quarta-feira, 28 de julho de 2010

blá blá blá de início de tarde...

Ontem eu terminei de ler o roteiro do Cortina de Fumaça, escrito por Paul Auster em 1990, e dirigido por Wayne Wang. Quem não assistiu, faça um favor a si mesmo, assista. Um filme deliciosamente humanista e humano. Estou bem ansioso pra ler o novo romance dele, o Invisível, lançado esse mês. Agora só preciso terminar de ler o Jimmy Corrigan - O Menino Mais Esperto do Mundo, que acabou demonstrando ser uma leitura bastante árdua, mas muito prazerosa. Ando pensando muito nessa capacidade de alguns romancistas em criar histórias. Auster é um deles. Histórias curtas e incríveis. Daquelas que deixam a gente cabreiro por muito tempo depois de lê-las. Talvez um dia eu também consiga fazer isso. Talvez.

***

Ontem eu estava plastificando uns dvds lá no trabalho, e botei um dvd da Björk pra embalar a função. Foi então que começou o videoclipe do Bachelorette, dirigido pelo Michel Gondry, e, pela primeira vez, me dei conta de onde surgiu a idéia do Charlie Kaufman pra fazer o Sinédoque Nova Iorque.

Eu me explico. Os dois são amigos. Em 2001 o Kaufman escreveu o roteiro do Natureza Quase Humana, e o Gondry dirigiu. Em 2004 o Kaufman escreveu o Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças pro amigo Gondry dirigir. E então, me parece que o Kaufman viu e se identificou muito com a idéia que o Gondry teve pro clipe da Björk, em 1997.
A idéia da representação da representação da representação. O que não é uma idéia tão original, mas visualmente, pelo que me lembro, é uma idéia concretizada por poucos. Enfim, vejam o clipe, comparem com o filme e tirem suas conclusões





***

Dando uma espiada no blog do Romano, achei essa notícia que me pareceu por demais bizarra. Pra quem viu Little Mis Sunshine e ficou chocado com aqueles concursos mirins, pretextos bizzaros pra pedofilia explícita, taqui o que rola no nosso Brasilzão. Só falta agora dar um toque no Datena, pq mais pedófilo que isso, bem, acho difícil.

Vencedoras vão representar o país no
Miss Nações Infantil, que acontece em agosto
(Foto: Divulgação)

Candidatas do Paraná e de Rondônia venceram, no domingo (18), as três categorias do Miss Brasil Infantil 2010. A final, que segundo a organização contou com mais de 50 candidatas entre 5 e 13 anos, ocorreu em Santa Catarina.

Comente esta notícia

Alana Tramontin, 6 anos, de Ponta Grossa (PR), venceu na categoria Mini Miss Brasil. Já o título de Miss Brasil Infantil ficou com Amanda Góes, 10 anos, de Porto Velho. Thaisi Dias, 13 anos, também de Porto Velho, venceu na categoria Miss Pré-Teen.

As vencedoras vão representar o Brasil no Miss Nações Infantil, concurso internacional que acontece entre 23 e 30 de agosto, em Curitiba.

***

Vi ontem o Nossa Vida não Cabe Num Opala, dirigido pelo Reinaldo Pinheiro, baseado na peça do Mário Bortolotto. Achei o filme meio decepcionante. Alguns atores brilham muito, como o Milhem Cortaz, o Jonas Bloch, e mesmo a mini participação da Dercy Gonçalvez (na melhor cena dos últimos 300 anos). Mas o Peréio foi desperdiçado, assim com a Marília Pêra e Maria Luisa Mendonça. O Leonardo Medeiros, que na minha opinião é um dos atores mais sólidos do cinema brasileiro, está muito perdido. Uma espiadinha no incrível trabalho de direção do Selton Melo no Feliz Natal mostraria um caminho bem mais interessante pra esse personagem. Enfim, entendo o texto funcionando muito bem no teatro, mas não funcionou no cinema. Há um clima fake desde a primeira cena do filme, e infelizmente é um incômodo que fica durante todo o filme. E a conclusão é fraca, fraca demais. Embora seja muito pessimista e pesado, tenso como poucos, parece forçado. Mesmo sendo crível, soa falso.

Uma pena.
Poderia ter sido muito melhor em mãos mais seguras.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

sobre machete e o cinema de mentirinha

Ontem eu assisti ao último filme do Alain Resnais, Ervas Daninhas. Filme maravilhoso, sublime, de uma leveza rara e surpreendente. Certamente foi um prazer pra esse veterano da Nouvelle Vague fazer o filme, assim como é puro prazer assisti-lo.

Mas quero agora falar de um outro tipo de cinema. De um tipo que, embora não tão respeitado em círculos intelectuais quanto um Almodovar, um Haneke ou um Fatih Akın, é tão merecedor de crédito quanto qualquer um desses. Estou falando dos filmes B, ou, como gosto de chamar, dos filmes de mentirinha.

Estou falando daqueles filmes do Van Damme dos anos 80, que eram uma merda, mas que faziam a cabeça da garotada. Me lembro de assistir ao Grande Dragão Branco, e sair na rua pra brincar de lutinha. Toda a molecada tinha assistido à Temperatura Máxima no domingo a tarde, e todos tentavam imitar o Van Damme. E tem os filmes do Steven Seagal, que é um ator incrível, pois tem uma expressão só. É a mesma cara pra demonstrar ódio, ternura, desconfiança e desejo. Genial. Isso sem falar nas podreiras do terror. Puxa, como era divertido ir na locadora e ficar horas olhando as capinhas dos filmes na sessão de terror, imaginando qual daria mais medo. Me lembro que duas me tiravam o sono: a do Rato Humano, um filme espanhol que tinha uma capinha terrível, e o Bebê Maldito, que trazia um bebê maldito na capinha.

E tem os filmes de zombie que eram difíceis de conseguir, hoje é bem mais sussa. O cine trash e o cine sinistro, da Band. A sessão kickboxer, que passava as terças, sempre com um novo filme do Jet Li, ou algum John Woo de início de carreira. Enfim, toda essa gama de sploitation, filmes que dispensavam a enrolação e mostravam logo o que importava: violência, sangue, explosão, mulher pelada e muita porrada. Parece bobo, mas o cinema é o espaço das imagens. O cinema nasceu silencioso, feito apenas para os olhos. Se não houver o prazer dos olhos, qual o sentido?

E então chegamos ao lançamento mais aguardado de 2010 (junto com Os Mercenários, do Stallone). Machete, de Robert Rodriguez, um filme que nasceu de uma brincadeira feita para o projeto Grindhouse, mas que foi tão aceito que acabou virando filme de verdade.


Resgatar Steven Seagal para uma nova geração de fãs de tranqueiras foi uma puta idéia genial. O Robert deNiro deu dignidade ao projeto. A Lindsay Lohan pra mim é uma surpresa incrível. Ela deveria largar logo essas comediazinhas bestas e partir pra esse tipo de cinema feito pra cinéfilo e pra gente com problemas mentais. É muito mais o rolê dela (neste momento ela provavelmente ainda está em cana).

Enfim, esse é um dos filmes que exigem ser vistos no cinema. Pra lembrar a todos que cinema também é feito pros olhos e pros instintos.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

sobre autoconhecimento

Já ouvi muito sobre o meu egoísmo.
É algo que eu ainda não sei lidar bem.

Mas por ora eu acho que ainda tenho muito o que pensar sobre eu mesmo.

Neste último final de semana, fui com a turma do bujutsu pra Sousas, fazer o gashuku. Gashuku é o nome que se dá ao treinamento feito fora da academia, do local tradicional de treinamento. Foi muito bom, e acredito que um dos pontos fortes tenha sido o fortalecimento da união do grupo. Pra mim não foi uma jornada de fortalecimento pessoal, mas de me sentir mais forte e mais útil dentro do grupo. É foda pq esse é um dos pináculos do fascismo, mas é inegável que é bom se sentir parte de um grupo unido.

Enfim, quero falar sobre a carga que as pessoas levaram pro gashuku.
A maioria levou uma pequena mochila, somente com o essencial.
Eu, por minha vez, estava com minha mochila de acampamento, gigantesca e abarrotada de coisas. O Júlio, nosso Sansei, ao ver o tamanho do meu fardo, disse algo que me fez pensar por muitos dias:
"O volume de coisas que se traz para o gashuko diz muito sobre nós mesmos. O quanto de peso nós carregamos no nosso dia a dia. A carga diária que nós carregamos".

Justo.
Eu não me desfaço de nada.
Coleciono brinquedos velhos, compro livros e dvds compulsivamente, guardo roupas velhas que não tem mais condições de uso. Tenho receio de me desfazer de antigas amizades, mesmo que não sejam tão especiais assim. Carrego meus relacionamentos fracassados comigo, e os revivo constantemente na memória.

A mochila que eu carrego na vida é pesada.
Muito pesada.

Não sei se eu devo mudar ou não.
Afinal, é assim que eu sou, eu gosto disso.

Como já bem me disseram, essa é uma característica minha.
Não significa que seja necessariamente boa ou má.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

sobre o vazio que me consome

A questão é:
porquê continuamos todos metidos nessa caverna? (sim, estou falando da do Platão)
Sério. Tipo, é evidente que nada do que se faça leva a nada. Então pq não se libertar?
Pq não soltar as amarras e ir embora? Pq continuar martelando se não faz a mínima diferença.

Tenho certeza que uma hora vai explodir.

Ah vai...

um cara foda de verdade

quarta-feira, 21 de julho de 2010

mais tarja preta

Eu era um garotinho de 19 anos, extremamente tímido e introspectivo. Cinéfilo, estudioso, virgem, nunca havia fumado e nem tomado qualquer tipo de bebida alcoólica. Foi então que ela surgiu e, por algum desses motivos inexplicáveis, se interessou por mim. Ela tinha 24 anos e um carro, era loira e havia terminado seu noivado a poucas semanas. Era o tipo de garota que, quando chegava a qualquer lugar que fosse, seja desde uma balada até um colsultório odontológico, arrancava olhares de "gostosa!!!". Era realmente uma beleza constrangedora para a minha timidez. Enfim, saímos. Acordei com uma puta ressaca pela bebedeira. Na segunda vez, fumei meu primeiro cigarro já pegava as manhas de dominar as conversas pra me impor. Na terceira vez, não era mais virgem.

Numa das vezes que saímos, me lembro que foi numa balada em Sousas, eu mais uma vez tentei em vão acompanhá-la no copo. Eu era apenas um iniciante, enquanto minha companheira ostentava o mais destacado título de ébria. Disse então a ela que iria ao banheiro. Comunicado extremamente necessário, dado que a menina era ciumentíssima. Embora ela me dissesse que toda a vez em que eu saía pra buscar cerveja no balcão apareciam pelo menos 5 pra xavecá-la, o meu ciúme era quase inexistente perto da fúria que dominava aquele corpo apetitoso.

Enfim, saí pro rápido xixizinho. Mas aí eu encontrei um tiozinho no banheiro, que vendia cigarros de vários sabores. Curioso que era, passei a trocar idéia com o figura. Comprei até um de seus cigarros exóticos. Pensei "ela vai gostar". E na frente do banheiro havia um tipo de sofá, atraente demais pras minhas pernas cansadas daquele putzputz fatigante. Sentei e fiquei brisando na sorte que eu tinha, por ser um sujeito tão mané e estar num lugar desses com uma mina tão massa.

Enfim, vc que tá lendo esse post já se ligou que eu passei tempo demais na porra do banheiro, né. E é evidente que vai dar merda.

Pois bem, volta ao encontro dela. Chego repleto de boas vibrações, oferecendo o cigarro exótico comprado do mercador do banheiro. Ela me olha com uns olhos faiscantes, agarra o cigarro e joga no chão "Onde caralho vc tava?!?" "No banheiro" "Seu cu. Faz dez minutos que você saiu. Tava pegando alguma vagabunda, né!" "Que?!?" "E ainda acha que eu sou idiota! Quem é a filha da puta?" "Mas eu tava no banheiro, só parei pra descansar..." "Ah, vai se foder, cansei!". E então ela agarra o braço da amiga vai pro banheiro, e eu fico ali, com aquela minha melhor cara de bobo, sem fazer a mínima idéia do que fazer. Depois ela volta, apenas semi-brava, e diz algo sobre eu ter pelo menos alguma consideração e não deixa-la sozinha por muito tempo.

E então ela bebeu. E bebeu mais.
E a amiga dela bebeu muito também.
E daí não tinha mais ninguém na balada, além delas e dos seguranças.
Os seguranças já estão putos, e a mulher limpeza diz que há duas bêbadas desmaiadas no banheiro feminino. Os seguranças levam as duas pra fora da casa. Desmaiadas.
Minha cabeça está em chamas, tamanha vergonha.
Um segurança, um negro gigantesco, pergunta: "Essas duas tão com você" "Sim" "Pô cara, fala pra elas maneirarem. Toda a semana é a mesma coisa. Desse jeito elas não entram mais aqui" "Tá, eu digo" "Você sabe dirigir?" "Não" "Não sabe dirigir!?!" "É, ainda não tirei carta".

E então a minha embriagadíssima acompanhante começa a recobrar os sentidos. E se dá conta que sua amiga está quase sem respirar. "Fudeu, ela teve coma alcoólico". E então, magicamente ela desperta e vai buscar o carro. Eu carrego a amiga para o carro, acomodando seu corpo no banco traseiro. Na hora eu penso que posso ter um cadáver no meu colo. Enquanto dirige loucamente em direção a um hospital, ela olha pelo retrovisor e pergunta, com voz brava "Ei, você não tá se aproveitando da minha amiga aí atrás não, né??" "Como assim se aproveitar? A menina tá quase morrendo e vc acha que eu vou fazer alguma coisa?!"

Enfim, chegamos ao hospital.
A amiga dela tomou soro.
Todos foram pra casa dormir.

Naquela época eu pensava que todas as mulheres eram assim.

Confesso que sentia um pouco de medo.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

sobre as que tomam conhaque, tomam cachaça e quebram cadeira

Hoje de manhã, enquanto limpava o bar, me lembrei de um acontecimento passado. Isso acontece as vezes. De forma súbita, sem que eu esteja me esforçando minimamente para me lembrar do que quer que seja, uma memória enterrada acaba ressurgindo, trazendo ao presente personagens que eu até tinha me esquecido que passaram pela minha vida.

Enfim, me lembrei da quinta série. Eu era uma criança crônicamente tímida, os mamonas assassinas estavam no curto auge de seu sucesso e a Paulinha era o centro de todo o universo. Bem, na real a Paulinha era uma baixinha de dentes tortos e voz irritante, mas enfim, eu gostosa dela, é assim que funciona.

E tinha uma loirinha chamada Kelem, que morava na favela lá de baixo, e que às vezes olhava pra mim de um jeito estranho. Bem, um dia, no recreio, os moleques que eram meus amigos começaram a cantar o Vira-Vira dos mamonas. E daí o Ricardo disse que ia cantar a minha música: "fui convidado pruma tal de suruba, não pude ir, Paulinha foi no meu lugar..." e caiu na gargalhada. Todo mundo riu muito, e eu fiquei roxo que nem uma beterraba.

Algum tempo depois, na sala de aula, a Kelem se aproxima de mim, bufando, com aqueles olhos fulminantes e encolerizados: "Tô sabendo da sua música. Então quer dizer que você chamou a Paulinha pra uma suruba!"

Eu fiquei absolutamente sem reação. Então ela, de cara fechada e mãos na cintura, deu meia volta e retornou ao seu lugar. Eu não tinha condições de lidar com aquilo.

Hoje eu estou no penúltimo ano da faculdade e ainda não sei lidar bem com isso.
Mas são essas mulheres que estão sempre permeando a minha vida.
Não garotas passivas.
Ou pacientes.
Desinteressantes.
Porque as mulheres da minha vida são bravas. Elas explodem. Querem um pedaço do meu couro. É assim. Já estava claro, desde cedo, que o meu tipo de mulher eram as loucas, as histéricas, as desequilibradas.

Mulher boa é mulher tarja preta.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

sobre o vazio e o gato de botas

Era sábado e eu estava triste.
Não mais triste que nos outros dias, mas triste o bastante pra me incomodar com aquela melancolia amarga. Vontade de nada, cansaço, desesperança. Um bocado de falta.
No intervalo do trabalho eu saí, fui ao macdonalds, comprei o maclanchefeliz e ganhei um gato de botas. Vc coloca a capa nele e ele fala uma frase. Quando a capa é retirada, ele diz outra frase. Fui invadido por um contentamento. Eu sorri. E então gargalhei. Tive um resto de noite agradável.

Ok, vamos lá.
O que eu fui fazer no macdonalds?
Será que eu fui comprar um lanche pra saciar minha fome?
Será que o macdonalds existe pra saciar a fome das pessoas?
Não acho
Eu fui pra lá buscando outra coisa. Estava em busca de amparo. De algo que me fizesse não pensar no absurdo que é estar vivo e inserido no esquema da sociedade. Estava desesperado por algum alívio, mesmo que fugaz. E foi isso que eu encontrei, pela bagatela de doze reais.

Posso parecer exagerado, mas garanto que não. Veja só: nós nascemos e crescemos e nesse percurso vamos acumulando diversas frustrações. As frustrações servem de aprendizado. Mas pra quê? Pra quê, se vamos morrer. Morte, quer dizer que no fim todos vamos tomar no cu. E não tem céu, Deus não vai salvar ninguém. Morreu e acabou. Milhões se agarram na idéia de que haverá um paraíso para o seu grupinho, mas isso é besteira, invenção pra justificar o fato de que nós nascemos para morrer. O ser humano nasceu para morrer. Nossa vida culmina no nada. É pra isso que vivemos. Para o nada.

Se a vida fosse repleta de delícias e realizações, cheia de alegria e gozo, bem, ótimo, seria legal se divertir pra depois dizer adeus a tudo. Mas há o sofrimento. E não é pouco. Além do sofrimento cotidiano proporcionado pelo trabalho, pela rotina, pelos amores fracassados, há a dor mais profunda e séria, aquela angústia que sentimos ao nos darmos conta de que a vida não tem objetivo algum. Dá desespero. Dá medo. Não é coisa pra criança, é um troço sério.

É o conhecido sofrimento pela falta de sentido.
E quando a lucidez entra em cena, e vc se toca que não há um Deus que recompensará todos os seus esforços e todos os sofrimentos terrenos, começa o pior, que é a falta de sentido do sofrimento. Não há nada que justifique o sofrimento. Viver é sofrer, e no fim vc morre, e não há recompensa. Simplesmente acaba.

Não há dia ou noite em que eu não pense nisso.
As vezes a tristeza é grande demais.
E então eu vou ao shopping, um lugar feito exclusivamente para fazer com que as pessoas não pensem na falta de sentido da vida. Ou eu vejo tv, que serve pra distrair, fazer pensar menos na falta de sentido do sofrimento. Essas coisas botam uma certa ordem provisória no mundo. De forma precária, mas funciona bem.

E quando dói demais e eu sinto que vou chorar, vou ao mac pra comprar um lanche e ganhar um brinquedo. E finjo que a dor não está dilaçerando o meu coração carcomido.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Estou no balcão, terminando de atender um cliente. A Didi me chama no escritório. Vou pra lá e ela está no computador. Me diz animadíssima:

"vê isso aqui"

Então ela me mostra o trailer do Tropa de Elite 2

"E aí, gostou?"
"Pô, meu braço até arrepiou. Fodão"
"Ai, eu adoro esse filme"
"Ah, o filme é bom, mas me faz muito mal. A última vez que eu assisti me deu dor de estômago. Eu acho meio complicado pq algumas pessoas gostam do filme por motivos bizarros, acham o Nascimento um herói, sei lá, acho meio zuado"
"Ai, eu adoro. Quando ele chega e fala 'não vai subir ninguém', ui, que tesão de homem"
"hahahahahahha"
"O Wagner Moura é uma delícia. E a galera começou a perceber isso depois que ele fez aquela novela, que ele namorava a Bebel. Você viu essa novela?"
"Putz, não vejo novela faz muito tempo. Mas sei de qual vc tá falando"
"Então, nossa eu lembro que eu via a novela só pra ver esse homem. Aliás, a novela fez sucesso por causa dele. Will, eu ficava doida com o jeito cafajeste dele, o jeito que ele olhava pra Bebel. Adoro homem safado"
"Ah, eu sempre fui um cara bonzinho demais e só me fudi. Então decidi ser um pouco safado, e foi por esse motivo que eu perdi minha namorada. Me fodo de qualquer jeito mesmo"
"Ah, mas tem que ser safado comigo, não com as vadias"
"É, faz sentido"

******

Ah, e pra todos os meus leitores que ainda não viram o trailer, taqui:
(lembrando que o Padilha não é qualquer um, então o filme será tenso. E vai render mais milhões de discussões, debates e brigas. Dahora!)

terça-feira, 6 de julho de 2010

sobre os velhos, inigualáveis e inesquecíveis desenhos da minha infância

Estou na G8A e acabei de assistir ao 'Revolver' do Guy Ritchie. É sem dúvida seu filme mais espiritual. Faltam 15 minutos pras 4 da manhã, e eu tenho medo de deitar e não dormir logo de uma vez. Faz algumas semanas que o sono demora a vir, e nesses interminávis minutos em que eu afundo a cabeça no travesseiro, pensamentos ruins de puro deletério minam toda a minha força, me deixando ruim o bastante pra ter sonhos que não deveria estar tendo durante quase que a noite toda. Tenho pouco tempo livre, mas o pouco que me resta já é o bastante pra amargar um sofrimento batido e doído. Com a distância do tempo, a dor não diminuiu. O tempo só fez com que eu entendesse melhor o quadro todo. Não vejo mais a foto, mas o filme. A cada dia que passo eu vejo mais. E a cada dia é pior. Dói mais. Cada vez mais fundo e forte.

Enfim, deveria ir dormir, mas resolvi fazer este post que já queria fazer a tempos.

Quero falar sobre alguns desenhos da infância, principalmente os da cultura. Graças ao youtube, dá pra entender o pq a minha geração é formada por uma galera tão foda, enquanto essa molecada de hoje se mostra cada vez mais bundinha. Na minha época adolescente rebelde fazia moicano e enchia a cara de vinho barato no centro. Hoje os rebeldes são emos e choram em seus fotologs e twitters. É a pura decadência.

Aqueles que nasceram em algum momento dos anos 80 puderam testemunhar produções destinadas ao público infantil que tinham por principal característica a criatividade e a experimentação. Se hoje eu sou um grande admirador de quase todas as cinematografias do mundo, devo à educação feita pelos desenhos, principalmente os exibidos na cultura.

Enfim, deixa eu falar sobre alguns deles.


Aqui está a abertura do glub glub, de 1991, apresentado por dois peixinhos com faces humanas. Me lembro de ficar apavoradíssimo quando meu pai ia pescar, pois eu tinha medo que ele pescasse o glub ou a glub. Vários desenhos europeus foram exibidos aqui.


Esse é o Jimbo, o jatinho.


Aqui é o Bouli, o bonequinho de neve (mano, quase chorei quando ouvi a música de abertura depois de quase 20 anos!)


A Rua dos Pombos, onde sempre tinha uma histórinha que ensinava uma boa ação/maneira, e que tem uma música ótima de abertura.


Agora, Arrume Tudo e Pare com Isso eram incomparáveis. Me lembro de tentar decorar todos os personagens apresentados na abertura, mas nunca conseguia. E é claro que o que eu mais gostava era o grande e briguento Eu Disse Não! haushushshsh


Ernest, o vampiro, que sempre tinha uns sonhos cabulosos.


Bojan - eu viajava nas cores e no poder da tinta.


Esse era um dos meus favoritos. Stop Motion é já pirava meu cabeção - muito antes do Jack do Burton.


Mais Stop Motion, com Os Dois Heróis. A menina que aparece no início, cara, ela tava muito guardada na memória!


Daí, saindo um pouco do esquema do glub glub, tinha um desenho bancado pela unicef que era curtinho, mas muito bacana, Meena. Esse vídeo tá bem ruim, mas foi o único que eu consegui.


E quem poderia esquecer o Pedra dos Sonhos, que tinha o personagem mais legal de todos os tempos, o Biruta.


E tinha o Cobi, um desenho espanhol feito especialmente para as Olimpíadas de 1992.


E então chegamos ao programa que deu um sentido convincente ao mundo. Pra mim foi tão importante quanto a descoberta da Bíblia. Estou falando do Mundo de Beakman.


E então o melhor seriado desde sempre, Anos Incríveis. Pois é, desde cedo já me mostravam que o Kevin Arnold não pode ficar com a Winnie Cooper, e, por extensão, que o amor é uma quimera.


E então, o desenho mais bonito, mais classudo, tocante, brutal, honesto, tenso, o mais fodão entre os fodões. No fim da saga, ninguém sobrevivia. Todos os bixos que você aprendia a amar na série morriam, alguns subitamente, outros após longas agonias. A segunda parte tinha fortes ecos Shakeasperianos. Enfim, de uma qualidade absurda e inimitável.

E pra terminar, vou botar a abertura da novela mexicana mais importante da minha vida. E nem ligo que ela não é um desenho da cultura, pq afinal esse blog é meu e eu boto aqui o que eu quiser. Senhoras e senhores, a nostalgia encarnada: Carrossel.


Senhoras e senhores leitores deste infame blog, muito obrigado pela atenção de vocês. Agora faltam 10 minutos para as 5 da manhã, e, se me dão licensa, vou me deitar e tentar dormir, na esperança que meu coração não traga lembranças boas pros meus sonhos, e foda com toda a minha noite mais uma vez.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Scarlett Johansson & Eu - 2

Estou deitado na parte de cima da beliche, cochilando triunfalmente após a entrega dos últimos trabalhos deste desastroso primeiro semestre. A Trip deste mês, edição temática sobre futebol, jaz ao meu lado, aberta na página onde começa a matéria sobre um time brasileiro formado somente por anões. Sou desperto pelo celular que se esconde debaixo do travesseiro, vibrando e me deixando em vigília.

"alôu"
"Oi Will"
"Oi lindinha, tudo bem?"
"Tudo ótimo. Então, tô aqui no Ademir. Aparece aí pra gente conversar um pouco e tomar uma ceveja"
"Dá uns 15 minutos que já tô aí"
"Vou conferindo se essa Brahama tá boa mesmo, beleza. Vem logo"

Caramba, não sei se fico mais surpreso por já ser sete da noite ou porque a Scarlett Johansson está me ligando pra tomar uma cerva no bar em frente da moras. Levanto e boto minha calça preta, meu nike, meu relógio do corinthians, minha camiseta verde do kill bill e vou pro Demir.

Ela está a minha espera, com as mãos cruzadas e olhar vago. Quando me vê, os olhinhos se acendem com uma doçura loura impossível de ser comparada com algo que exista neste plano terreno. Seu queixo triangular se erge e um sorriso iluminado é aberto, de uma beleza tão irresponsável que ignorava toda a dor e miséria do mundo.

"tudo bem, lindo?"
"tudo, gatinha. O que tá fazendo por aqui?"
"Ah, acabei de sair de uma filmagem exaustiva e precisava desesperadamente de uma cerveja. E vc sabe que eu adoro a porção de calabreza do Ademir"
"é, nisso vc tem razão"

Pedimos mais uma skol e uma porção de calabreza. Com molho de alho.

"Will, que cara é essa? Aconteceu alguma coisa?"
"Nada, é que acabei de acordar. Sonhei que meu pai tinha um filho com uma outra mulher. Daí ele abandonava a minha mãe e tal. Acordei mó na bédi"
"Que droga. Liga pra sua mãe. Talvez seja um sinal e vc precise falar com ela"
"É vou ligar mais tarde"

Dou o primeiro gole e sinto aquele familiar prazer inenarrável.

"E como é que tá o coração?"
"O coração? Hahahahah, uma bosta, mas tá bom, né. Ando me mantendo ocupado, então isso ajuda a desviar um pouco a minha atenção"
"Ainda dói?"
"Ah, sim, dói bastante. Sempre. Quando acordo, quando trabalho, quando vejo um filme, quando sonho. Não dá pra apagar alguém da memória. Acho que isso vai ficar martelando pelo resto da minha vida, talvez com uma intensidade menor, mas vai"
"É, sei como é isso. A gente tem a mesma idade, né Will, e às vezes me dá um medo deste cemitério que eu estou criando no meu coração. Cada relacionamento desfeito é um alguém que eu preciso enterrar e tentar esquecer. Com o passar do tempo, o número de ex-amores só aumenta. Será que um dia isso vai parar?"
"Boa pergunta..., boa pergunta"

O Ademir chega com a calabreza acebolada com molho de alho e algumas fatias de pão. Sentindo aquele delicioso aroma, percebo que estou com muita fome. Pedimos mais uma cerveja pra acompanhar o jantar.