quarta-feira, 11 de junho de 2008

situações edipianas

Eu tinha quanto, einh? Uns seis, sete anos. Íamos praticamente todo domingo pra casa da vovó. Enquanto os adultos conversavam, a criançada ia brincar. O que eu mais gostava de fazer naquelas tardes bucólicas, depois de ver o Van Damme ou o Indiana Jones na temperatura máxima, era caçar pedras para incrementar a minha já numerosa coleção de pedras. Às vezes eu ia procurar cacareco lá pra baixo da roça do vô João, pra montar invenções. E também me lembro de uma época em que eu ia colher flores. Ou melhor, apanhar mato. Manja um mato que dá uma flor comprida e fina, meio rosa, que faz cócegas se vc passar na nuca? Então, eu me lembro de ir com meu primo Diego, ou com o meu irmão, apanhar essas flores de capim, lá pra cima do campinho. Quando já tinhamos algo parecido com um ramalhete, íamos pra casa da vovó. Lá, eu dizia "Mamãe, é pra você. Casa comigo?" Ela aceitava a flor, rindo, e dizia que ela me amava, mas que já era a minha mãe. Eu insistia na proposta. Ela dizia que quando eu crescesce e fosse um homem, ela já estaria velha. Eu então dizia "não tem problema, eu caso com você, mesmo que você for velhinha". E então, rindo, ela explicava que já era casada com o papai, e, com um beijo, encerrava o assunto.
Meu pai. Naqueles momentos de confusa frustração amorosa, ele era o único ser a se colocar entre eu e minha mãe. Meu desejo era que ele morresse. Queria matá-lo.

Eu era apenas uma criança.
Mas já estava em condições de compreender Sófocles e Freud.

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