sexta-feira, 22 de maio de 2009

sobre o ser que resvala para o nada

(este post nasce da leitura de Heidegger, e de aulas do Giacóia)



"-Você não deveria esperar nada, isto é o mais importante, não deve esperar nada.
-Como 'não esperar nada'? Quem falou que estou esperando algo?
-Todos nós esperamos algo. Eu, por exemplo, toda a minha vida esperei por algo. Toda minha vida me senti como se estivesse numa estação ferroviária. E sempre me senti como se eu não tivesse vivido. Mas sempre esperando por uma vida, uma espera, algo real, algo importante"
O Sacrifício - Andrei Tarkovski

Gostei deste diálogo proferido pelos personagens deste belíssimo filme do Tarkovski. Acho que ecoa de forma bastante audível em recantos que por vezes decidimos deixar esquecidos, e que entretanto teimam em repetir seu perturbador mantra.

Eu sempre pensei em questões não tão fáceis de responder, como o porquê de estar vivo, qual o propósito desta existência, qual é a melhor forma de viver essa vida, coisas do gênero. E por isso decidi fazer um curso superior de Filosofia. E então fui aprendendo algumas coisinhas, como, fazer filosofia é totalmente diferente de fazer ciência, e também completamente diferente de fazer história da filosofia. Enquanto as ciências estudam as coisas que existem, e nada mais, a filosofia pensa acerca deste nada mais. E este nada mais é complicado, pois ele não se deixa apreender. É como a batida figura de uma pessoa tentando segurar água com a mão, e a água escorrendo entre seus dedos. Desta disposição de ânimo (angustiada) é que nascem as indagações acerca dos problemas que realmente importam.

Eu, William, vejo como primeira dificuldade saber quais são os problemas que realmente importam. E é pra isso que existe os filósofos, pra apontar um caminho, propor diálogos. Quem lê uma obra de filosofia siplesmente pra memorizar alguns conceitos, faz história da filosofia. O pensamente só brota quando o leitor toma a palavra, e começa a dialogar com o autor, saindo da posição passiva de leitor e assumindo o papel daquele que responde. E aí temos a responsabilidade.

A decadência do gênero humano está exatamente em nos eximirmos da responsabilidade, em abdicarmos de nosso direito de resposta. Ora, porque diabos eu responderei por mim, se o meu pastor, se o meu analista, se o meu pai, se o meu cônjuge, se o meu médico, se meu advogado, se o meu autor favorito pode fazer isso por mim? Vivemos em um mundo onde pessoas ganham muito dinheiro por cuidar da vida de outros. E esses outros somos nós, que nos tornamos cada vez mais coxos e incapazes de guiar e dar uma direção em nossas vidas.

Isto só nos afasta das perguntas que importam. Com tantas pessoas decidindo nossa vida, deveria haver mais tempo pra pensar em nós, mas é incrível a quantidade de afazeres inúteis que conseguimos acumular durante o dia. Todos os shoppings centers são dedicados a ocupar nosso tempo, fazendo com que a angústia não surja, fazendo com que não exista tempo pra pensar no que realmente importa. Arrumamos tempro pra tudo, mas este tudo é nada. Criamos mil coisas pra serem feitas, mas nos esquecemos constantemente de nós mesmos.

A forma mais comum de se eximir da responsabilidade é a religião. Pra quem tem é ótimo, as respostas já estão prontas. Mas pra quem não tem, fica a angústia do ser que é para a morte. Um ser para o mundo e para a morte.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

compartilhando tentativas de diversificar negócios

Olá amigos,
a mais ou menos uma semana eu decidi criar um blog pra falar sobre a cena rock de Campinas. A idéia era criar um portal onde fosse possível acompanhar as atividades das bandas, baladas e eventos que acontececem na cidade. Coincidiu de meu sócio e amigo, Reinaldo, ter a mesma idéia de blog. Eu criei um, o cebola, e ele ficou estudando formas de se ganhar dinheiro com o blog. Decidimos fazer uma parceria, e, após algumas conversações, o blog enfim está no ar!

http://cebolacampinas.blogspot.com/

Entrem e se divirtam, sem cerimônias.
Ah, e não se esqueçam de clicar em tudo o que verem.
A gente ganha dinheiro cada vez que alguém clica naqueles anúncios de produtos.

:D

segunda-feira, 11 de maio de 2009

um malvadinho pra quebrar o gelo



É só clicar pra poder ler.

o presente certo para a mulher certa

Sempre me achei bem provido da capacidade de escolher o presente certo pra uma garota. Seja o box de dvd do seriado favorito dela, o novo cd de sua sambista predileta, ou mesmo uma boa garrafa de chianti, o presente apropriado transforma qualquer dia ordinário em ocasião especial. Sou daqueles que acham que presente é uma coisa fundamental, algo bem mais sério que simples gesto de convenção. Mas, por algum desses motivos que dá preguiça de tentar pensar/entender/explicar, dar um presente pra minha mãe neste último domingo não foi tarefa tão simples assim.

Sei lá, o que eu posso comprar pra ela? Flores? Ah, isso meu irmão já fez. Livros? Ela só lê a bíblia. Dvd? Acho que ela prefere as novelas da record. Depois de muito considerar (e de um certo empurrão de minha namorada), decidi por algo que realmente exigia um verdadeiro esforço de minha parte. Resolvi acompanha-la até a igreja.

Faziam 6 anos que eu não ia pra igreja batista. Só pisei por lá no batismo da minha irmã. Pensei preliminarmente no fato de eu não acreditar mais no Deus da bíblia, e em como participar de um culto evangélico não iria acrescentar muita coisa em mim. Mas, bem, foda-se, eu faria isso pela minha mãe, pra deixar ela feliz, já que seu maior desejo é que eu volte pra igreja (o sacrifício do personagem do filme 'adeus lênin' foi muito maior que o meu).

Cheguei em casa na madrugada sábado/domingo, às 5 da manhã. Às 8:30 estava de pé pra ir à escola bíblica dominical. Um pouco mais tarde, às 7 da noite, estava de volta pro culto noturno. A mamãe estava radiante, em estado de graça, apresentando seu filho desgarrado e sua nora espírita (claro que ela não sabe disso) pra todo mundo da igreja. Foi agradável, nada que eu já não esperasse. O importante é que ela ficou feliz.

Porque talvez seja fácil agradar a garota que se ama. Mas é mais difícil agradar a mulher que mais te amou no mundo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

parlapatões, patifes e putarias


Na virada cultural deste ano, Mazu, Lou e eu fomos ver uma peça do grupo "parlapatões, patifes e paspalhões. Eu já havia visto o espetáculo "nada de novo", e esperava algo nessa linha. Bobo e divertido. Eles são uma trupe moderna de palhaços, que, como todo palhaço, às vezes é engraçado, às vezes é muito sem graça. Contudo, mesmo quando é sem graça, ainda é bom. Talvez pela figura do palhaço ser bastante dúbia. Enfim, quando tiverem oportunidade, vejam!

Quando entrei na sala, estranhei a quantidade de crianças, já que a outra peça que eu havia visto deles tinha uma porção de palavrões. Mas depois percebi que os desavisados pais acreditam que teatro é um tipo de realização cultural boa para a formação dos filhos. Teatro infantil é bom pra formação das crianças. Teatro adulto é todo putaria. Me lembro de poucas peças onde eu não via claramente um par de peitos, ou um pinto murcho, ou mesmo umas boas dúzias de palavrões.

O espetáculo 'U Fabuliô' é muito divertido, cheio de piadas verbais e visuais sobre sexo, que as vezes soam como desnecessárias. Mas algo interessante sobre o teatro é notar que, em seu local de nascimento, Grécia, as comédias eram recheadas de conteúdo erótico gratuíto. Lendo a obra de Aristófanes, "As Nuvens', vi uma nota do tradutor, dizendo que era comum os atores carregarem, sob a capa, reproduções de pintos, que ao serem mostrados ao público, fazia todos caírem na gargalhada, principalmente as mulheres e crianças. Tá na tradição do teatro.

Ri muito. Talvez pelo sexo ter sido tratado com muito humor, e não com a costumeira seriedade e sissitude imposta pela nossa tradição cristã.

Pra quem interessar, o texto a seguir fala disso:

"Há uma loucura cotidiana talvez mais verdadeira que a dos hospícios. As fantasias que vagam em nossas cabeças são cura e veneno da convivência humana. Se, de um lado, o prazer é um estímulo diário a existência, de outro, a falta de realização pessoal e de insatisfação pode armar-se contra a própria vida. Ao mesmo tempo, se podamos a imaginação perdemos a perspectiva de alcançar satisfação e se não aprendermos a conviver com o fato de que a vida é constituída de outros elementos que não apenas o prazer,podemos mergulhar, aí sem, na loucura de camisa-de-força. Institucional, reconhecida.
Comediantes trabalham com o objetivo de fazer rir, de propiciar prazer. Este prazer pode ser superficial ou profundo, depende do que pretende o comediante, ou mesmo de sua sensibilidade. Para brincar com a insanidade diária, portanto, foi necessário que encontrássemos uma maneira de nos expressarmos que de tão ingênua pudesse ser realmente cruel. Nos fabliaux franceses do século XIII e XIV resvalamos na origem de situações que provocam este tipo de humor. U Fabuliô é um jeito inventado de abrasileirar fabliaux, que em francês quer dizer fábula, um gênero licenciado de fábula. Cruel ao brincar com defuntos e pornográfico ao desnudar o amor de uma mulher por um padre. Enfim, uma pornografia infantil de quem saúda o sexo, de quem o quer presente, vital, profundo: contra uma pornografia industrial, que humilha nossos desejos e fantasias, rasteira, superficial.
A profundidade de uma obra artística pode ser pretendida e não alcançada. Em geral, isto acontece quando o artista perde seu poder de comunicação com o público. Saímos então das salas escuras e vamos aos espaços abertos, situamos nossa farsa num lugar qualquer do nordeste brasileiro, mas que poderia acontecer em qualquer outro lugar. Falamos olho-no-lho com o nosso público, brincamos com ele na expectativa de que reaprenda a brincar, que possa ser cruel e pornograficamente infantil. Quem sabe assim passemos todos a enxergar de outro ângulo as nossas loucuras diárias."

Hugo Possolo

terça-feira, 5 de maio de 2009

marcelo camelo


A primeira vez que ouvi as músicas do disco SOU, do Camelo, foi no programa 'ensaio', na cultura. Achei as músicas lentas demais, chatas demais. Com exceção de 'copacabana', uma marchinha de carnaval bastante alegre. E foi assim mesmo, com uma baixa expectativa com relação à apresentação, que eu fui assistir ao show do vocalista do Los Hermanos na virada cultural deste ano. E que show!

Fiquei surpreendido pela animação das músicas, que não eram mais chatas e lentas, mas sim bonitas e intimistas (Hehehehh, a linguagem é um negócio engraçado, basta renomearmos algo para que ele mude completamente de sentido). O ponto é que a cada música tocada, eu sentia uma paz de espírito cada vez maior e mais envolvente, uma sensação de plenitude que me tomava por completo. Quando ele tocou 'pois é', do disco '4', senti todos os pêlos do meu corpo se eriçando, experienciando a potência da canção, sua força invisível, lentamente incorporando esse espírito tão misterioso que só se manifesta na música, e através da música.

É somente nesses breves momentos que uma porção de coisas passam a fazer sentido.

Sempre fui um sacerdote cinematógráfico, o que me tornou um pagão no templo da música. Não recebi batismo, tampouco fui iniciado em seus mistérios. Mas eu sei que dentro de mim não há somente olhos, existem também ouvidos ansiosos por explorar os campos sagrados do som. Lembrando o bandido que foi salvo em seus últimos momentos na cruz, nunca se é tarde para a conversão.

O show do Marcelo Camelo foi uma dessas experiências únicas e irrepetíveis na vida. Mas talvez todas as nossas experiências sejam únicas e irrepetíveis. Enfim, o prazer de ouvir cada uma das música de seu novo trabalho é algo insubstituível. E isso me faz muito feliz.

Ah, e 'copacabana' continua sendo a melhor!

:D

sobre a virada cultural de 2009



Só aqueles que já foram pruma virada em São Paulo fazem idéia da proporção da brincadeira. Criado a 5 anos pelo Zé Serra, baseado na Nuit Blanche que acontece em Paris no início do mês de outubro, a Virada Cultural se resume em 24 horas de atividades culturais, ocorrendo em diversos lugares da cidade ao mesmo tempo. E não é necessário pagar o valor de entrada, pois, como bem lembrou o Lirinha no show do Cordel, os shows não são realmente de graça, já que foram pagos pelo cidadão na forma de impostos.



Começei indo ao museu da língua portuguesa com a Mazu e o irmão dela. Um lugar massa, muito massa. É tipo um templo dos linguistas. Me deu uma vontade danada de voltar uma outra vez e apreciar tudo com mais calma. Sem o irmãozinho e com a amiga Lou, rumamos portanto para o primeiro show da noite, Sandálias de Prata, banda de sambarroque de Campinas. Bom som, mas não empolguei muito. A segunda atração vinha direto do largo do Arouche: Benito de Paula. Só véiarada. Eu esperava uma coletânia de antigos sucessos, uma apresentação nostálgica e bonita. Mas o Benito tava completamente bêbado, nem cantando direito tava, ficava pedindo pro povo cantar. Daí ficamos de saco cheio e fomos ver Geraldo Azevedo, que eu não conhecia, mas achei muito bom. Então a Mazu foi dormir e eu fui ver o Joelho de Porco, na praça da república! Clássicos como 'maldito fiapo de manga' me lembraram meus 15 anos, e lá pra metade do show encontrei meus comparsas do woodstock, completamente bêbados.


Assim que a banda acabou, rumei pra av. são joão, pra assistir aquele que foi a melhor coisa que vi por lá: Marcelo Camelo. Como o show foi muito bom e tenho muito a dizer sobre ele, vou deixar pra um post futuro. Terminado o Camelo, fui ver o grande rei do brega no largo do Arouche. Reginaldo Rossi começou um pouquinho atrasado, era 1 e 40 mais ou menos, mas fez um show de arrebentar. Começou soltando várias pérolas: “Por que Frank Sinatra pode e Waldick Soriano não pode? Qual a diferença entre Mozart e Wando? Por que em inglês pode e em português não pode? I’m the king of brega”. Fóda, muito fóda. Como diz a viadagem, me diverti horrores! Ele cantou Beatles, Frank Sinatra, Creedence, tudo num inglês muito zuado, mas as músicas funcionavam, talvez porque ele seja muito verdadeiro no que faz. Um puta show massa com um cara que carrega na testa e no coração o orgulho de ser popular. Ah, e se vocês ainda não ouviram a música "A raposa e as uvas", mano, ouça!



Finda a apresentação do King of Brega, fui ver BNegão, Thalma de Freitas, Carlos Dafé e os caras do Coletivo Instituto tocarem as músicas da fase racional do Tim Maia. Grata surpresa. As letras são involuntariamente cômicas, bem ruinzinhas, só falam dessa tal religião racional que o Tim Maia seguiu. Mas as músicas, ah, as músicas são ótimas, puta som fudido, impossível não curtir balançando o corpo. Assim que acabou eu reencontrei o Bruno, Reinaldo, Luan & cia pra curtir o Matanza. 50 minutos de rock, testosterona e a maior quantidade de bate-cabeça da virada. Daí reencontrei minha namorada, pra logo em seguida curtir a pegada mais indie do Vanguart. E depois ainda deu tempo de pegar mais da metade do show do Cordel do Fogo Encantado.



Depois do lanchinho do meio dia, me posicionei perto do palco pra curtir Zeca Baleiro. Mas, véio, eu tava tão zuado de sono que começei a meio que pescar em pé. Teve uma hora que eu quase caí em cima do maluco que tava na minha frente. Aí rolou um medo de passar vergonha, e eu fui lá pra trás, curtir pelo telão, sentado no conforto do asfalto paulistano. Zeca Baleiro é foda, taí um cara que vale a pena eu começar a ouvir. Decidi fechar minha jornada por aí mesmo, já que no Novos Baianos eu mais dormia que curtia.



Foi então que decidi acompanhar a Mazu e a Lou até a galeria Olido, pra ver uma peça dos Parlapatões. Era certeza que eu ia dormir, mas acompanhei a namorada só pelo rolê. E no fim das contas eu ri pra caralho, nem lembrei do sono, fechou a maratona com chave de ouro.



Embora a cidade tenha ficado mais uma vez cheia de lixo, com poças de mijo em todos os cantos, cheia de gente drogada e bêbada dormindo nas praças, foi massa pra porra, definitivamente uma experiência única. Só fiquei com pena dos mendigos, que tiveram sua casa toda zuada!

Ano que vem tô lá de novo!

sexta-feira, 1 de maio de 2009

sobre seres humanos em potência

Eu gosto de criança, mas acho que não sei muita coisa sobre elas.

Eu fui uma criança quieta e boazinha, daquelas que todos os pais queriam ter. Nunca interrompia os adultos enquanto estavam conversando, ia pra igreja e recitava versiculos de cor, era o primeiro aluno da turma, tinha bons amiguinhos com quem passava as tardes brincando, enfim, foi um filho bacana, facil de criar.

Mas meu ponto é: onde estão todas essas crianças legais, nos moldes da que eu fui em anos anteriores? Hoje eu só encontro crianças gordas, hiperativas, que não param quietas e não tem paciência de ouvir nada. Querem tudo ao mesmo tempo, não ligam pra nada que não envolva porrada, video-game ou monstros japoneses.

Porque será que eu não acho essa molecadinha de hoje tão tão legal?

Uma possibilidade é que eu não tenho jeito pra criança, e por isso eu não entendo o universo delas.

A outra é que o nível das crianças piorou. Ou melhor, o nível geral dos seres humanos tem piorado com o passar do tempo.

Enfim, talvez os filmes de comédia romântica tenham razão. Talvez as únicas crianças que uma pessoa suporte sejam seus próprios filhos.