Nasci aos quatro minutos do dia dez do mês de abril do ano de mil novecentos e oitenta e cinco. O primeiro filho dos meus pais. O primeiro neto de meus avós paternos. Tudo o que eu sei sobre o meu nascimento e primeiros anos provém de relatos da família e alguns documentos e fotos. Não há recordações dessa época. Engraçado, não? Somos todos mimados e paparicados quando bebês, portanto nossa fase mais doce e terna pertence a esse período. Mas todo esse amor e carinho que nossos pais nos dedicaram são condenados ao calabouço do esquecimento. A memória só começa a atuar quando levamos uma surra na escola, quando uma menina nos esnoba ou quando nosso primeiro bicho de estimação morre.
Quinta feira faço 23 anos. Quando me perguntam a idade, digo que tenho 22. Mas isso é uma inverdade. Os meus 22 anos estão completos. Eu já vivo os 23 anos. Daqui a três dias eles irão terminar, e daí eu já começo a viver meu vigésimo quarto ano. Uma confusão!
Mas, enfim, o que eu espero do meu aniversário? Acho que não muita coisa. Já comecei a ficar introspectivo, talvez eu entre na TPM masculina em breve. No ano passado eu me enfurnei no Kinolplex durante todo o dia 10 de abril. Talvez eu repita o feito. Talvez eu beba com a galera da faculdade. Talvez eu faça uma tatuagem nova. Talvez eu ria. Talvez eu chore.
segunda-feira, 7 de abril de 2008
domingo, 6 de abril de 2008
sobre cursos de francês e cartões telefônicos
Fui uma criança inteligente. As melhores notas na primeira e segunda série. Mas na terceira, só queria saber de brincar com meu amigo Fernando. Alheio ao que a professora estava dizendo, eu desenhava um imponente navio do Corinthians, à lápis, na minha carteira. O Fernando, na carteira ao lado, revidava com um poderoso navio do São Paulo. Com um acréscimo: um corinthiano sendo levado à prancha, por piratas são paulinos! Quem precisa de estudos quando se tem a bagunça.
O Mundo de Beakman fez muita difença, trazia todos os conceitos chaves da ciência, mesmo falando de cocô, vômito, bichos nojentos e outras coisas escatológicas. Assistia ao programa com avidez, com um caderninho à tiracolo. Decorava as curiosidades mais absurdas e divertidas. Repetia isso na escola, em casa e em festas de família. Era o pequeno gênio, o orgulho do papai e da mamãe, um prodígio! Um embuste, na real.
A Alliance Française, escola de francês que funciona até hoje lá no Cambuí, tinha um projeto que era o seguinte: todo ano, reunia um grupo de alunos oriundos de colégios públicos e oferecia 1 ano de curso básico de francês, grátis. Fui o escolhido da minha escola. Um puta motivo de orgulho. As aulas eram boas, a turminha bem legal. Mas toda vez que eu saía de casa, eu pegava o dinheiro da passagem que minha mãe me dava e guardava para outros fins. Pedia pro motorista para passar por baixo da roleta, e sempre chegava atrasado pro curso. Não estudava, não fazia os exercícios, e, na hora da aula, não via a hora de ir embora. Isso porque eu ia correndo para o prédio da Telesp, comprar cartõe telefônico. Era minha paixão. Até hoje os tenho guardado. Uns 400 cartões. Gastava todo o pouco dinheiro, e tinha que pedir pro cobrador pra passar por baixo, de novo. Enquanto os outros garotos beijavam as meninas, eu só pensava em cartões telefônicos.
Isso não foi saudável.
Ou talvez tenha sido fundamental pra minha formação.
Seja como for, isso é tudo o que eu mais odeio em mim: a preguiça e a dispersão.
O Mundo de Beakman fez muita difença, trazia todos os conceitos chaves da ciência, mesmo falando de cocô, vômito, bichos nojentos e outras coisas escatológicas. Assistia ao programa com avidez, com um caderninho à tiracolo. Decorava as curiosidades mais absurdas e divertidas. Repetia isso na escola, em casa e em festas de família. Era o pequeno gênio, o orgulho do papai e da mamãe, um prodígio! Um embuste, na real.
A Alliance Française, escola de francês que funciona até hoje lá no Cambuí, tinha um projeto que era o seguinte: todo ano, reunia um grupo de alunos oriundos de colégios públicos e oferecia 1 ano de curso básico de francês, grátis. Fui o escolhido da minha escola. Um puta motivo de orgulho. As aulas eram boas, a turminha bem legal. Mas toda vez que eu saía de casa, eu pegava o dinheiro da passagem que minha mãe me dava e guardava para outros fins. Pedia pro motorista para passar por baixo da roleta, e sempre chegava atrasado pro curso. Não estudava, não fazia os exercícios, e, na hora da aula, não via a hora de ir embora. Isso porque eu ia correndo para o prédio da Telesp, comprar cartõe telefônico. Era minha paixão. Até hoje os tenho guardado. Uns 400 cartões. Gastava todo o pouco dinheiro, e tinha que pedir pro cobrador pra passar por baixo, de novo. Enquanto os outros garotos beijavam as meninas, eu só pensava em cartões telefônicos.
Isso não foi saudável.
Ou talvez tenha sido fundamental pra minha formação.
Seja como for, isso é tudo o que eu mais odeio em mim: a preguiça e a dispersão.
sobre vontades
Tenho vontade de escrever um livro. Um romance divertido como um Mia Couto, e com uma imaginação à la Saramago. Ele seria publicado pela Companhia das Letras. Tenho vontade de fazer parte de um daqueles grupos de palhaços que visitam crianças nos hospitais. Trazer um sorriso, quem sabe uma boa lembrança para aquelas crianças que sabem que estão em seus últimos dias. Os médicos se esforçam para prolongar a vida dessas crianças, mas às vezes se esquecem que uma vida cinza e triste é tão ruim quanto a morte. Queria ser o Patch Addams.
Tenho vontade de dirigir um filme de terror. Ir no estúdio do Robert Rodriguez e assistir a um velho splatter com o Tarantino e o Eli Roth. Tenho vontade de fazer uma animação em stop-motion. Uma bem engraçada. Tenho vontade de ganhar a Palma de Ouro em Cannes. Mais que tudo no mundo. Quero comer, beber e respirar cinema todos os dias da minha vida, enquanto viver. Quero continuar apaixonado. A minha vontade agora é ter ela ao meu lado, sentada nesse sofá vermelho do Sesc, vendo a chuva cair. O cheiro dos cabelos, do pescoço, os olhos semicerrados, a boca vaga, acolhedora, o rosto em brasa. Saudades.
Tenho vontade de organizar mostras de filmes em presídios. Não consigo me furtar da compaixão pela condição miserável dos detentos. Tal como um Dráuzio Varella, quero ser um médico, mas um médico dos olhos, da estética, dos sentidos. Abrir portas e janelas nos espíritos encarcerados desses homens.
A minha vontade é ser útil.
A minha vontade é ser feliz.
Tenho vontade de dirigir um filme de terror. Ir no estúdio do Robert Rodriguez e assistir a um velho splatter com o Tarantino e o Eli Roth. Tenho vontade de fazer uma animação em stop-motion. Uma bem engraçada. Tenho vontade de ganhar a Palma de Ouro em Cannes. Mais que tudo no mundo. Quero comer, beber e respirar cinema todos os dias da minha vida, enquanto viver. Quero continuar apaixonado. A minha vontade agora é ter ela ao meu lado, sentada nesse sofá vermelho do Sesc, vendo a chuva cair. O cheiro dos cabelos, do pescoço, os olhos semicerrados, a boca vaga, acolhedora, o rosto em brasa. Saudades.
Tenho vontade de organizar mostras de filmes em presídios. Não consigo me furtar da compaixão pela condição miserável dos detentos. Tal como um Dráuzio Varella, quero ser um médico, mas um médico dos olhos, da estética, dos sentidos. Abrir portas e janelas nos espíritos encarcerados desses homens.
A minha vontade é ser útil.
A minha vontade é ser feliz.
Assinar:
Postagens (Atom)