domingo, 19 de dezembro de 2010

um pouco de tragédia pra começar o domingo

Quase nem tive tempo direito de arrumar minhas coisas na casa nova, mas já havia um ótimo motivo pra aparecer por lá, além do Caio, Bruna, Joana e Enio.

Era o Dexter, nosso gatinho de estimação.

O Dexter é um filhote serelepe, curioso e bagunçeiro. Um grande e incansável explorador, assim como a maioria dos gatinhos filhotes.

Faz muitos anos que meu último gato de estimação morreu, envenenado pelo vizinho. Já tinha me esquecido do prazer e da alegria de chegar do trabalho e ser recebido por aquele bichinho arrogante e manhoso, sempre em busca de colo, comida e carinho.

O lugar do Dexter no meu coração idiota já estava reservado.

E então hoje eu acordei, fiz almoço [arroz e bife] e fui ver o blog do jesusmanero. Daí a Joana chega com uma cara terrível.

- Já vistes o que aconteceu com o gato?
- Quê?
- Já vistes o que aconteceu com o gato?
- Como assim, que que aconteceu?
- Pulou no vizinho, oras, os cachorros mataram.

Temos vizinhos. E os vizinhos tem dois cachorros, cuja função é latir insanamente pra qualquer coisa que se aproxime do perímetro do muro. A função é basicamente matar qualquer coisa que entre ali.

O Dexter não tinha função. Ele brincava, comia e dormia. Acho que era feliz assim.

Enfim, subi as escadas que levam ao andar de cima e olhei pro lado do vizinho. O gato estava lá, no chão, inerte. Os mosquitos já se acumulavam encima dele. Foi um negócio ruim de se ver.

Desci, peguei umas sacolas e um pano. Fui até o vizinho. Bati e ninguem atendeu. Só os cachorros latiam, enquanto olhavam no fundo dos meus olhos.

O cara que mora na frente disse pra eu tentar na casa ao lado, onde mora uma velha senhora benzedeira. Fui lá, e após a velha benzer um recém nascido que dormia no colo da mãe, disse.

- Tudo bem? A senhora sabe quem mora aqui do lado?
- O terreno do lado é do rapaz que mora aqui nos fundos. Sobre o que se trata?
- E que eu sou o vizinho aqui do lado, e o nosso gatinho pulou no terreno e os cachorros mataram. Então eu vim saber se posso pegar o corpo, pra enterrar.
- Só um minutinho.

Em pouquissimo tempo chegou um cara da minha idade, mas branco e barrigudo, junto com sua namorada baixinha e loira. Pareciam se boa gente. Expliquei a estória pra eles.

- Mas você viu ele caindo aqui do lado?
- Não, foi a menina que mora em casa que me falou que o gato tinha caído.
- Vc viu ele?
- Arrã, dei uma olhada pelo muro e vi, acho que não foi mordido nem nada.
- Péra um pouquinho que eu pego lá pra você.

Então eu fiquei com a velha, esperando.

- Ah, fio, não tem jeito. Caiu ali os cachorros matam mesmo. Mas com um terrenão desses, se não botar cachorro não dá pra ter nada, em pouco tempo já roubam tudo.
- É, né.

A loirinha aparece com uma cara de dó, segurando uma sacolinha, com o Dexter morto, duro, lá dentro. O rapaz comenta que é estranho, pq a cachorra, quando mata passarinhos ou ratos, leva a caça até a porta, pra mostrar pros donos. Mas com o gato foi diferente, eles deixaram ele lá.

Agradeci a atenção, desejei um bom dia e fui pra casa. Avisei as meninas que havia pego o corpo e perguntei se havia algum problema se eu o enterrasse no quintal. Não houve protesto da parte delas.

Fui pra porta do Caio e da Bruna, dar a notícia. Bati e esperei, com o coração palpitando de tensão. Apareceram na sala.

- E aí Will, beleza?
- Ah, na real nem tanto
- O que aconteceu?
- O Dexter tá com vocês?
- Não. Cadê ele?
- Então, deu merda.
- Ele fugiu?
- Ele morreu?
- É, ele morreu. Pulou ali no vizinho e os carrochos mataram. Foi buscar o corpo, já. Desculpa acordar vcs pra dizer isso, mesmo, mas achei melhor.
- Normal, fez bem.

Então eles foram prum canto, eu fui pro outro. Minutos depois vou falar com o Caio.

- Então cara, tava pensando em enterrar o Dexter ali no quintal.
- Enterrar...? Sei lá, a gente podia só mandar embora. É que eu não tenho esse costume de enterrar os mortos, saca.
- Sei lá, eu tive uma educação cristã, acharia desrespeitoso se a gente não enterrasse ele.
- Ah, de boa, então vamo lá.

Então eu e meu amigo judeu buscamos uma pazinha de jardinagem e fomos ao quintal. Tiramos um tufo de grama, abrimos um buraco na terra. O Caio buscou o Dexter, examinando-o.

- Ele não tem marca de mordida, nem de queda. Só tá com sangue nos ouvidos.
- O cara do lado achou estranho a cachorra não ter levado ele até a porta, como costuma fazer com os outros bichos que mata.
- Ah cara, mas nenhum animal gosta de matar filhotes. É mór bédi. Por isso ele são bonitinhos e fofinhos, é uma defesa natural.

Acomodamos o corpo do gato nas entranhas da terra.

Duro, feio, sem vida.

Cobrimos com terra e botamos a grama por cima.

Fui ao banheiro para lavar a mão.

Não havia sabonete.




3 comentários:

Anônimo disse...

Puxa, se eu tivesse lido isso antes de sair de casa teria comentado com vc ao vivo...

Faz duas semanas mataram nosso gato, o Mindaugas. Agora ficamos só com 4. Ele era lindo demais, fofo, e foi envenenado. Ficamos muito tristes e, mais ainda, revoltados.

Talvez o Dexter tenha sido atacado por outro bicho. Eu tive um gato que morreu com mordida de cobra. :(

Beijao querido, fique bem!

bill disse...

Obrigado Mari.

-Rol disse...

Cachorro... puta merda =/
Sinto muito coracao..
Daqui a pouco eu to ai pra te dar um abraco ='(