segunda-feira, 22 de março de 2010

sobre o que é ser homem - ou como a nova comédia americana adulta nos aponta caminhos do que é ser homem

Enquanto ia ao banco e ao mercado, hoje de manhã, fui pensando em algumas comédias que assisti, sobretudo nas do Judd Apatow e do Todd Phillips. Acho que nessa fase de redefinição em que eu me encontro, seus filmes funcionam como verdadeiros guias, apontando questões e diferentes estilos de vida para o homem adulto.

Homem adulto. Taí um negócio engraçada. O que é precisamente ser adulto? Vamos começar então pelo extraordinário O Virgem de 40 Anos (The 40 Year Old Virgin, 2005). Andy é um sujeito de 40 anos, que trabalha no estoque de uma loja de aparelhos eletrônicos, tem sua própria casa e gasta seu dinheiro em bonecos colecionáveis, mantendo um acervo de fazer inveja a qualquer cara. Um cara bacana com uma vida normal. Mas o filme lança um olhar mais atento, e capta o profundo vazio de Andy, que talvez nem ele mesmo tenha percebido: ele é sozinho. Não tem amigos, nem namorada. Será que isso é um problema? O filme é categórico ao dizer: Sim, isso é um puta problema.

Pulo agora pra outra grande obra, Dias Incríveis (Old School, 2003), onde temos o Luke Wilson desistindo do seu casamento porque descobriu que sua noiva gosta de participar de orgias. Ele então reencontra seus velhos amigos, todos na faixa dos 30 anos. Will Ferrell vai casar com uma bela mulher, e Vince Vaughn é um homem casado e com filhos, dono de uma loja de aparelhos eletrônicos. Enfim, os três decidem ir pra faculdade só pra criar uma fraternidade e fazer festas. A idéia nem é pegar um monte de mulher. Esses caras só estão insatisfeitos com o rumo que suas vidas tomaram, com todos os sonhos perdidos de juventude, e estão em busca do tipo de diversão que tinham antes, numa época em que a idéia de que o melhor ainda está por vir era verdadeira.

O que quero destacar nesse filme é o personagem do Will, Frank o Tanque. Ele é um cara normal, meio bobo, recém casado e tal. Mas quando seus amigos começam a dar festas na fraternidade, e Frank enche o caneco, seu velho eu retorna. Toda a farra acaba quando suas esposa, ao passar na rua de carro, o encontra correndo pelado, sozinho. O casamento não dura muito mais. No fim das contas, mesmo com uma porção de anos nas costas, Frank não conseguiu conciliar vida adulta, aspirações pessoais e seu casamento.

E nenhum choque me parece mais brutal que aquele onde a Trish pede a Andy que venda toda a sua coleção de bonecos, para juntar dinheiro para montar sua própria loja de aparelhos eletrônicos. Mesmo sendo grande parte da sua vida, Andy os vende todos. Ele até que se revolta com sua namorada, mas depois de um tempo se arrepende, e tenta reconquistá-la. Não há saída: ou o homem mantém sua antiga vida, com suas regras e parâmetros, ou ele muda completamente para ser digno da mulher que ama. Andy entendeu isso, e teve que morrer e nascer de novo, vida nova esta que se mostrou bem mais feliz e completa que a anterior.

Em Ligeiramente Grávidos (Knocked Up, 2006), Seth Rogen, (Ben) também tem que aprender uma lição. Ele mora com os amigos, numa casa que é familiar a qualquer homem que já tenha morado com amigos, e dedica seus dias a fumar maconha e trabalhar na catalogação de cenas de nudez em filmes para o site que vai criar. Ele engravida uma garota legal, Alison, e tem que lidar com a idéia de cuidar de um filho, e de uma mulher com hormônios desregulados. A sorte dele é que ela é muito companheira, e tenta de verdade viver o seu estilo de vida. Mas as responsabilidades que ter um bebê acarretam não a permite viver na casa do pai. O que Ben faz? Arruma um emprego de verdade num escritório, aluga sua própria casa e passa a ler os livros sobre gravidez que Alison queria que ele lesse, mesmo tendo motivos muito fortes para não lê-los. Aqui temos mais uma importante lição sobre a vida adulta: nossos sonhos são legais enquanto estamos com os amigos, e não temos responsabilidades. Mas eles devem ser deixados de lado quando a vida acontece, e as responsabilidades aparecem.

Mudando o foco de tipo de personagens, é interessante notar a galeria dos persongens casados. No Dias Incríveis, tem uma cena em que uma das calouras está doida pra dar pro personagem do Vince. Os dois estão sentados na beirada da cama, ele visivelmente nervoso e ela com cara de safada. Ele diz: "Então, eu não posso fazer nada com você, porque eu sou um homem casado. Eu tenho filhas, e amo minha esposa". Acho um cena muito foda. E no Se Beber não Case (The Hangover, 2009), Phil, um dos amigos que aprontou todas em Las Vegas, na despedida de solteiro de seu amigo Doug, volta da farra e encontra sua mulher e seu filho. Ora, todas as bebedeiras, todas as strippers, todas as confusões, nada disso o abala. No final do dia ele está lá, ao lado de sua mulher e de seu filho. O pai perfeito e o marido perfeito.

"Se não há nada que abale a sua paz, já nasceu sabendo como é que se faz."

Há inúmeros outros pontos a ressaltar, como a cunhada de Ben, que o odeia, pois acha que sua irmã consegue coisa bem melhor que ele, ou as amigas da esposa do Frank, que acham o marido da amiga um idiota. Mas acho que vou parar por aqui, porque já é quase 1 da tarde e eu ainda não almoçei.

Sou um grande entusiasta dessas comédias sobre caras adultos, tendo que aprender na marra sobre vida, amizade, relacionamentos, paternidade, responsabilidades. Uma pena que esse filão renda tão poucos filmes, mas sorte nossa que Judd Apatow e Todd Phillips tão aí pra nos dizer algo.

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