sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

sobre histórias que consolam

O celular vibrou dentro de sua bolsa, fazendo com que o compensado de madeira da mesa onde estava posta emitisse aquele conhecido som gago e tremelicante.

Era mensagem.

Tiago dizia que a turma do trabalho iria prum happy hour após o expediente, comemorar o aniversário de uma das meninas. Queria que a companheira estivesse por lá também.

A resposta da mensagem dizia sim, eu apareço, e terminava com um eu te amo muito.

Cláudia estava com 26 anos e se orgulhava de estar na metade do financiamento do seu apartamento, de ter um bom emprego e de já ter quitado seu Gol modelo 2002. Havia também seu namorado Tiago, corretor de imóveis, dois anos mais velho que ela e dono de um corpo que faria inveja a Dwayne The Rock Johnson.

Nunca suportou homem magrelos. Quando jovem, sempre buscou a proteção de braços musculosos, a segurança de peitorais largos e malhados, a pressão de pernas fortes e definidas. Enchia a boca ao dizer às amigas "gosto de homem com h maiúsculo". Sempre evitou os tipos intelectuais, daqueles que usam óculos de aro grosso, só falam de livros e filmes que ela desconhece ou de bandas que ela nunca supôs que pudessem existir. Sempre desconfiou que essas demonstrações de inteligência escondiam algo, talvez uma psicopatia, talvez uma doença contagiosa, ou quem sabe um pinto pequeno.

A dois anos conheceu Tiago no casamento de uma de suas primas. Minutos após se conhecerem estavam trocando palavras, horas depois trocavam telefones, e nos dias seguintes trocavam beijos e carícias, pra então trocarem afagos, juras, gozos, palpitações, enroscos e sussuros ao pé do ouvido.

Ao fim de mais uma dia maçante no escritório de advocacia, Claudia encontrou seu homem no bar onde costumava comemorar com os colegas de trabalho. Ele estava alegre. Bebia um chope atrás do outro. Ela estava com uma leve dor de cabeça. Preocupações profissionais.

Foi ao banheiro pra um xixizinho e uma retocada na maquiagem. Ao sair, deu de cara com o namorado de cara fechada e bufando.

o que aconteceu amor?
o que aconteceu o caralho. que porra é essa de ficar de graça com o jorge?
quê?!
eu vi o jeito que vc olhava pra ele.
do quê você tá falando, amor?
aposto que vc estava esperando ele te seguir pro banheiro, né.
meu...
é isso? vc quer dar praquele idiota do jorge?
cara, vc bebeu demais, vamo embora
nada disso!

E assim, meio que sem querer querendo, no meio desse embróglio causado pelo álcool, pelo ciúme e pela pequena quantidade de cocaína, o grosso braço do rapaz percorreu um arco à sua frente, desferindo um triste, pesado e chocante tapa no belo rosto de sua namorada.

Um filete de sangue começou a escorrer.

Ela tremia.

Ele se deu conta da merda que fez e sua expressão mudou para o arrependimento total. Ajoelhava e pedia perdão à garota, que entrou novamente no banheiro, chorou um pouco, lavou o rosto e foi embora pra casa.

Passou a noite sem conseguir dormir. Só conseguia pensar no súbito acesso de fúria de seu, até então, pacato namorado. O celular tocava a todo instante. Era ele, provavelmente querendo o perdão da mulher. Por volta das quatro e meia da manhã, sua mente se iluminou. Amava demais o namorado e não ia perdê-lo por nada. Por nada.

Acordou e antes de ir ao trabalho foi até a lojinha de brinquedos.

No escritório, um buquê de flores a esperava, junto com um cartão. Me desculpe amor, pelo que fiz ontem. Eu te amo, não sei viver sem você. Ela ligou e disse aparece em casa lá pras nove. Às nove ele tocava o interfone.

Ao chegar, encontrou a mesa posta e a namorada de braços abertos. Pediu perdão pelo que tinha acontecido ontem, não sabia o que havia com ele, e ela só dizia, esquece isso, o importante é que nos amamos, só isso, agora vamos comer. Na mesa havia salmão assado e arroz com legumes, acompanhado de um argentino Tinto Cabernet Sauvignon. Comeram.

Ela se deliciava ao ver aquele sujeiro forte como um touro lutando contra o sono, após taças e taças e vinho tinto com valium. Por fim foi vencido. Apagou.

Acordou na cama, nu, com as mãos e os pés amarrados no estrado da cama.

Olhou pro lado e viu Cláudia nua, os cabelos amarrados, os peitos firmes e arrebitados, o olhar lascivo e ansioso. Estranhou ao ver a namorada afivelar aquele estranho cinto por cima da calcinha. O que seria aquilo? Foi então que gelou ao ve-la retirar um pinto grosso e verde de borracha da bolsa, e fixá-lo no cinto. Começou a se debater e tentou gritar, mas ainda estava grogue por causa do remédio.

Ela passava lubrificante na pirocona verde fosforescente, se masturbando com prazer, percorrendo cada ondulação daquele brinquedinho que a dotava de tanto poder. Mordia o lábio e estremecia de tesão, enquanto antecipava mentalmente o que estava a minutos de concretizar. Enrabar o namorado.

Entrou com alguma dificuldade, ele urrou, se debateu, mas depois que entrou tudo, se resignou, limitando-se a gemer e se contorcer. Enquanto movimentava a pélvis pra frente e pra trás, notou a ereção do namorado. Teve vontade de desamarrá-lo, mas teve medo. Enquanto comia seu cuzinho malhado e sarado ela desenvoltamente lhe tocou uma punheta. Em pouco tempo ele esporrou e ela sorriu.

Saiu de dentro dele e resolveu desamarrá-lo. Ele tremia e ofegava, e quando se viu livre das amarras abraçou sua mulher com todo o amor que é possível de se ter. Soluçou baixinho entre os seios suados de Cláudia.

Os dois continuam juntos.

De vez em quando, sem nada dizer, ele dá um tapinha de leve no rosto dela e vai até o quarto.

Ela sorri, e vai até o armário, em busca de seus brinquedos, cada vez mais numerosos.

Um comentário:

-Rol disse...

Ah, que droga Will. Você é mesmo meu amigo e sabe das coisas.
Gostei sim, bastante! E digo mais... ri, depois de uma sexta feira infernal.
Amo voce.