram quase infinitas. Centenas de mulheres peladas ali, à disposição. Bastava escolher uma. E daí na hora de passar no caixa era torcer pra ser um cara, e não aquela garota gatinha por quem vc secretamente tem uma queda, afinal você não quer que ela te ache um baita dum punheteiro. Mas hoje é diferente. É só entrar no youporn, ou pornhub, ou qualquer site do tipo e pimba! Milhares de vídeos de sacanagem, grátis.

É o declínio da videolocadora e do império Buttman!


Aqui temos um clássico do garanhão italiano: "As Potrancas de Rocco"


Aqui temos "Rocco Desonra Rússia", onde o herói come um monte de ex-comunistas.


Mais um exemplar das aventuras de Rocco pelo mundo, dessa vez em Ibiza. Isso foi antes dele começar a fazer filmes com travestis, para a tristeza de milhões de fãs, com o ignorado "Quem fodeu Rocco?"


Aqui temos a respeitadíssima Belladonna, que após fazer uma série antológica de filmes lésbicos durante sua gravidez, começou a lançar uma série bizzara de sexo com pés!


Agora é pura nostalgia. Antes de casar e abandonar o pornô, a theca mais gostosa de todos os tempos, Silvia Saint, rainha absoluta da sacanagem dos anos 90, lançou essa coletânea "Saideira de Quatro". Fim respeitável pra uma carreira extraordinária.


Aqui temos uma amostra do belo talento dessa baixinha.


Pra quem ia na locadora na época do vhs se lembra da quantidade absurda de trasheira que rolava no pornô. Garotas que gostam demais dos seus cachorrinhos eram figuras constantes desse rolê.


O verdadeiro cachorrão das menininhas!


E aqui uma amostra dos filmes das garotas de pica. É surpreendente a quantidade de casais que locam filmes de traveco, e mais ainda de senhores insuspeitos que, após uma vida toda dedicados à esposa e aos filhos, ficam curiosos pra ver mulheres de pau duro. Haussuhshh


E então temos os pornôs com celebridades em decadência, que é uma das formas encontradas pela indústria de continuar na ativa. O Frota é um dos pioneiros do filão, e tembém um dos maiores sucessos da Brasileirinhas.


Aqui a evangélica e simpatissíssima Rita Cadilac.


E por fim, as paródias a grandes sucessos do cinema americano.


Ah, não poderia ir embora sem botar uma foto da mina mais fodona do pornô do anos zero zero: Gianna Michels. Ipi, ipi, hurra!!!

domingo, 27 de junho de 2010

sobre domingos livres

Sexta feira trabalhei 10 horas seguidas. Dormi 2 horas e meia. Acordei. Sábado foram mais 16 horas seguidas. E no domingo enfim tenho uma folga. Acordei as 3 da tarde sentindo cada parte do meu corpo doer, muita fome e alguma dor de cabeça. Fui na tonha e esperei 30 minutos por um marmitex. Fui na casa do Allan e almocei lá. Comer é um troço realmente gratificante.

Voltei pra casa - vulgo g8a - e fui ver se tinha algum scrap pra mim. O último foi aquele em que o Caio mandou um gift da Scarlett. As pessoas não me escrevem muito, mas foda-se, nem sei porque ainda mantenho o orkut. Fui ver o último vídeo do PC Siqueira, e achei muito bom, foi a primeira vez que a nova namorada dele apareceu. O vlog dele tá tomando uns rumos bem interessantes. Gosto de acompanhar isso.

Assisti a um filme norueguês bem bizarro com o Gabriel, chamado 'Negro Queimado'. Filme bizzarro, bem louco e divertido. Depois vi um pouco do Silvio Santos e resolvi ligar pro Eugênio. Fui pra casa dele e assisti ao pânico na tv com os caras. Macarrão, sorvete, michael jackson e profundas discussões sobre putaria.

As 3:30 da manhã voltei pra casa.
Com frio, mas satisfeito.

Quando se tá na merda, os amigos ganham uma dimensão gigantesca.



quarta-feira, 23 de junho de 2010

relembrando a copa de 94

Faz um bocado de dias que quero falar sobre isso.

Não quero falar sobre vuvuzelas e nem sobre a bola oficial da copa, não quero falar sobre o calabocagalvão e nem sobre o injustiçado Kaká.

Quero relembrar os meus momentos de infância, porque foi lá que eu conheci uma felicidade plena que, como toda felicidade, é fugaz, com prazo de validade, mas que mesmo assim, ou por isso mesmo, me desperta uma saudade tão grande.

Só deixo claro que não se trata da história de que o passado é bom só pq é passado. Eu fui uma criança muito feliz, nunca quis crescer logo. Eu queria era ser um x-man, ou no máximo ser um cientista, que nem o Beakman, mas ser adulto era um negócio que eu nunca me apressei pra ser. Essa fase extraordinária da vida durou até quando eu me apaixonei pela primeira vez. Entre se apaixonar e beijar uma menina pela primeira vez, foram 10 anos, ou seja, minha infância foi azedando bem aos poucos, de uma forma triste e amarga, assumindo uma coloração cada vez mais cinza e melancólica.

De qualquer forma, as garotas não conseguiram estragar meus gloriosos primeiros anos.

E então, em 1994, eu tinha 9 anos de idade. Ia ter a copa do mundo e o papai ia ver o jogo em casa. Ótimo, iria assistir aos jogos com ele. Não me lembro de ver futebol antes disso, não fui uma daquelas crianças que ganham camisa de time desde pequerrucho. Nunca havia ido a um estádio de futebol, aliás eu não fui até hoje. Então aquele evento grandioso nos estados unidos apresentariam os primeiros jogos que eu iria assistir.

Me lembro que dias de jogo pareciam sempre com domingo. Lembro do Fernando mais preocupado em acender bombinhas de mil do que em ver futebol. Lembro daquele gol de falta inacreditável do Branco. Do papai levantando eu e meu irmão no ombro, quando o Brasil fazia um gol. Lembro da prorrogação. Lembro de suar muito nos pênaltis. Lembro de ficar fascinado com a narração do Galvão Bueno. Me lembro dum sentimento de pertencimento total, de absoluta integração aquele evento. Era tudo muito inédito. E ver o Brasil ser tetra foi um troço sem igual. Totalmente irrepetível.

Época boa em que a proteção vinha dos pais.
Em que o mundo era um lugar confortável pra se viver.
Época em que era possível se preocupar exclusivamente em brincar e se divertir.

terça-feira, 22 de junho de 2010

repensando michael moore

Na minha fecunda e solitária adolescência, assisti meio assim sem querer, numa madrugada de sábado no sbt, a um documentário sobre a devastação social causada em Flynt - Michigan pelo fechamento de uma fábrica da General Motors. Era sábado, dia de cine privé na band, mas confesso que fiquei de tal forma atraído por aquele documentário que nem pensei nos peitinhos que estava perdendo. O filme era Roger & Eu, primeiro longa de Michael Moore, de 1989. Começava ali uma obra no mínimo interessante.

Tiros Em Columbine foi uma experiência extremamente intensa, um filme fortíssimo e com pontos de vista interessantíssimos. A partir daí - 2002 - o cara passou a ser um ídolo para mim - um adolescente revoltado contra a diretora da escola. Logo em seguida, feito com toda a urgência do momento, Fahrenheit 9/11, que me pareceu desde o ínicio um filme carrego demais de informações e cheio de arestas. Mesmo assim levou a palma de ouro em Cannes, num júri presidido por Quentin Tarantino.

Seu filme seguinte, SiCKO, saiu no Brasil direto no dvd e, bem, é ok, mas nada que seja muito memorável. Nessa época - 2007 - o entusiasmo com Michael Moore já havia declinado bastante, dadas as suas estratégias apelativas e populistas. Muitas críticas feitas a ele me fizeram enxergar seu trabalho por uma ótica não tão favorável, e a idéia de que ele não passava de um hipócrita que não sabia o que falava ser tornava cada vez mais forte. E tudo isso era evidente nas partes mais fracas de seus filmes: sentimentalismo barato, comparações esdrúxulas e ingenuidade fake.

Bem, ontem eu assisti com uns amigos seu novo trabalho, Capitalismo - Uma História de Amor. E foi um troço legal, pois eu pesei "foda-se que o Michael Moore dê motivos pra ser um idiota, o cara é um puta diretor!". Que filmão! Que edição perfeita! Até que enfim um filme que remonta ao talento mostrado em Roger e Tiros. Em pouco mais de duas horas, o gordo mostra a desumanidade do mercado imobiliário, a monstruosa ganância de Wall Street, a inédita disparidade entre os mega ricos e os pobres - e o desaparecimento da classe média -, os crimes evidentes das grandes corporações, revoltas populares, enfim, um painel rico, sombrio e de alguma forma esperançoso sobre essa coisinha chamada capitalismo.

Podem até chingar o cara, mas antes só me cite um diretor americano que tenha peitado de uma forma tão aberta o sistema econômico vigente no ocidente - tudo bem que é um sistema econômico do qual ele usufrui, mas mesmo assim acho essa crítica merecedora do mais profundo respeito.

E tenho dito.

domingo, 20 de junho de 2010

domingo

Domingo. Falta meia hora pro jogo do Brasil. G8A.

Will - Sabe como você sabe que não tem mais nenhuma noção do que fazer da sua vida?
Rodrigão - Ãhn.
Will - Quando você compra a revista Vida Simples (tiro então uma edição da mochila)
Estevão - Minha mãe lê essa revista.
Will - Ok, estou com uma certa vergonha agora.
Estevão - hahah, acho que ela assina, sei lá. Em casa tem um monte.
Will - Mas a revista é massa. É pra galera que quer levar a vida mais de boa.
Rodrigão - Se a maconha fosse legalizada, ia ter uma folha de Cannabis na capa da Vida Simples. Aí sim a galera ia levar a vida mais de boa.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

vivendo e tomando no cu

Eu tenho um bar. O Woodstock.
Tenho constantes crises com relação a ele. Com ele aprendi um bocado de coisas sobre administração e responsabilidade, e foi também lá que conheci um grande amor para logo depois perdê-lo. Desde o começo do ano um dos ex-funcionários tem me atormentado a vida por causa de grana, e a iminência de um processo trabalhista paira sobre minha cabeça. Sempre fui um carinha simpático e boa praça. Me tornei irritadiço e mal humorado quando estou trabalhando. Sirvo cerva e bebidas com aquela cara de quem tá com as bolas inchadas, e na hora de cobrar a comanda é recorrente eu nem olhar pra cara de quem tá pagando. Às vezes surto porque acho que todo mundo acha o bar porco, sujo e mal organizado. Acho que todo mundo fala mal do bar, que todos me odeiam e só vão lá pq não existe outra opção pra se ir curtir um rock.

Bem, depois que o Hammer fechou, ouvir metal é no Woods ou no Sebastian, que cobra muito caro na entrada, inviabilizando se tornar um cliente constante. O bar do zé fica num distrito afastastado, o que faz do Woodstock realmente a única opção pra quem quer curtir rock em Campinas.

Mas as vezes rola umas coisas legais. Tipo, na sexta, uma mulher foi pagar a comanda e me disse "É a primeira vez que venho aqui. Faz tempo que não me divertia tanto numa noite. Parabéns pela casa". Abri um sorriso muito sincero. Isso me faz lembrar de muita gente que cola sempre no Woods, independente de estar tocando metal, indie ou gótico. Eles vão porque se sentem em casa no bar. Vão porque lá a bebida é barata. Porque dá pra ficar de boa, não tem frescura nem playboyzada. E porque, é claro, o som frequentemente é bom. Há gente muito querida lá. Realmente.

Na real, eu gostaria de ter condições de oferecer uma estrutura e serviços melhor no bar. De fazer a noite dos clientes cada vez melhor. Talvez minha frustração venha daí.

Bem, na sexta feira a polícia e agentes da prefeitura foram ao bar, integrando a operação Tolerância Zero, que vem fechando bares e baladas em Campinas desde o final do ano passado. Apresentamos nossa documentação, mas tomamos uma multa de Quatro mil e Quinhentos reais pra ser paga essa semana, pela falta de laudo acústico e por reclamação de vizinhos. Eles disseram que voltarão em breve, e se as reclamações persistirem, o bar será lacrado.

Vamos fazer de tudo pra que o bar se mantenha aberto, mas é possível que sejamos fechados.

Desde que o ano começou as coisas só tem piorado pra mim. São inúmeras merdas acontecendo, e não há previsão de melhora. A cada dia que passa tudo fica pior e pior. Mas mesmo no meio de tanta infelicidade ainda há momentos em que podemos distrair a cabeça e rir. Como quando eu encontrei o grande Rafael Castro, que tocou no Woods nessa mesma sexta.

minha pequenez


Essa obra aí é a Coroação de Napoleão, do Ingres, que está no Museu do Louvre. Olho pra essa monumental obra de um homem, e logo depois pra minha minúscula dimensão, logo ali à esquerda. Importante lembrar que somos menos que o menos.


Aqui estou fazendo comidinha no apê, enquanto nevava muito lá fora. Na real, postei isso por pura saudade. Época curta e boa em que eu achei que 2010 seria o ano mais produtivo e interessante da minha vida. Época boa em que viver ainda era um baita dum prazer.

em defesa da amélia

Quem me conhece sabe que eu sou um preto fajuto e sem vergonha.
Agora que estou nessa fase de reestruturação e tal, resolvi virar um preto de verdade, um verdadeiro orgulho da etnia. Comecei trabalhando feito um mouro em empregos desgastantes. Depois fui tratar de ficar forte, pra deixar de ser neguinho e virar negão (Bill Fifiti Centi).E por fim, estou escutando mais samba. Caçando coisas no youtube, indo com mais frequência na Casa São Jorge. Comprei até o vinil do Jamelão pra ouvir lá no Allan. Isso tem me feito um bem danado. Ouvir os caras do passado chorando suas lamentações de maneira tão bonita faz com que o meu sofrimento não se sinta tão estrangeiro. Sofrer de amor quando se ouve samba é resignificar a dor.

Enfim, vamos ao ponto. Estava ouvindo esses dias o Ai Que Saudades da Amélia, samba escrito por Mário Lago e musicado por Ataufo Alves em 1941. Me surpreendi enormemente. Desde a meninice eu ouvia que a música da Amélia era machista. Ouvia as mulheres dizendo que não queriam mais ser Amélia. Que quem mandava em suas vidas eram elas próprias. Eu que nunca fui um ser muito movido pelo ouvido embarquei nessa, criando a imagem icônica de uma Amélia humilhada e subalterna.

Após abrir meus ouvidos pra música, tudo se iluminou.

"Nunca vi fazer tanta exigência
Nem fazer o que você me faz
Você não sabe o que é consciência
Não vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza
Tudo o que você vê, você quer
Ai meu Deus que saudade da Amélia
Aquilo sim que era mulher

As vezes passava fome ao meu lado
E achava bonito não ter o que comer
E quando me via contrariado dizia
Meu filho o que se há de fazer

Amélia não tinha a menor vaidade
Amélia que era a mulher de verdade"

O cara tá com uma mulher que é a maior patricinha. Daí ele fica lembrando de seu antigo amor. A senhorita Amélia. A Amélia era uma baita companheira. Não pedia arrego, tava sempre acompanhando o rolê, mesmo nos piores momentos. Já que citei o Allan logo antes, vou reproduzir uma história que ele me contou. Ele disse que num certo final de semana de uma época muito ruim pra ele, sua namorada Nádia ligou dizendo que iria aparecer em sua casa, na moradia, no final de semana. "Vc tá louca. Eu não tenho dinheiro nem pra comprar comida". Ela então respondeu: "então a gente passa fome juntos".

É isso mano. A Amélia era uma companheira extraordinária. Pra ela não importava todos os adornos transitórios do mundo. O que era importante era seu amor. Seu companheiro.

Mas então eu pergunto: se a Amélia era tão foda assim, o que caralho foi que o Mário ou o Ataufo fizeram pra que ela fosse embora. Porque o sujeito não continuou com ela? Mulher ponta firme assim não se acha em qualquer lugar. O que teria feito a Amélia se desiludir e abandonar o seu amor?

Minha opinião: o cara era homem. E como todo homem, fez merda.

domingo, 6 de junho de 2010

Scarlett & Eu

Abri os olhos de forma vagarosa e limpei o pouco de baba que ligava minha boca ao travesseiro. Feixes de luz do sol da manhã vindas de uma ineficiente janela aqueciam o moleton azul que protegiam minhas pernas. Nove horas. Não tinha ninguém no quarto, os caras devem ter ido pra aula. Estiquei o corpo na cama, estralando algumas articulações chaves, responsáveis pelo subsequente bem estar que me tomou conta. Estava pleno de preguiça. Puxei o cobertor vermelho e adormeci novamente.

- Bill...

Achei que tinha alguém me chamando. Talvez um sussurro. Um ronronar.

- Billzinho...

Abri os olhos e virei lentamente a cabeça na direção do suave perfume que estava me parecendo um bom motivo pra se continuar vivendo. Limpei meus olhos incrédulos e levantei minha cética sombrancelha esquerda. Ajoelhada ao lado da minha parte de baixo do beliche estava uma loirinha de cabelos encaracolados, lábios carnudos e muito vermelhos e uma camiseta comprida do Snoopy que ia até os seus joelhos.

- Scarlett Johansson?!
- Sim querido, sou eu mesmo.
- Mas, mas... vc tá falando português.
- É tive que aprender pra poder falar com vc. Fiquei esperando muito tempo vc aparecer no meu quarto, mas você nunca aprendeu inglês. Fiquei um pouco decepcionada...
- Desculpa... é que eu não fazia idéia.
- Meu amor, não se preocupe com isso. Eu já te perdoei. Já esqueci. A única coisa que importa é que o único lugar em que eu gostaria de estar agora é exatamente aqui. Com você.

Oh deus. Era ela. Meu coração explodia em milhões de suspiros de felicidade, meus olhos sentiam-se novamente em paz por aquela redefinição da imagem da beleza, e meu sorriso era enfim verdadeiro. Após tantos meses de dor ininterrupta, novamente o prazer. A vida ainda podia ter um gostinho de filme do Truffaut.

- Bem Scarlett, acabei de acordar, acho que preciso escovar os dentes.
- Não precisa, trouxe uns sonhos pra você.
- Sonhos?
- Sim, e estão quentinhos.
- É de quê?
- Adivinha...
- Uhnn... doce de leite.
- Puxa, como você é esperto.

Ela passou a mão pelo meu cabelo desgrenhado, provocando um arrepio que deixou cada centímetro do meu corpo em deliciosa desordem. Ela me deu um pacote com 3 sonhos, e também um copo de leite gelado. Enquanto comia, bebia e olhava, ela puxou um travesseiro da cama ao lado, colocou no chão, sentou bem ao meu lado. Então eu disse.

- Você gosta de ovos mexidos com pedacinhos de presunto?
- É meu café da manhã favorito.
- Posso preparar pra você. Vou colocar um pouco de cebola picada também.

Ela sorriu ternamente. Com o olhar meio perdido, confessou.

- Sinto sua falta na minha vida.
- Mas nós nunca nos vimos.
- Eu realmente nunca te vi, mas sempre te amei.
- Mas e o Ryan Reynolds?
- Nosso casamento estava fadado ao fracasso. Ele ainda ama a Alanis. E eu nunca deixei de pensar em você.
- Mas Scarlett, eu não tenho dinheiro, nem fama. Eu tenho dois empregos de merda, e ainda nem terminei a graduação. Acho que não posso te oferecer uma boa vida.
- Bobinho, não se preocupe. Com todo o dinheiro que eu ganho com meus anúncios de moda, podemos ter uma casa em cada país do mundo. Amanhã a gente pode embarcar pra Paris, tenho uma filmagem lá. Daí posso ligar pro Woody, e chama-lo pra nos encontrarmos em algum restaurante de comida chinesa.
- Woody?
- É, o Woody Allen. Ele passa todas as férias dele em Paris, junto com a Soon-Yi e as crianças. E te apresento a ele. Acho que dá até pra arrumar uma vaga de assistente pra você. O que acha?

Naquele momento, quase perdi os sentidos. Lágrimas rolaram dos meus olhos. Envolvi a Scarlett Johansson num abraço apertado, um misto de agradecimento e desespero. Ela aproximou seus lábios macios do meu ouvido e sussurrou:

- Eu vou cuidar de você.