Começei ontem a leitura de Sexus, de Henry Miller. Simplesmente ducaralho. Primeira parte de uma trilogia iniciada em 1949, intitulada A Crucificação Rosada, esta nova tradução da Companhia das Letras, em suas 50 primeiras páginas, já me marcaram de forma inegável. Aí vai alguns fragmentos:
"O homem escreve para livrar-se do veneno que acumula devido à falsidade do seu modo de vida. Está tentando recapturar sua inocência, mas ainda assim tudo que consegue fazer (escrevendo) é inocular o mundo com o vírus de sua desilusão. Ninguém escreveria uma palavra sequer se tivesse a coragem de viver aquilo em que acredita. Sua inspiração é desviada na fonte. Se é um mundo de verdade, de beleza e de mágica que deseja criar, por que interpõe milhões de palavras entre ele e a realidade desse mundo? Por que retarda a ação?"
"Quando tentamos fazer algo que ultrapassa nossos poderes, é inútil buscar a aprovação dos amigos. Quando você decide testar seus poderes, quando tenta fazer algo novo, mesmo o melhor dos amigos tende a revelar-se um traidor. A própria maneira como ele lhe deseja boa sorte, quando você expõe suas idéias quiméricas, já basta para desanimar. Ele só acredita em você na medida em que o conhece; a possibilidade de que você seja maior do que parece é perturbadora, pois a amizade se baseia na reciprocidade. É quase uma lei: toda vez que um homem embarca numa grande aventura, precisa cortar todos os laços"
"Lágrimas são bem mais fáceis de enfrentar que a alegria. A alegria é destrutiva: deixa os outros desconfortáveis. 'chora e chorarás sozinho' - que grande mentira! Basta começar a chorar que encontrarás um milhão de crocodilos dispostos a chorar contigo. O mundo está sempre em prantos. O mundo está encharcado de lágrimas. Já o riso é outra coisa. O riso é momentâneo - e passa. Mas a alegria, a alegria é uma espécie de hemorragia extasiante, um tipo de supercontentamento insuportável que transborda por cada poro de seu corpo. Não é possível deixar os outros alegres com sua alegria. A alegria precisa ser gerada pela própria pessoa: ou bem existe ou bem não existe. A alegria baseia-se em algo profundo demais para ser compreendido e comunicado. Estar alegre é ser um louco num mundo de fantasmas tristonhos"
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