sexta-feira, 27 de novembro de 2009

pqp, até que enfim caras que concordam que o anticristo do lars é uma bosta


Putz,
demorou, mas encontrei pessoas que concordam com a minha impressão acerca do último filme do Lars Von Trier. Fiquei realmente surpreso ao constatar que todos com quem eu conversava sobre o filme havia gostado muito. Gente que entende de filmes, tipo, achei bem estranho. Como eu ando numa pegada de escrever menos e ler mais o blog dos outros, reproduzo a seguir dois textos retirados do Multiplot (http://multiplot.wordpress.com/)

O primeiro é de Djonata Ramos, e o segundo de Luis Henrique Boaventura.

A internet é legal.

A gente não se sente tão só assim no mundo...

"Vem sendo bradado aos quatro ventos que Antichrist é um filme difícil, e eu concordo. É um filme difícil de assistir. Mas não por ser extremo, brutal, ou demasiado simbólico/ideológico, mas sim, por um motivo bem mais simples… é um filme ruim. A sensação é que o Von Trier se perdeu dentro de si mesmo e de suas idéias, um filme que se sustenta basicamente por sua fama de agressivo, ou metafórico, não pode ser, de fato, muito substancial.

Parece que há uma clara inversão de valores, ao passo que metáforas e cenas isoladas devem – ou deveriam – fazer parte dum todo, senão você apenas elenca separadamente tais qualidades mas ressalta a fraqueza narrativa da obra. É o caso. Aqui temos duas atuações estupendas soterradas por um filme mal conduzido, capenga. É muito fácil dizer que é algo experimental como forma de tentar diminuir a fraqueza narrativa da obra, mas isso é conversa pra boi dormir, uma forma de defender o indefensável. Ser experimental, metafórico (raposa falante, sei, interação com a natureza, isso até Dr. Dolittle é mais feliz, haha) ou ousado, não é sinônimo de qualidade.

E esse papinho de que é um filme pra quem tem cérebro (só os inteligentes podem ver? rá!) é outra tentativa insegura e frustrada de defender um pobre ponto de vista. O cinema é sensorial sim, e pode ser que alguém goste desse filme, mas por favor, não por esses motivos rasteiros e sem se blindar contra críticas – “eu gostei, sou inteligente, você não”.

PS: Por sinal, tem um filme deste ano com a temática similar, mas superior. Grace, de Paul Solet.

Djonata Ramos"


"Falávamos, o Djonata, Robson e eu, nessa tarde de domingo enquanto o jogo não começava, sobre todo esse conceito de filmar pela mensagem, não pela própria imagem instantânea correndo na tela. De deliberadamente fazer de seu filme um dependente sine qua non de algo que o espectador precisa buscar do lado de fora, praticando a subversão da condição mais básica para que um filme seja, afinal, um filme: o prazer pela imagem. Pura e simples. É por isso que quando Von Trier percorre cada fotograma não apenas assumindo que seu filme não está ali, presente na tela, mas exigindo que sua real “apreciação” (ê termo maldito) se dê por uma simbologia externa ao áudio e ao vídeo de momento, ele está inventando algo a que pode dar o nome de qualquer coisa, menos cinema.

Sabe, há algo acontecendo aí fora. OK, você pode ter gostado do filme mesmo que exatamente por essa metaforização-quadro-a-quadro, ou talvez porque julga que ele funcione e muito bem enquanto simplesmente cinema. Nenhuma surpresa quanto a isso, não estou “contra” um eventual e sincero “gostar de Anticristo”, o que seria simplista e absurdo. O caso é que o Von Trier blindou a si mesmo de tal forma que, mais de uma vez, já li internet afora que é preciso inteligência e bagagem cultural para gostar e compreendê-lo. E ainda, que os detratores de Anticristo não possuem estômago ou preferem não ser “desafiados” cinematograficamente.

Desafio pra mim é cantar o hino nacional com a boca cheia de bolacha, já a adjetivação prolixa e vazia, essa produz muitas vezes algumas pérolas da semântica, como partir do princípio de que qualquer termo sonoro carregado de um senso de “maldade” é sinônimo de qualidade imediata e auto-explicativa, tais como “filme ‘incômodo’, ‘brutal’, ‘visceral’, ‘repulsivo’”, como se em algum universo bizarro do outro lado do espelho a forma não tivesse relevância alguma em relação ao conteúdo. É louco isso, e é algo que supostamente era pra estar implícito (tanto que eu me sinto besta só de transcrever aqui): não interessa o que se filma. Um cachorro pode filmar algo digno dos adjetivos que usei ali em cima (2 Girls 1 Cup é um dos vídeos mais chocantes e repulsivos de todos os tempos, e nem por isso eu o coloco num top 10)

O poder está na câmera. Sempre esteve, certo? Dêem uma câmera pro Von Trier e uma pro Spielberg (que parece ser o cineasta-oposto pra esse exemplo). Peça pra que os dois filmem uma mutilação. Peça pra que os dois filmem uma partida de xadrez. Não basta narrar o pincel e se esquecer do pintor, não basta jogar elementos em cena e manipulá-los porcamente, e é isso que ocorre com Von Trier. Jogar ao vento cenas de sexo, violência ou raposas falantes como se os objetos simplesmente se bastassem em si, como se a pedra determinasse qualidade da escultura.

Tudo isso faz de Anticristo uma experiência quase insuportável. E que fique claro que, nesse texto, isso não é ponto a favor do filme, nem que tenha sido “intenção” do Von Trier produzir algo deliberadamente desagradável, o que seria estranhamente conveniente. Uma câmera na mão chatíssima, quadrada, com uma movimentação rápida e convulsa, e uma edição feita com aquela tesoura que a Gainsbourg usa; é como andar num carro velho com suspensão fudida enquanto uma paisagem de merda trepida pela janela.

E o mais legal de se ter o alvará do experimentalismo estampado na testa é que você pode se lixar pra questões de ritmo e narrativa, pode deixar a câmera cair no chão porque, afinal, faz tudo “parte do conceito”. O Robson falou algo perfeito sobre isso naquele chat citado no início do texto; disse que se o filme parte como “experimental” e continua preso ao conceito enquanto é visto mundo afora, a experimentação então falhou olimpicamente.

Aliás, é difícil se convencer de que não se trata de sarcasmo quando Anticristo é classificado por aí como um filme de terror (alguns ainda completam com “psicológico”, eu quase caio da cadeira). Von Trier não tem a menor idéia de como construir tensão, de como manipular atmosfera ou instaurar aquela iminência de perigo que quase te faz sentir vulnerável ao desconhecido ou sozinho no escuro, arma de tantos mestres da linguagem cinematográfica como Bava, Argento, Carpenter, Kubrick, De Palma, Bergman. Aliás, A Hora do Lobo pode ser um paralelo interessante de como realmente se filme o horror mental, porque de fato há essa certa diferença básica entre fazer uma porra WTF foda pra caralho, tipo Lynch, e fazer uma porra WTF que não passa de uma simples porra WTF, tipo curtas experimentais universitários pretensiosos e pedantes.

O cinema é efêmero. Vive de um quadro que se acende na tela, de um ângulo ou de um movimento em que a luz estava de determinada forma, e que agora já faz parte do passado. É som e imagem feito água corrente, e é a este tempo presente e incapturável que a arte de comunicar pertence, fotografando os sentimentos e os deixando adormecer na memória. A partir do momento em que seu filme falha enquanto é luz transcorrendo na tela, ele falha enquanto cinema, e não serve nem pra estar ao lado de um documentário da vida animal na prateleira da locadora.

Luis Henrique Boaventura"

Rárárá, chupa Lars!!!

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