segunda-feira, 20 de agosto de 2007

amor e máfia

A coisa que mais impressiona no primeiro O Poderoso Chefão é a frase proferida pelo Dom: "um homem que não dá atenção à sua família nunca será um homem de verdade". Sempre achei que toda a saga girava em torno desta idéia, mas revendo a terceira parte, notei que o buraco é mais embaixo.

Ao fim da trilogia, Michel Corleone desce ao inferno. Em linhas gerais, esse é o quadro desta verdadeira tragédia shakesperiana: o dever o levou a matar seu irmão mais velho, sua esposa o abandonou, e sua filha foi morta em seu lugar. À beira da morte, sozinho, num velho casarão da Sicília, sua memória passeia pelos momentos felizes de sua vida. Embalado por um bela e tristíssima valsa, Michel dança com sua filha Marie. Logo depois Appolonia, sua esposa siciliana. E por fim Kay, a esposa americana e mãe de seus filhos.

Ora, quando sua vida está arruinada e a morte lhe convida para partir, não é de seu pai que Michel se lembra - aliás, de longe, a figura mais forte da trilogia. Nem da mãe. Nem de seu filho homem. Suas lembranças não são tomadas por qualquer dos irmãos, amigos, aliados, inimigos, por deus ou pelo diabo. No fim, restaram as lembranças das mulheres que amou. As mulheres de sua vida.

Bem, acho que no fim é isso mesmo. Para os grandes homens, sempre há uma figura feminina decisiva. Talvez porque o amor seja o único elemento que mesmo o mais sóbrio e controlado dos homens é incapaz de controlar.

Como ainda estou longe de ser um grande homem, espero pacientemente no meu canto, sossegado, a mulher que irá preencher o vazio de meus últimos dias, desfilando no palco de minhas memórias, no triste, frio e amargo dia de minha morte.

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