terça-feira, 8 de setembro de 2009

sobre aprendizado e superação de si

"Tão logo expressamos uma coisa com palavras, e estranhamente ela como que se desvaloriza. Pensamos ter mergulhado no mais fundo dos abismos, e, quando retornamos à superfície, a gota d´água que trazemos nas pálidas pontas dos nossos dedos já não se parece com o mar de onde veio. Imaginamos haver descoberto uma mina de tesouros inestimáveis, e a luz do dia só nos mostra pedras falsas e cacos de vidro. Mas o tesouro continua a brilhar, inalterado, no fundo escuro."
Maurice Maeterlinck

Às vezes, quando estou quase cochilando, entro num estado transitório entre sono e vigília, o que me permite recordar eventos que minha memória tem dificuldade em recuperar com as vivas cores da consciência. Tão logo eu desperto, essas delicadas recordações se esfumaçam , me permitindo apenas o gosto indeterminado de sentimentos perdidos, e que dificilmente consigo recuperar.

São nesses momentos narcolépsicos que eu me lembro daquela época em que eu tinha meus 15, 16 anos. Época de muita dor, muita solidão. Às vezes ficava quase uma semana inteira sem conversar com ninguém. Mas eu era um menino sempre otimista, sempre alegre. Me lembro de ler muito, ver muito filme, conversar muito com Deus. Eu me lembro de pedir a Deus uma namorada que viesse preencher meu vazio. Me recordo frequentemente dos meus amores platônicos. Eram verdadeiros. E me causaram tanta dor e sofrimento.

As pessoas brincam, dizendo que bonzinho só se fode. É uma coisa verdadeira, mas não tem graça nenhuma. Mas as pessoas que não são boazinhas também se fodem, essa é a condição humana. A de sofrer um sofrimento que não tem sentido. A angústia de não existir sentido algum para o sofrimento.

É na adolescência que nos damos conta que somos seres doentes. Como aquele personagem do Memórias do Subsolo, do Dostoiévski. E seres desesperados, como o Raskólnikov, de Crime e Castigo. É o preço da civilização: a doença. Na época, imaginava que este estado angustiado era inerente ao ser humano, que era necessário sofrer, que Deus assim desejava. Não havia saída, só a esperança que algum dia uma linda garota me resgataria daquela vidinha triste e vazia. Mas, como já disse, eu era um menino alegre. Eu me achava feliz. Talvez realmente fosse.

Dois livros lidos depois dos 20 resgataram alguns destes sentimentos: O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger, e, de forma bem mais profunda e metafísica, O Jovem Törless, de Robert Musil. Grandes e perturbadores romances, sobre o absurdo terrível que é a adolescência.

[eu então pouso as mãos sobre o teclado e me perco em pensamentos que não consigo ao certo precisar, mas que margeiam acerca do absurdo terrível que é a vida]

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