sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

sobre alguns pensamentos fugidios que me tomaram de assalto a alguns minutos atrás

Olá, boa noite. Meu nome é William Pereira, tenho vinte e três anos, gosto de xis salada com hambúrguer de soja, críticas de cinema do Inácio Araújo e de Woody Allen. Há um pouco mais de cinco meses, comecei a namorar uma garota incrível: linda, inteligente, divertida, com bom gosto pra arte e com a paciência necessária para aturar as minha idiossincrasias. Num momento eu tinha certeza que terminaria minha vida ao lado de gatos gordos, revendo a terceira temporada de Família Soprano, e no momento seguinte eu estava beijando a Maíra, uma garota que eu aprendia a amar a cada dia, e, pasmem, que me amava em retribuição! Fico muito feliz por estarmos juntos, faço tudo pra que a relação dê certo, e sinceramente acredito em nosso futuro habitando o melhor dos mundos possíveis, mas (pra usar mais uma expressão aristotélica), não posso me livrar das contingências do mundo sublunar.



Não se desespere, eu explico: estou tentando dramatizar ao máximo, fazer uma daquelas clássicas tempestades num copo d´água. O que acontece é que sábado (daqui a umas 30 horas, mais ou menos) eu irei pra Araçatuba, a cidade onde a Maíra mora, conhecer toda a família dela. O que inclui pai e mãe. Ok, ok, eu sei que é bobagem. É só ir lá, sorrir, ser simpático, não arrotar à mesa nem cutucar o nariz com o dedo, massa, tá tudo sussa. Mas de onde eu tirei tanta insegurança? Desde quando eu tenho problemas em cativar as pessoas?! Todos gostam de mim, sou uma rara unanimidade quando o assunto é “queridice”.E, se por fim não gostarem de mim, desde quando a opinião alheia é tão fundamental pra mim? O amor que sinto pela Mazu não é o suficiente??



Pensei um pouco em tudo isso, e no porquê eu estou tão encucado, e acho que tem pouco a ver com o medo do que vai acontecer.



Tenho pensado no que sou eu. E relembrei algo que a muito não me passava pela cabeça, que é o conceito da multiplicidade do eu (http://billmementomori.blogspot.com/2008/01/noo-de-multiplicidade-do-eu.html). Droga, acho que estou me perdendo. Nesse post eu queria falar sobre as máscaras que usamos, e como isso é deprimente quando se pensa um pouco a respeito. Todos nós usamos diferentes máscaras para lidar com diferentes pessoas/situações no dia a dia. Mesmo que o Will seja um rapaz sincero e coerente, ele não é o mesmo com a sua mãe e com seu professor de Ética, não é o mesmo com seu amigo Fábio e com seu cliente do bar. É fato. E daí eu penso: vou conhecer os pais da minha namorada. Se eu quiser que eles gostem extremamente de mim, posso pesquisar rapidamente sobre quais são suas áreas de interesse, e daí conversar sobre aquilo que os interessa. Mesmo que eu não goste de economia, posso conversar com o Pai sobre o mercado financeiro. Mesmo que eu não goste de jiló, posso saborear o ensopado de jiló da Mãe, e tecer os mais caprichados elogios. Mesmo que ache pescaria um saco, basta mostrar um sincero entusiasmo pela pesca do Tucunará aos Tios que logo serei considerado um garoto jóia (logo após contar aquela meia dúzia de piadas que decorei especialmente pra ocasião). Entenderam? Todo ser humano obedece a certas regras de comportamento. O que eu preciso é lembrar do nome de todos, falar sobre aquilo que os interessa, nunca criticar nada, sorrir sempre, e algumas outras coisinhas, e daí as pessoas se permitirão ouvir o que eu realmente tenho a dizer, só aí vão me dar a chance de mostrar quem realmente sou. Minha crise não tem muito a ver com a questão se vão ou não gostar de mim (acho que vão, todo mundo gosta), mas uma certa birra em ter que iniciar um jogo de sedução que eu não gosto muito de jogar.



Ah, esqueçam, só posso estar maluco mesmo. Estou reclamando de barriga cheia. A Maíra me disse que a mãe dela é uma mulher sempre preocupada com o bem das pessoas, que está sempre trabalhando como voluntária em alguma causa social. E o pai dela é um político de esquerda, um cara que, junto com a esposa, militou por quase duas décadas no PT. São pessoas incríveis que estou ansioso pra conhecer. Diferente da situação outros amigos, como o Claudinei, que é negro e pobre e foi conhecer a família da namorada classe média alta, que parece ter saído de uma daquelas casas chiques de novela da globo. Ele me disse que não agüenta mais os olhares de “oh, deus, ele é negro” nos familiares da garota. Fóda, né. E o pai da mina do Gabriel, que não deixa a garota sair e é um reaça nojento e beberrão! E o pai da Hiara, ex-namorada do Fábio, nunca aprovou o namoro dos dois, nem após longos 6 anos de relacionamento.



Oh, céus, me desculpem, não quis reclamar das coisas à toa, acho que só precisava escrever um pouco sobre toda essa ansiedade que estou sentindo. O resultado foi todo esse texto desconexo aí de cima, mas acho que estou me sentindo um pouco melhor agora.

É provavel que eu use toda a sorte de artifícios de que disponho para que as pessoas de Araçatuba gostem de mim. Talvez faça isso sem pudores nenhum, já que o amor que sinto pela Maíra - que na real é a única coisa que realmente importa - é indubitavelmente verdadeiro.

E tenho dito.

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