domingo, 6 de abril de 2008

sobre vontades

Tenho vontade de escrever um livro. Um romance divertido como um Mia Couto, e com uma imaginação à la Saramago. Ele seria publicado pela Companhia das Letras. Tenho vontade de fazer parte de um daqueles grupos de palhaços que visitam crianças nos hospitais. Trazer um sorriso, quem sabe uma boa lembrança para aquelas crianças que sabem que estão em seus últimos dias. Os médicos se esforçam para prolongar a vida dessas crianças, mas às vezes se esquecem que uma vida cinza e triste é tão ruim quanto a morte. Queria ser o Patch Addams.

Tenho vontade de dirigir um filme de terror. Ir no estúdio do Robert Rodriguez e assistir a um velho splatter com o Tarantino e o Eli Roth. Tenho vontade de fazer uma animação em stop-motion. Uma bem engraçada. Tenho vontade de ganhar a Palma de Ouro em Cannes. Mais que tudo no mundo. Quero comer, beber e respirar cinema todos os dias da minha vida, enquanto viver. Quero continuar apaixonado. A minha vontade agora é ter ela ao meu lado, sentada nesse sofá vermelho do Sesc, vendo a chuva cair. O cheiro dos cabelos, do pescoço, os olhos semicerrados, a boca vaga, acolhedora, o rosto em brasa. Saudades.

Tenho vontade de organizar mostras de filmes em presídios. Não consigo me furtar da compaixão pela condição miserável dos detentos. Tal como um Dráuzio Varella, quero ser um médico, mas um médico dos olhos, da estética, dos sentidos. Abrir portas e janelas nos espíritos encarcerados desses homens.

A minha vontade é ser útil.

A minha vontade é ser feliz.

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