sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

sobre luz no fim do túnel

[esse texto foi escrito sob a influência da última aula do Marcos Nobre, ontem]

Vou retomar aqui o caso da Geyse e de toda aquela selvageria ocorrida na Uniban. Os rumos da história foram: Aluna é hostilizada em universidade particular em São Paulo. Um vídeo da aluna sendo escoltada pela polícia vai pro youtube. Opinião pública fica indignada com atitude dos alunos linchadores. A imprensa (principalmente a Record) explora até a última gota o acontecido. A garota é expulsa da universidade. Opinião pública obriga a universidade a recuar em sua decisão de expulsão. Geyse aparece em jornais, programas de auditório, em capas de revista e jornais, grava com o casseta e planeta e recebe proposta pra posar na playboy.

Restou a questão: haverá punição pra algum dos alunos que ameaçaram a Geyse (tanto as meninas que a chamavam de puta, quanto os caras que diziam querer estuprá-la)???

Não consegui notícias sobre o caso. Mas o meu interesse ao escrever isso aqui é sobre a opinião de grande parte das pessoas sobre qual deveria ser a punição adequada àqueles que queriam linchar a garota. Basta ir a uma padaria ou a um boteco e puxar assunto, pra ouvir basicamente duas alternativas: expulsar os alunos ou prendê-los. Pra que assim eles sintam o peso daquilo que fizeram, pra que aprendam a lição de uma vez por todas.

Mas a questão é: isso funciona?

No caso de expulsão de qualquer um dos alunos que queriam estuprar a Geysa, a uniban apenas transferiria um aluno misógino com grande potencial agressivo pra uma outra instituição, pois o que não faltam no Brasil são esses consórcios de diplomas. E no caso de botar na cadeia, bem, isso só pioraria, e muito, a situação do sujeito. Cadeia não recupera ninguém, só piora. Pra ser totalmente contra o confinamento de gente em cadeia, basta ver 'o prisioneiro da grade de ferro' e 'ônibus 174'. Pelo menos pra mim bastou.

É interessante como muita gente acredita que botar gente na cadeia ou bani-lo de outra forma da sociedade pode resolver o problema de não-adaptação às regras sociais. Será que algum dia será possível tentar resolver problemas desse tipo sem envolver justiça, tribunal, leis e juízes na parada?

Me lembro, quando criança, de assistir algumas reportagens sobre famílias de vítimas de assassinato confrontando o assassino preso. O cara ficava numa sala, sob a supervisão de um guarda, e o representante da família entrava e se sentava na frente dele. Daí ele dizia o que queria. Podia xingar, dizer que Jesus o perdou, simplesmente chorar. Na época eu achava um negócio super babaca, era mais fácil matar o assassino e problema resolvido. Hoje eu acho essa experiência um négócio muito interessante. Talvez 10 anos de cadeia não mudem em nada a opinião do sujeito acerca do crime que cometeu. Mas ouvir o marido, a esposa, os filhos, os pais da pessoa que ele matou, bem, acredito que mexa de alguma forma com o cara.

Talvez um mundo menos rancoroso possa lidar melhor com as suas patologias. Desde que esteja disposto a dialogar. Se a uniban fosse controlada por verdadeiros educadores, e não por empresários, deveria propor palestras rotineiras para todos os cursos, com grupos que trabalham com a questão de gênero, pra tentar tratar dessa misoginia tão forte. Fomentar grupos que discutam questões como homofobia e racismo. Tipo, fazer com que esses alunos falem, se expressem, que tentem sustentar as razões de sua opinião. Os responsáveis por xingamentos e tentativa de agressão à Geyse deveriam se reunir com ela, com a presença de alguns professores, e tentar estabelecer um diálogo onde eles poderiam deixar claro o motivo de tanto ódio. Bem, essa Geyse bem que pode ser uma grande filhadaputa, sei lá. O importante é criar espaços possíveis de discussão pra canalisar esses sentimentos. Tentar deixar claro que tentar estuprar a garota não resolverá o problema.

Menos polícia, menos tribunal, menos leis, menos ódio.

Talvez um dia seja possível.

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