quarta-feira, 11 de junho de 2008

sobre sozinhez

Há vinte e cinco anos, meus pais estavam prestes a casar. Minha mãe era a mesma baixinha sorridente de hoje, mas meu pai era um pouco mais magro. Um dia, ele deu um urso de pelúcia de presente para minha mãe. No noivado. Eu nasci uns anos depois, e me apeguei ao ursinho. Tenho 23 anos. Não houve um dia sequer, em todos esses anos em que eu dormi em casa, em que eu não dormisse abraçado ao ursinho. Quando eu era pequeno eu tinha medo, pois achava que se eu não dormisse com ele ao meu lado, de madrugada ele iria até a minha cama e me mataria degolado. Mas enfim o medo se foi, e o hábito falou mais alto.

"Quando algum dia a idade vier e o tempo passar, quem terá ciúmes, quem vai se preocupar? Estar ao lado pra me agasalhar? Quando à tardinha o sol cair, quem fará melhor?" É isso que se passa pela cabeça de milhões de pessoas em todo o mundo. E se não passa, um dia já passou. E se não, um dia passará. É empiricamente incontestável. Isso porque a figura do Lobo Solitário é bem atraente, bastante cool. Mas a verdade é que é triste ser um homem só.

Sexta feira passada eu fui abatido por uma tristeza terrível. Aparentemente sem motivo. Solução?: Cinema. Fui ver Sex And The City. Foi a melhor opção pra levantar o moral. Só haviam mulheres e homens gays na sala, talvez porque seja realmente um filme pra bichas e mulherzinhas. Mas como eu me diverti horrores! Acho muito divertido aflorar essa minha parte mulher, que, diferente daquilo que milhões de machistas hipócritas dizem, não é nem um pouco lésbica.

Enfim, o que quero dizer é que Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda são novaiorquinas divertidas, abusadas, fabulosas, independentes, maravilhosas e blábláblá. Mas foi um alívio o filme ter chegado ao fim, porque eu não suportava mais tanta futilidade. Dinheiro, roupas de grife, restaurantes caros, bolsas de grife, jóias e toda essa artificialidade, puta merda, uma hora começa a dar nojo! Tudo é magnificamente chique e glamuroso. Mas a overdose de luxo foi tanta, que eu senti falta de ver um apartamento velho cheio de roupas espalhadas. De uma livraria. De uma pequena loja de discos. Em resumo, da novaiorquice do Woody Allen.

E esse é o ponto: mesma cidade, diferentes perspectivas.
Há muita gente no mundo. Cada um com seu modo de vida.
O meu modo de vida é bem diferente da maioria.
E certamente eu nunca sairia com as garotas do Sex and the city. Elas fatalmente me achariam um saco e, em contrapartida, a futilidade delas iria me irritar muito. Ser um homem só, neste caso, seria uma acertada escolha deliberada. Afinal, há sempre a esperança de achar o m&m vermelho em época de promoção.

Bem, este é o primeiro doze de junho em que eu não estarei sozinho. Agradeço à Bruna, por sua paciência. Hoje vamos ver o novo filme do velho Woody, e essa é uma prova irrefutável de que tanto eu quanto ela sabemos muito bem fazer nossas escolhas.

E meu ursinho continua muito feliz com a minha companhia.

6 comentários:

Mazu disse...

Esse foi o primeiro doze de junho só, em sete anos, pra mim.
Eu fiquei muito mal-humorada e achei q tava disfarçando minha tristeza. Mas sabe o quê? Antes só. A gente não deve querer cativar os lobos solitários, eles não são domesticáveis.
Você falou da paciência da sua namorada, e aí eu pensei: é fácil ser paciente quando a gente gosta e, às vezes, não é nem paciência é só gostar muito mesmo. E isso é real e bom. O que não é o caso de Sex and the City (eles acertam muito às vezes, mas outras horas é mais ficção que a maior das ficções).
Eu ando muito sem paciência, acho que acabou meu estoque de resignação. O que talvez signifique que o coração não esteja partido não, só tá vazio.

Vídeo disse...

Acho que invertemos de papel um pouco...não que eu goste e só assista filmes fúteis, mas acho que "Armênia" (filme que eu assisti lá no Rio enquanto você por aqui assistia "Sex and the City"), é muito mais a cara de suas escolhas, assim como "Sex" supostamente seria a minha. Acho que isso significa que já temos um pouquinho um do outro. Ah e quanto a paciência é recíproca e haja paciência com a gente né? Grande beijo!!

Angelos disse...

Bom dia, desculpa postar o comentario no Blog, não cheguei a visualizar todo o conteudo do mesmo, porém o que me chamou muita atenção foi a musica "Quando algum dia a idede vier...", desculpa a forma com que abordei, porém gostaria muito de qualquer informação sobre esse jingle, eu sempre contava ele com minha mãe.
Muito obrigado aguardo o retorno.
Bom dia

Angelos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
bill disse...

Bem,
como não encontrei o blog do senhor nariz, responderei aqui mesmo. Esse jingle, que foi chupinhado daquela música dos beatles, tocava em um antigo comercial da Caixa econômica federal, do Talentos da Maturidade. Sempre achei muito bonita.

"Quando algum dia a idade vier
e o tempo passar.
Quem terá ciúmes,
quem vai se preocupar?
Quando à tardinha o sol cair,
quem fará melhor?
Muitos carinhos tenho aprendido,
e hoje eu sei de cor."

Já procurei no youtube, mas não encontrei nada. Se alguém tiver mais sorte, por favor, poste aqui.

Fico feliz por ter trazido memórias da infância.

=)

carlos henrique caetano disse...

show!