domingo, 26 de dezembro de 2010

Scarlett & Eu #3

Estou deitado na minha cama, já passam das duas da manhã. Estou na metade do primeiro capítulo da biografia do Woody Allen, um lançamento já esgotado da Cia das Letras que eu vitoriosamente consegui num sebo, junto com um livro da Brasiliense que analisa todos os filmes do Akira Kurossawa.

Então alguém bate na porta.

- Will
- Entra uai. Quem é?

Após um empurrão na porta eu quase caio no chão de tanta surpresa. É a Scarlett Johansson, minha ex-namorada imaginária que nunca mais retornou meus emails.



- Oh, deus, Scarlett! O que você tá fazendo aqui?!
- Posso entrar?
- Claro que pode. Meu, você tá toda molhada. Tá chovendo lá fora?
- Muito.
- Você tava correndo?
- Sim. Precisava muito te ver.
- Pq?, aconteceu alguma coisa?
- Saudades...
- E...?
- É, bem, eu e o Ryan terminamos nosso casamento.
- O Ryan Reynolds te largou?! Que burro.
- Ei, ele não me largou! Nós terminamos...
- Ok, que seja. Mas você não me parece tão feliz.
- Vc sabe que finais de ano me deixam deprimida.
- Sim, eu sei. Eu também me deprimo muito entre o natal e o ano novo.
- Queria saber se posso passar a noite aqui com você.

[meu coração quase tem um treco quando meu cérebro processa essa informação. Me concentro sobrehumanamente para não ter um infarto fulminante]

- Claro que pode, querida. Vai tomar um banho, desse jeito vc vai ficar gripada.
- Tem uma toalha aí?
- Usa a minha. Já tá seca.

E assim a Scarlett Johansson, a mulher que esnobou o meu amor e me abandonou a alguns meses, vai tomar banho ali no meu banheiro. Eu me sento na beirada da cama, ainda me esforçando pra digerir todas aquelas informações. Uns quinze minutos depois ela reaparece, enrolada na toalha.

- Toc toc
- E aí, melhor?
- Ah, maravilhoso. Nada melhor que um banho bem quente pra tirar o stress.
- Bom. Tá afim de comer alguma coisa?
- Não, jantei não faz muito tempo assim. Estava na casa de uma tia, aqui em Barão.
- Ok.
- Você tem alguma roupa pra me emprestar? É que na correria eu não trouxe nada.
- Sim, sim, peraê.

Passo então meu samba canção e minha camiseta do sonic youth pra ela.

- Agora vira pra lá que eu vou me vestir.

Eu viro pro outro lado pra ela colocar a roupa. Os vidros da janela são espelhados, então eu também fecho o olho. Enquanto estou de olhos fechados, penso que deveria mantê-los abertos. Mas aí já é tarde demais.

- Scarlett, na real, o que você tá fazendo aqui?
- Eu já disse. Estou deprimida e carente, e fiquei com vontade te ver.
- Mas, mas,... não faz sentido. Você é um fruto da minha imaginação. Você não existe de verdade.
- Uau, essa não é a coisa mais gentil e romântica pra me dizer, mas tudo bem.
- Sério, vc é minha namorada imaginária. Eu achei que tivesse superado isso.
- Aparentemente não superou, não é mesmo. Pensa bem, fofinho: eu sou fruto da sua imaginação. Portanto, quem me trouxe aqui foi você mesmo.

Puxa vida, ela tinha razão!

- É, você tem razão.

Ela se aproxima, fazendo carinha de manha.

- Você não gosta mais da sua Scarlett?
- G-g-gosto sim.
- Eu posso deitar com você hoje?
- Anrã...
- E como é que tá o meu amigão aqui de baixo?
- Com saudades.
- Uau, ele cresceu einh! Aposto que tá morrendo de saudade da amiguinha dele. Aposto que ele tá louquinho pra brincar.

Ela, ainda com a mão dentro da minha calça, agarra meus cabelos com a outra mão e quase arranca meus beiços com aqueles beijos desesperados e tempestuosos.

[ok, ok, vou parar por aqui. Nada de ficar trepando com namoradas imaginárias. Isso dá uma deprê da porra!]

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